Nunca
soube o que era o amor, acreditava nas gaivotas em papel da minha
infância, recordo o triciclo enferrujado, o boneco estúpido que
apelidei de “chapelhudo”..., que parvalhão apelidava o seu fiel
amigo de “chapelhudo”, eu, claro,
As
palavras misturados entre orgasmos e flores, gemidos cirílicos
suspensos nas andorinhas em flor,
Eu?
Nunca,
O
amor,
Poemas
escritos debaixo da embriaguez
Freguês?
Nem
uma modinha habita na minha algibeira, e o amor sossegado debaixo de
uma mangueira, crescia, brincava e...
Nunca,
E
embrulhava-se na timidez de um novo dia, e lentamente, os meus ossos
alimentados pelos sulcos solitários da noite, a barriga crescia-lhe,
é menino? Menina?
Freguês?
Eu,
simulador de voo quando as estrelas dormem, e habita na minha
algibeira uma película fina de desejo,
O
que é o desejo...!
Não
Nunca
soube o que era o amor,
Não
pai, não pode ser,
A
vida é viver, um dia, dois dias, um quatro de dia..., percebes?
VIVER...
E
amar?
Não
sei, meu pai, não... sei,
O
frio entranhava-se-lhe nos ossos fictícios de pequenas partículas
de desejo, António inventava fogueiras no olhar, esfregava as mãos
como se de um reza se tratasse, mas não, a rua deserta deixava-lhe
suspenso nos ombros um fino silêncio de noite, imaginava vãos de
escada em cada esquina, desenhava na geada pequenos quadrados,
depois, de pé ente pé saltitava como a queda de uma folha,
Um
cigarro adormecia-me a alma, reclamava ele quando dois adolescentes
se abraçaram a ele
E
ele?
Incrédulo,
Vocês.
Aqui?
Sim,
pá, nós aqui,
António
florescia, António corria calçada abaixo até ao rio, sorria... e
regressava,
Não,
Não
acredito que os meus irmãos estejam aqui, comigo, só nós,
Não,
Um
cigarro, tem lume? Que não, que não,
Vocês
aqui...
Meus
Deus, tanta solidão, frio, fome...,
Foste
tu que quiseste, ou não?
E
António fulminava o irmão Miguel com as pálpebras inchadas,
Eu é
que quis...!
Quase
como lâminas afiadas, depois, o acordar da cidade, os primeiros
automóveis do dia, depois os últimos bêbados da noite, e depois
Não,
não acredito,
Os
Primeiros cheiros de Lisboa,
O
fumo argamassou todas as palavras... Meus Deus, vocês aqui...
O
amor é uma noite escura, imagens tridimensionais vagueiam nos teus
seios de Inverno, a geometria do prazer inventa-se,
E
transforma-se em películas de desejo, o corpo vacila, sente a
tempestade íngreme do desespero, amanhã não há madrugada,
amanhecer, horas, sorrisos... e beijos,
O
amor?
Uma
parábola esquecida no mural de xisto junto ao rio, lá longe os
barcos embalsados, aqueles que ninguém ama, quer...
Geometria,
equações trigonométricas com odor a poesia
Possível
E no
entanto o amor é uma noite escura, sombria, habitada pelo medo da
paixão, uma rua, uma avenida... e embriagados transeuntes olhando
monstras desertas, as insinuações acomodadas do dia, sentado, de
pé... correndo,
Escrevo
palavras para não morrer, e o amor é uma noite escura, imagens,
retratos, e... e quadros desconexos,
Avenida,
Sem
sentido,
Correndo
Possível?
Correndo
sobre as tempestades de areia, e acordo sobre a imensidão do
impossível, dos amargos lábios do poema,
Palavras,
Mortas...
encaixotadas nos teus lábios...
(texto
de ficção)
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Janeiro/2015