domingo, 8 de dezembro de 2019

A fome da saudade


Trago em mim a fome da saudade.
Não sei quem sou, nesta cidade deserta,
Cansada da verdade.
Trago em mim a fome da tristeza,
Quando o vento se alicerça nos teus lábios.
Trago em mim o silêncio da noite,
Quando um livro perdido, se levanta, e avança contra a escuridão.
Trago em mim o sofrimento do desejo,
Como uma cancela escondida pela geada,
E na montanha, tenho escondidas as lágrimas da calçada.
Trago em mim a morte,
A dor,
E o sonho de adormecer no teu colo.
Trago em mim a saudade,
A fome,
A vaidade.
Trago em mim a felicidade,
De um dia, voar,
Nas tuas mãos,
No teu sonhar.
Trago em mim a fome de sofrer,
Dentro de um relógio indignado com o tempo.
Trago em mim a fome de escrever…
Escrever palavras de alento.
Trago em mim a fome de ser,
Ser quem não sou,
Que sou ser,
Invisível,
Nesta Galáxia complexa da noite.
Trago em mim o prazer,
O sonho,
A vontade de viver.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
08/12/2019

A sonhar sonhos de sonhar…


Longe vai o tempo
Em que eu adormecia acordado
No silêncio da escuridão.
E de madrugada
Quando o amanhecer acordava,
Sentia o vento
Na minha janela mal fechada,
O roncar do meu cão
Que não me deixava sonhar…
Adormecer,
E eu… sonhava,
Acreditava na alvorada sem luar,
Na chuva miudinha impressa num verso de fazer
Inveja ao silêncio dos teus olhos a chorar.

E longe vai o tempo
Em que sonhava sonhos de sonhar,
Como se fosse o movimento
Do pêndulo simples na minha mão a saltar.

E saltava!

Corria sem correr
Adormecia e acordava
E voltava a adormecer
No silêncio da alvorada.

Longe vai o tempo
Em que eu sonhava sonhos de sonhar,
E sonhava.
E tinha medo de acordar…
No teu pensamento,
Mulher do mar.


Francisco Luís Fontinha
Para publicação

sábado, 7 de dezembro de 2019

Não sei


Não sei!
Não sei o que é adormecer,
Sorrir,
Sonhar,
Ou simplesmente viver.
Porque tu existes, e vais partir,
O Sol acordar,
Não sei que sei que chorei!
Ninguém quer saber,
Nem importa o que vamos fazer,
Se faz Sol ou está a chover,
Ou corremos sem correr…
És flor adormecida,
Muito bela e querida…,
Manhã submersa esquecida
Á procura da vida.
Pétala de ternura
Eterna brancura,
Olhar cansado com bravura,
Que se despedaça de grande altura…
Não sei!
Não sei o que é voar,
Viver,
O que são electrões,
Pensamentos metalúrgicos ao acordar,
Treliças que quero esquecer.
Fundem-se protões,
E de tanto te olhar…, me cansei!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Para publicação

