Desenhava as espadas do inferno
nas húmidas janelas que as fotografias
inventavam
na claridade poeirenta dos dias em
solidão
e os corações de vidro
choravam em sílabas de sangue
misturados às vezes na obscuridade
das palavras que a saudade alicerça no
silêncio pequeno-almoço,
No peito esverdeado pela nascença de
uma nova flor
abriam-se-lhe todos os espinhos da
infância adormecida
no pilares de madeira que a noite come
abriam-se-lhe os poemas escondidos nas
mãos de nevoeiro
que o amor escreve no cadáver da tarde
dentro do rio sem barcos de papel,
Desenhava as espadas do inferno
como se as estrelas suspensas nos
jazigos imaginários
escondessem verdadeiramente os duzentos
e seis ossos de mim
pedaços de xisto mergulhados nas
lágrimas
que os lábios de desejo
constroem sentados nas cadeiras de
cartão
oferecidos pela loucura manhã de
domingo
e nas longínquas taças de champanhe
com bolinhas encarnadas
os disfarces de Marilú no poeirento
espelho caquéctico da cave com grades em gemidos
e o perfume dos cigarros sem nome
em busca do sítio encantado das
árvores azuis e nuvens de chocolate
que o poema esconde na garganta do
boneco de palha.
(poema não revisto)