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domingo, 17 de maio de 2015

Os pássaros da minha infância


Vejo-te partir,

Sem o sentir,

Vejo-te partir…

E faltam-me as palavras para te acompanhar,

Para te fazerem sorrir,

E voares como os pássaros da minha infância,

Vejo-te partir,

Na ausência,

De nunca,

De nunca regressares,

Ao meu livro,

Ao meu poema,

 

Vejo-te partir da minha poesia…

Como uma fera,

Ou uma pena,

 

Enquanto desce a noite sobre os teus ombros de pó.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 17 de Maio de 2015

domingo, 1 de março de 2015

morte envergonhada

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


não inventes nomes
detesto nomes
ruas
e cidades
das palavras
os orgasmos sentidos
dos livros
as palavras dos orgasmos sentidos...
o silêncio
a morte envergonhada
à minha porta
sem prazer

crescer
voar sobre os telhados desanimados
tristes
e... e cansados
não inventes nomes
moradas
idade
sexo
para quê?
quando há na madrugada uma mistura gasosa de sílabas e vogais enlouquecidas
fumadas
e... e sentidas

as palavras
que inventas
e comes
em cada alvorada sofrida...
não inventes imagens de verniz
que a chuva absorve
em cada tempestade
trazida
por um homem
louco
ou... partida
ou apátrida loucura do homem em cada tempestade... trazida.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 1 de Março de 2015


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Navegas na morte, habitam em ti as saudades da partida, o regresso sem saída, absorto, infinitesimal adormecido numa lápide de sonho, partimos, chegamos, o frio entranhou-se-nos nos ossos, esquecemos as palavras, e todos os momentos, a loucura imaginária dos vinhedos escrevia nos rochedos... o xisto disfarçado de “Alimento para Cães”, as ruas inúteis, fúteis, onde ”putas e drogados” dormiam para fugirem ao vicio, a emigração dos corações de areia, a sedução, o prazer quando o teu corpo balançava na alegria, o sótão vazio, o telhado encravado nas ombreiras da paixão,
Amo-te, escreve ela todos os dias no espelho embaciado,
Amas-me?
O que é o amor, meu amor...
Palavras, poemas, poetas... & mortos sem cabeça, Amas-me? O que é o amor, meu amor...
Pedra, madeira...ou papel quadriculado,
Oiço
“Foda-se o amor”
E...
Tão belo como as sandálias da infância... sonhadoras,


(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 13 de Fevereiro de 2015

domingo, 23 de novembro de 2014

Amanhã não...


A fuinha lâmina de luz inventando vulcões e sonhos de papel, à tarde regressam a casa os comboios emagrecidos da saudade, abro a porta, entro dentro do túnel das imagens a preto e branco, e
Meu irmão, amanhã nada seremos,
Pó e pedaços de cinza em evolução,
E cascalho descendo a montanha do sofrimento,
Amo-te...
Sinto-te nas sombras enigmáticas dos poemas em hibernação, nada há a acrescentar ao teu nome, perdeu-se, morreu nas pálpebras inchadas da madrugada,
Amo-te...
Não o sei, não percebo as viagens sem regresso, a morte quando disfarçada de viajante e acompanhada pelas ruas de uma cidade em destruição, amanhã
O telhado estremece, as fendas sonoras das paredes em xisto... parecem melodias embriagadas que só a noite consegue entender, amanhã
Amanhã os cinzentos barcos de espuma, os miúdos esperando a neblina para se esconderem da chuva, uma criança insemina-se no papel esquecido num banco de jardim, há plátanos centenários que me olham, e conversam comigo,
Amanhã...
Nada,
Incógnitas,
Futuro incerto,
Lâminas de ossos envenenados quase em decomposição, tenho medo, meu irmão, tenho medo da despedida, dos abraços e dos beijos sem palavras,
Amo-te... algum dia voltarei a alicerçar-me aos teus braços,
Amanhã...
Nada,
Incógnitas,
Futuro incerto, relatórios, falsas esperanças, rostos deformados, corpos pincelado de decadência..., amanhã
Nada,
Incógnitas
Amanhã estarei ao teu lado, pegarei na tua mão... lemos em conjunto os poemas que escrevi para ti e nunca os conseguiste ler, por medo, por... por vergonha de mim, não, não meu irmão,
Amanhã renasceremos das cinzas que sobejarem do corpo dele, e nada, nada a acrescentar aos teus lamentos, o que importa estarmos a lamentarmos-nos se ele
Amanhã,
Ele voará em direcção às nuvens invisíveis dos Oceanos, inchadas, as pálpebras, incógnitas disfarçadas de mendicidade, e tu
Amo-te... algum dia voltarei a alicerçar-me aos teus braços,
E tu calmamente caminhando lado a lado com o metro de superfície... odeio-o, não aguento mais senti-lo, não aguento mais ouvir os seus gemidos como gaivotas em cio, como pássaros ao cair da noite,
Torturam-me, obrigam-me a olhá-lo enquanto me encerram numa sala exígua e triste, nada posso fazer... se não
Amanhã,
Se não imaginar aquela lagarta recheada de transeuntes em passo apressado, mendigos à porta, pedindo o que é impossível dar-lhes
A vida,
Amanhã pegarei na tua mão, e
Ontem esqueci-me de comer, ontem esqueci-me de olhar-te, não o consigo, pareces uma sombra esperando o acordar da madrugada,
E
E ninguém para conversar, desabafar, ninguém para me ouvir e repetir os gritos que só o silêncio conhece...
E vem o mar,
E vem a saudade, os beijos, os abraços,
Amanhã não,
Não, não...
Amanhã não estarei no teu conforto, nunca consegui permanecer eternamente nos teus braços, fujo, finjo que tenho sono, e não o tenho...
Dormir,
Porque amanhã,
As imagens a preto e branco dos teus olhos, sem lágrimas, sem estátuas de marfim, e no entanto
Poisas em mim como uma bandeira hasteada nos dedos cremados da inocência, o sexo permanece clandestino, nas palavras, nos actos, na... na incógnita do adeus,
Sentir-me-ei uma constelação em vibração, eu sentir-me-ei uma hélice congestionada numa qualquer estrada sem saída,
Preciso de ti, meu irmão,
Amanhã,
Amanhã não,
Não, não...



(ficção)
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 23 de Novembro de 2014