O desejo é uma equação de
sono, é um silêncio esquecido na almofada, é poema vandalizado pela solidão, o
desejo costuma viajar em primeira classe, é pertença do Universo; desejar e,
ser desejado.
O desejo sente-se,
apalpa-se como um seio seminu dançando sobre o mar, o desejo escreve-se,
ergue-se cedo, o desejo suicida-se, por vezes, num leito adormecido, o desejo
percebe as sombras nocturnas de um outro desejo, o desejo é desejar, é correr,
é amar, o desejo espelha-se na madrugada, vai à janela e, fuma o seu primeiro
cigarro.
O desejo é livro de
poesia, é mulher sentada, de perna cruzada, o desejo pinta-se, o desejo
afoga-se, às vezes, na boca de um beijo. O desejo é maldito, o desejo é
sacerdote, é religião, é engenheiro, é poeta, o desejo vê-se quando chove,
porque os pássaros também são o desejo; o desejo de voar.
O desejo sobe a montanha,
procura o primeiro abrigo e, deita-se. Fuma o primeiro charro, escreve no chão
o poema envenenado que ficou em cima da mesinha-de-cabeceira, era ontem, hoje,
hoje não desejo
Desejar que ele ou ela o
deseje.
Ouvem-se as manhãs
embalsamadas junto ao rio, os barcos veleiros procuram o desejo, o vento que os
leve para a cama do desejo, há canções de revolta, há silêncios presidiários
nas mãos do desejado e, as coxas fluem como brasas suspensas na fogueira, há um
pequeno gemido, um pequeno latido e,
O mar entra dentro dela,
absorve-a, come-a.
E de tantos desejados, há
um poema livre, revoltado, há um poema em cada milímetro de espuma do teu
corpo, sabendo que o teu corpo desejado, apenas pertence ao teu desejo. Desejas
que te desejem; antes de adormecer, três pequenas drageias de sono, dois gramas
de uivos, três pilhas e um cobertor,
Há mais desejo, amanhã,
porque hoje a noite é de tempestade.
O desejo é uma equação de
sono, é um silêncio esquecido na almofada, é poema vandalizado pela solidão, o
desejo costuma viajar em primeira classe, é pertença do Universo; desejar e,
ser desejado, o desejo é uma pobre canção, melodia da madrugada, o desejo é opção,
é palavra cansada, o desejo, às vezes, perde-se no leito da alvorada.
O desejo, sempre que
desejado, é uma equação de sono, é pássaro, é flor que voa sobre o chão; sobre
o chão desejado.
Alijó, 27/12/2021
Francisco Luís Fontinha