segunda-feira, 12 de novembro de 2012
sem estrelas nem árvores apenas o mar e o rio
uma gaivota de sémen mergulha nos
lençóis húmidos da madrugada
quando do clitóris desce o Rossio em
direcção ao rio
das palavras
sento-me apaixonadamente no Jeronymo
(Chiado)
e enrolo-me no café amargo que da mão
da caneta de tinta permanente
escreve “para ti, com amor”...
e um silêncio de noite
entranha-se no novo livro de A. Lobo
Antunes (Não É Meia Noite Quem Quer)
e eu quero
preciso urgentemente que seja sempre
sábado
noite
sem estrelas
nem árvores
apenas o mar
e o rio
apenas tu
com amor
no poético corpo de gelo que a
madrugada me oferece.
(poema não revisto)
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
O transeunte apaixonado
O imperfeito incrédulo transeunte
emagrecido
nas pálpebras azuis do destino
podia acordar a alvorada
e escrever nas paredes cansadas
que as arcadas cadeiras sem focinho
constroem na insignificante janela do
Outono
ai a cidade com um rio travestido de
mar
e o mar
e o mar em engates na maré do silêncio
o amor é o amor
das palavras
e no corpo tua boca em soluços
madrugadas,
o amor amar os barcos em sucata
pedacinhos de aço
nos lábios desejados das ranhuras
frestas do granito jazigo literário
os poemas em festa
orgias
e danças de salão na cave do
eléctrico para Belém
deixando a Ajuda nas águas
transversais adormecidas das gargantas loucas
e eu procuro-te pensando nas árvores
infinitas tuas mãos
abraças-me?
dar-me-ás um beijo invisível com
sabor a chocolate?
abraças-me nas finíssimas argolas de
papel suspensas no tecto da algibeira?
e as vacas do tio Serafim comeram toda
a erva do meu caderno preto,
e dou-me conta que não estou louco
nem doente
estou apaixonado
feliz por ser amado
e é nos momentos que me apetece
adormecer eternamente
que quero amar loucamente os cortinados
loiros dos teus olhos encarnados
(O imperfeito incrédulo transeunte
emagrecido
nas pálpebras azuis do destino
podia acordar a alvorada)
podia adormecer a noite
e todas as lâmpadas se extinguirem nas
sombras da calçada
porque eu não me importo que chovam as
palavras que a cidade transpira,
não me importo das vacas do tio
Serafim
nem dos livros ainda não escritos
e dos poemas que apenas fazem parte do
teu ventre lilás de sílaba acácia
que os dias mortos desenham na areia
não me importo da chuva
e do vento sem vento fingindo ser vento
porque a paixão come a erva do meu
caderno preto
perco todas as palavras semeadas na
Primavera
perco as gaivotas melancólicas do Tejo
enjoado
também ele apaixonado
pelas pequenas flores que os barcos
transportam
e deixam abandonadas no fundo oceano o
desejo construído com os insectos...
(poema não revisto)
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Entre sílabas e palavras e silêncios madrugadas
O doce frio
emagrece o corpo embrulhado em desejo
fingindo-se de morto
e evapora-se nas frestas do olhar
esverdeado
que o rio abraçado à janela
pinta nos lábios do poema,
é isto o amor
dois corpos
mergulhados no oceano de livros
é isto amar
caminhar sobre as nuvens
e sonhar,
amar a tua pele de cravo que Abril
semeou
nas mãos de uma criança
quando dormia a cidade
amar o amor em doce frio
que o desejo consome dentro das
estrelas azuis
e papeis ornamentais nas paredes do
sofrimento,
acorda o cansaço
o doce frio
o abraço
que dos lábios crescem as noites
infinitamente desencontradas
abraço-te
e desenho no teu doce frio corpo os
uivos das madrugadas,
às vezes
as lágrimas de ti desaguam no meu rio
inventado
não dou importância aos barcos sem
motor
nem às flores sem cor
às vezes
às vezes disfarço-me de esqueleto com
duzentos e seis ossos,
e fingindo-me de vivo
beijo-te loucamente sempre que posso
porque poucas vezes
às vezes fingindo-me de poema
deito a minha cabeça nos teus olhos
e adormeço entre sílabas e palavras e
silêncios madrugadas...
