sábado, 22 de agosto de 2015


Francisco Luís Fontinha - Agosto/2015

O mendigo das palavras


Pedido nesta avenida

Recheada de cacos e velharias,

Mendigando palavras,

Fumando cigarros imaginários,

Perdido,

Achado,

Escrevendo no teu rosto poemas envergonhados

Que só tu

Consegues perceber…

A vida parece um carrossel enferrujado,

O teu corpo fundeado no meu peito

Como se fosse uma serpente de tristeza,

Perdido,

Achado,

Na algibeira alguns sorrisos de riqueza…

Mas tu sabes que nunca quis ser rico,

Mas tu sabes que nunca quis ser nada…

Apenas me apete estar qui,

Sentado,

À tua espera…

Como um barco que regressa do Ultramar

Trazendo gaivotas

Caixotes poucos…

E recordações em pedaços de papel,

Perdido nesta avenida

Recheada de insónia

E sonhos inventados por uma criança,

Hoje, hoje aqui sentado…

Espero-te sem saber se vens

Ou se pertences às lápides da madrugada,

Não me importo com as fotografias rasgadas

E deixadas nos braços do vento…

Perdido,

Achado,

Aqui… como um rochedo sem coração.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 22 de Agosto de 2015

Francisco Luís Fontinha - Agosto/2015

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Falsa partida


Partirei sem desenhar o meu nome na alvorada fantasma da vida,

Partirei sem deixar uma sombra deitada na manhã,

Partirei sem vontade de regressar,

Partirei como um sonâmbulo ambulante pernoitando de festa em festa,

Nos lábios do luar,

Partirei descendo a avenida

Que me levará até ao esconderijo da agonia,

Partirei apaticamente para o outro lado da rua,

Sentar-me-ei até que o meu corpo desfaleça,

Tudo esqueça,

A doença,

A amargura

E a tristeza,

Partirei deixando um prato de sopa dormindo em cima da mesa,

Falarei baixinho,

Dócil…

Para ele não me ouvir,

Só me faltava a mim

Levar comigo um prato de sopa,

Uma colher…

E um pedaço de pão

Para alimentar a solidão,

Assim… não saberei partir…

Partirei sem levar os livros,

As músicas mais desejadas,

Partirei deixando na fogueira todas as cartas,

Todas as palavras,

Que nunca deveria ter escrito…

Partirei,

Partirei vestido de pedinte,

Cambaleando contra os candeeiros da saudade,

Não, não vou levar comigo a felicidade…

Porque partirei de livre vontade,

Ao amanhecer,

Sem ninguém saber,

Partirei,

Partirei e deixar-me-ei envelhecer…

Até morrer.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 21 de Agosto de 2015

Francisco Luís Fontinha - Agosto/2015


Francisco Luís Fontinha - Agosto/2015 

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Infinitos Oceanos de luz


Não há drageia

Nem poesia que me valha,

Entrelaçávamos as mãos nos infinitos Oceanos de luz,

Caminhávamos como crianças sobre as pedras invisíveis da carícia,

E tu olhavas-me quando eu ficava transparente,

Simples,

E ausente,

Voava abraçado às gaivotas,

Fotografava com o meu olhar os barcos de papel

Em velozes corridas contra o vento,

Um dia, despareci da tua sombra…

Subi os degraus do desejo,

Alicercei-me às tuas coxas salgadas…

E sentia os teus ossos na margem do rio onde nos sentávamos,

Tive medo,

Porque descia a noite sobre os nossos ombros,

E quando acordava a noite…

Ficávamos agachados junto aos beijos hipnotizados,

Dormíamos,

Dançávamos à janela com retractos para o Tejo,

A ténue velhice levava-nos para as ilhas rochosas da solidão,

Hoje…

Pareço um pedaço de aço

Esquecido numa qualquer sucata,

E espero,

E espero o regresso do forno…

E novamente serei um esqueleto nas mãos dos infinitos Oceanos de luz,

E espero… espero pela tua mão iluminada.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 20 de Agosto de 2015

Francisco Luís Fontinha - Agosto/2015


Francisco Luís Fontinha - Agosto/2015