sábado, 29 de julho de 2017

Terra sangrenta


Terra sangrenta onde habito,

E vivem comigo as gaivotas do amanhecer,

Terra salgada, repito…

Das palavras de escrever,

Sentindo, os semáforos do silêncio madrugar…

Saltitando de mar em mar,

E chorar,

Terra maldita, e recheada de pragas e gafanhotos,

Meninos marotos,

Que brincam na aldeia,

Leio livros, escrevo nos livros que leio… e à ceia

Levanto os cortinados que me aprisionam ao teu ser,

Terra sangrenta,

Que me alimenta,

E me mata ao nascer do Sol…

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 29 de Julho de 2017



29-11-1938 / 29-07-2015


sexta-feira, 28 de julho de 2017



Há dois anos, enquanto te despedias da vida, desenhei este quarto. Estava sentado ao teu lado, olhava-te e percebia que ainda respiravas…, hoje, não consigo perceber este desenho nem porque o fiz.

Apenas sentia o teu corpo prisioneiro como um rochedo ao mar… e algumas horas depois, viajaste em direcção ao luar.


quinta-feira, 27 de julho de 2017

Julho / 27-07-2017


Todos morreram…

O pai,

A mãe…

E todos os sonhos da seara longa,

Lá longe uma porta líquida evapora-se

E no centro da casa um poço absorve toda a tristeza,

 

O cansaço também cansa a solidão,

A solidão dos dias,

Das noites…

E de todas as madrugadas.

 

Todos morreram…

 

E a noite levou-a para outro lugar.

 

 

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Esquina de Luz


Regressa o passado,

De longe recebo a última réstia de sombra,

O filme que vivi…

Voltará?

Sem paciência com as palavras,

Sem vontade de sorrir…

Se voltar…, cá estarei firme…

Como sempre…

Como sempre,

Firme e de pedra.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 26/07/2017

terça-feira, 25 de julho de 2017

A janela esfomeada


Uma janela esfomeada

Virada para o mar,

O cansado dia prisioneiro na janela virada para o mar,

Uma janela esfomeada

Na luminosidade obscura da cidade,

Entra um barco em soluços,

Embriagado pelo sal,

Uma janela esfomeada

Na sombra das árvores do quintal,

Um pássaro vestido de janela…

Procurando o cortinado do anoitecer,

A prenda,

O segredo de hoje,

Os indignados de ontem…

Com a notícia de hoje,

O prego enferrujado no “CU” de Judas…

Longe de mim,

Perto de ti…

Uma janela esfomeada

Sem coração,

Recheada de beijos,

Abraços…

E o carrasco enforcado na janela esfomeada,

Virada para o mar…

Termina o Sol,

Nasce a noite nos socalcos do cansaço…

E vai-se vivendo ouvindo as tuas palavras vãs…

O anão,

O eterno anão a “cagar” no deserto.

FIM.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 25 de Julho de 2017

segunda-feira, 24 de julho de 2017

A fuga


Parto feliz.

Deixo tudo nas tuas mãos, os velhos papeis, os livros… e a minha sombra.

Para onde vou, nada disso necessito…, apenas preciso de paz.

A fuga, depois da alvorada… para além do rio,

Uma caravela com velas de sonho,

Um pedacinho de solidão…

E lá vou eu, eu, feliz…

Parto feliz.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 24 de Julho de 2017

domingo, 23 de julho de 2017

O fantasma do fim de tarde


Batem à porta,

Não vou abrir…

Nada espero, ninguém me espera…

Neste fim de tarde junto à janela.

Sentado.

Não me levanto,

Olho o relógio e são dezoito horas,

Tempo necessário para ir à doca e abraçar-me ao barco dos teus braços,

Batem à porta.

O silêncio constrói-se em mim com uma cabana na montanha,

Sinto o mar dentro do meu corpo indefeso,

Quando regressa o pôr-do-sol…

Batem à porta,

Não vou abrir…

Nada espero…

A não ser ficar aqui sentado.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 23 de Julho de 2017

sábado, 22 de julho de 2017

O cansado iluminado


Regressa a noite e não quero abrir os olhos,

Prefiro adormecer junto à lareira apagada,

Porque acesa já ela está,

O cansado iluminado,

Sentado,

Lê…

Escreve em ti o que lê…

E não tem pressa de partir,

Porque a partida é tristeza…

Desenhada nas paredes do meu quarto,

Regressa a noite,

Regressa o vento…

E o iluminado,

Cansado,

Foge em direcção ao mar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 22 de Julho de 2017

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Nesta cidade, este corpo que pesa, e de lata…


Este silêncio que me mata,

Este corpo de lata,

Que habita indecentemente na tua mão,

Este corpo camuflado pela tristeza,

Quando o meu olhar alcança tão altiva beleza,

Este corpo que pesa,

E não serve para nada,

Este corpo sofrido e filho da madrugada,

Quando as aventuras se desenham no amanhecer…

As tonturas,

Nas palavras de escrever,

Este corpo que estorva,

E trás consigo a solidão,

Trova…

Passeio sem destino na carruagem do sofrimento,

Este corpo sem alento,

Descendo pedras e calhaus desagradados…

Soldados,

Que abatem este corpo com dignidade…

Este corpo que pertence à cidade.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 21 de Julho de 2017