(poema não revisto)
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 07-11-2012
terça-feira, 6 de novembro de 2012
E será que me ouves?
Trazes de ti as chaves complexas da
paixão
o vidro da madrugada nas árvores ou o
amor
que submerso nas coxas do rio
o púbis equilátero do silêncio
na mão do espinho
à boca confusa da maçã
quando se desembaraça da gravidade
grave gravíssimo o planalto dos sonhos
e trazes de ti as chaves
da paixão e descem as gotinhas de
desejo
na pele adensada de moluscos e fios de
luz
quando da cidade choram as pontes
e todo o aço saudável
derrete na mão de deus
e dizes de ti em ti
os cansaços fictícios que os teus
lábios desenham no leito dos amantes indefinidos
os ausentes
os oprimidos
os desgostosos dias de cimento
entre ventos e velas de mármore
em lápides
sem alimento
trazes de ti as chaves complexas da
paixão
o vidro da madrugada nas árvores ou o
amor
vem vêm vem ao destino marcado no
xisto
vêm as águas preguiçosas do Outono
vêem-se águias e gaivotas e barcos
nas abelhas enferrujadas
vem vêm vem ao meu encontro
a tua língua sílaba doirada
em sol e da lua
à Primavera desejada...
E será que me ouves?
Francisco Luís Fontinha / 06-11-2012
(poema não revisto)
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
A paixão das árvores e silêncios parvos
Saborearei as luzes desejos que no teu
corpo vivem
as estrelas de pétalas e sorrisos
amargos
que eu transformo em silêncios parvos
saborearei os enjoou-os das palavras
sem nome
sobes as escadas cansadas
em fome
a maldita alvorada
quando pela calada
te vêm buscar e desapareces entre as
aspas do paragrafo sonolento
do texto escrito na porta de entrada da
casa
da tua misera casa de ossos de pano
e janelas de papelão,
Desenhas flores nos muros que circundam
as sandália de couro
do miúdo da aldeia empenhado no banco
de jardim
alguns euros para o transporte
desassossegado dos carris paralelamente
com abraços no infinito
dois homens com chapéu de palha e uma
mão de cigarros embainhados nas madrastas hortas
das planícies orvalhadas das meninas
de cabelo loiro
e olhos azuis fingindo alegrias e
sílabas de seda
oiço-te das luzes desejos
saborearei nas tuas coxas os poemas
construídos nos sonhos
quando o mar te entra em casa
e o teu ventre cinzento
se alicerça nos espinhos da morte...
(poema não revisto)
As finas lâmpadas de solidão
A circunferência das palavras gastas
nos voos invisíveis das gaivotas de
aço
sobre o infinito mar de árvores
que a lentidão do vento alimenta
ouvem-se os sofridos olhos da lua
nos gemidos dele
o pássaro cansado do nocturno poema
sobre a mesa do café
homens cambaleiam cinicamente
contra os cortinados encarnados da dor
às lágrimas de sangue embaladas
nas finas lâmpadas de solidão.
(poema não revisto)
domingo, 4 de novembro de 2012
A ilha e a cidade e a infância perdida em mim
Inventas o medo nas cartas das palavras
silêncios
sem perceberes que na tua boca vivem as
sílabas do desejo
como a janela com vista sobre a cidade
quando cai a noite submersa na tua pele
pergaminho
Inventas as mãos com que me acaricias
no regresso dos barcos do outro lado da
cama
que a mesa-de-cabeceira derramou as
flores sensíveis à luz dos teus olhos
inventas os sonhos
e os mármores e os granitos das
paredes de vidro
quando cai a noite
submerso em ti o pergaminho azul da
manhã depois do sexo se extinguir na neblina
que cobre as ardósia castanhas dos
teus cabelos
Inventas-me e metade de mim é poema
inventas-me nas clarabóias que o mês
de Janeiro desenhou no vento desassossegado
das roldanas engasgadas na ferrugem dos
lábios do velho Armindo
sozinho
à minha espera
quando depois de me inventares
escreveres no céu nocturno de Lisboa
que o rio nunca existiu
(Inventas o medo nas cartas das
palavras silêncios
sem perceberes que na tua boca vivem as
sílabas do desejo
como a janela com vista sobre a cidade
quando cai a noite submersa na tua pele
pergaminho)
Inventas o ciúme das palavras
que o meu corpo poema escreve nas
sanzalas desgovernadas
que os machimbombos preguiçosos
comem as sombras das mangueiras
inventas o mar
e as areias brancas do Mussulo
e nunca esqueceste da cadeira onde me
sento
inventaste a ilha e a cidade e a
infância perdida em mim...