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Ilusões de Amor

Francisco Luís Fontinha

Lisboa, 87/88
Alijó / S. Pedro do Sul – Carvalhais, 89
Parte I
Pensamentos de um homem morto
 1
Hoje pude olhar o nascer do sol!
Seus raios são luz que iluminam a esperança,
Não de viver, mas de sonhar.
Tudo o que me rodeia, acorda de um sonho adormecido,
A Primavera finalmente encontrou o renascer
De um amor incompreendido.
Tenho medo…, não de morrer, mas… de sonhar!
2
Estou só e todo o silêncio é pouco.
Entre estas paredes de quem sou prisioneiro,
Recordo-me dos mais loucos e distantes pensamentos,
As pedras que me escutam, olham o transformar
Da minha sombra na escuridão, e que é testemunha
Do meu processo de destruição…
O insignificante a que pertence o meu pensamento,
De nada compreende o meu passado…
3
Em cada segundo de silêncio, o meu pobre corpo
Descansa entre o sonho adormecido,
E todo o meu sofrimento é constante,
Vertical, horizontal, é dor,
E tu nunca compreendeste o que me espera,
Eles dizem-me que o fim está próximo,
Não da morte,
Mas de tudo aquilo que não compreendo…
4
As palavras,
Gritam-me constantemente o silêncio da morte.
A alegria que existe dentro de mim
Não é real, é apenas uma vontade sem vontade
De viver um futuro denegrido, hipotecado ao diabo.
A tua sombra faz com que o meu caminho
Seja projectado num passado distante da minha verdade,
E o teu futuro encalha no meu presente.
Ao longe, olho a tua sombra, e o teu sorriso é lindo!
5
Adeus liberdade solitária!
Tu compreendes-me?
É essa a razão que faz o meu destino
Parecer e ser incompreendido.
Há momentos e não momentos que imagino a separação,
E outros, fico só e o meu corpo adormece.
Em breve vou morrer…, e então serei feliz!
6
Tudo parece impossível!
Viver, sonhar e amar…
Até adormecer é impossível.
Serei diferente?
Olho na luz que me ilumina, e duvido da sua presença,
E da minha existência.
Não compreendo a verdade,
E permaneço rebelde além da destruição…, fico contente.
7
A alma que chora no meu infinito,
Faz de mim solitário,
E o meu coração esconde-se no desconhecido.
No presente, não penso o futuro,
E..., momentaneamente esqueço o passado,
Mas tudo parece impossível…
Não me preocupo quem sou,
E gostava de saber quem serei mais tarde…

Parte II
O acordar de uma mulher
1
Vou caminhando rua acima
Fugindo do meu ideal,
Ao longe recordo o mar,
E compreendo não ser eu real.

Seu olhar olha-me constantemente
E recordo minha sombra,
E um dia…, se voltares a ser minha amante,
Certamente não serei feliz como a pomba.

Maldita escuridão!
Serei eu um sonhador?
E pergunto ao meu coração
A razão de tanta dor…
2
Estou perdido
Numa canção onde posso recordar-te,
E não imaginas o que tenho sofrido
Não ser eu capaz de amar-te.

Gostava de dizer-te alguma coisa…
E por minha culpa
O sol no horizonte pousa,
E transporta-me para tão grande luta.

Conquistei o teu sofrimento
Numa noite em Setembro,
Com os teus cabelos soltos no vento,
Que já esqueci e não me lembro.
3
As folhas caídas
Repousam eternamente neste lugar,
Olho ao longe, as árvores despidas
À espera de um novo luar.
Sozinho e triste
Caminho sobre casas ruídas,
Mas…, o meu amor não resiste
Às folhas caídas.
4
Alem recordo o teu rosto
Repartido pelos movimentos vividos,
Brilhante como Sol-Posto
Imagino horizontes denegridos…
Alem ouço a tua voz
Que me tira as forças para continuar;
E alguém chama por nós
Na razão de amar.
Alem recordo o teu sorriso
Tal como se tratasse de uma estrela cintilante,
Alguém perde o juízo,
E eu, eternamente,
Adormeço no mar…
5
As flores acordam ao amanhecer
Caminhando em distantes mágoas,
Em pensamentos que me fazem reviver
A pureza de suas águas.

Recordarei sempre o teu olhar
Tal como o teu corpo,
Sabendo que não te posso amar
Porque brevemente estarei morto.

Sofro por tua causa
E desconheço se vou resistir;
Em mim apodera-se uma pausa
E logo me leva a partir.
6
As estrelas deixaram de brilhar
E o mar fica distante!
A noite, transparente, parece reconhecer
Sombras encalhadas na ruela,
E ao fundo, a luz cansada de acender,
Apresenta-me uma mulher muito bela.
As estrelas deixaram de brilhar
E o mar fica distante!
Olhei o meu amor
Escondido na cabana,
Escondia sua voz no tambor
E iluminava objectos de porcelana.
As estrelas deixaram de brilhar
E o mar fica distante!
O caos do meu pensamento
Transporta-me para o final,
E todo o meu sofrimento
Esconde-se como um animal.
As estrelas deixaram de brilhar
E o mar fica distante!



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