(poema não revisto)
Que novamente seja sábado
Gosto muito de ti Digo-o
todas as manhãs quando percebo que o meu pequeníssimo cubículo de
madeira não tem um espelho, e seria tão fácil para mim mulher de
muitos ofícios construir um, adquiria o recipiente de plástico numa
qualquer feira de aldeia e simplesmente água límpida da chuva, e
sei que aparecerias com os lábios desenhados em beijos de amêndoa e
com mil sorrisos de girassol, depois de eu escrever nas sílabas do
tecto as palavras mágicas, e no entanto, a minha preguiça é mais
forte que o meu desejo, e imagino-te sentado junto ao Tejo a desenhar
flores nas sombras da noite, imagino-te junto ao Tejo a contar os
barcos que entram, imagino-te junto ao Tejo a contar os barcos que
saem, não falando nos que se afundam por falta de alimentos,
- As gaivotas dos teus
seios quando o vento transporta as sementes dos silêncios cobertores
que a alvorada come sem perceberes que do outro lado da rua há uma
janela amarela com cortinados de papel com tons de acrílico, o mar
vive na criança que choraminga ao acordar, na lâmpada de néon que
não se cansa de acender, e não se cansa de navegar, e nunca se
extingue na saliva do prazer,
Gosto muito de ti,
- Digo-o toda as manhãs
antes de acordar, saltar solenemente da cama de cartão e olhar o
espelho invisível que irei construir com a água límpida da chuva
que irá descer do céu, um dia, uma qualquer hora sem destino
marcado, as tuas mãos entranhar-se-ão no meu pescoço de malmequer
e pedacinhos de mel, saborearei a tua língua de uva doirada na minha
boca infinita que o xisto esmigalha nos arcos circunflexos da
montanha ate que o rio entre no teu corpo e desapareças nas finas
estrelas de silício,
Gosto muito de ti Digo-o
todas as manhãs de sábado e saboreio a poesia mágica Moçambicana
da antologia submersa na prateleira que os teus olhos de feiticeira
iluminam, e hoje foi sábado, e hoje nenhum barco entrou, saiu ou se
afundou, adormeci na cadeira da saudade sem me dar conta das palavras
suspensas nos loiros cabelos do fim de tarde, o Tejo é assim, o Tejo
é uma mulher em desejo e que dança ao som das garrafas de vodka de
um qualquer bar plantado numa qualquer cave, sombria, húmida a terra
doente onde deitas as mãos depois de acariciares as plantas que
adornam a varanda sobre Lisboa,
- As tuas coxas de vidro
Gosto muito de ti,
- Na imensidão longínqua
que o oceano engole nas madrugadas (e nunca se extingue na saliva do
prazer) as coisas belas que o amor pinta na tela da simplicidade da
arte abstracta, as tuas coxas de vidro nas manhãs bíblicas das
orações da dona Arminda, os teus seios guardados escrupulosamente
no interior de um livro de poemas (e como eu queria ser o livro de
poemas de AL Berto onde guardo os teus seios gramaticais com rimas
abraçadas às infinitas caravelas que o teu púbis absorve), e vi
acordar a lua nos olhos cerrados dos peixes, das plantas, e dos
animais vestidos de literatura,
Gosto
Muito
Gosto muito de ti antes
que termine a noite e os dias se transformem em cinzas de azoto,
gosto muito de ti sem me preocupar com as horas engasgadas do meu
relógio de pulso cansado, que novamente seja sábado, e a antologia
de poesia Moçambicana “Nunca mais é Sábado” se abra na tua mão
de vidro, também de vidro, as tuas coxas,
- De ti.
(texto de ficção não
revisto)
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