Inventas o medo nas cartas das palavras
silêncios
sem perceberes que na tua boca vivem as
sílabas do desejo
como a janela com vista sobre a cidade
quando cai a noite submersa na tua pele
pergaminho
Inventas as mãos com que me acaricias
no regresso dos barcos do outro lado da
cama
que a mesa-de-cabeceira derramou as
flores sensíveis à luz dos teus olhos
inventas os sonhos
e os mármores e os granitos das
paredes de vidro
quando cai a noite
submerso em ti o pergaminho azul da
manhã depois do sexo se extinguir na neblina
que cobre as ardósia castanhas dos
teus cabelos
Inventas-me e metade de mim é poema
inventas-me nas clarabóias que o mês
de Janeiro desenhou no vento desassossegado
das roldanas engasgadas na ferrugem dos
lábios do velho Armindo
sozinho
à minha espera
quando depois de me inventares
escreveres no céu nocturno de Lisboa
que o rio nunca existiu
(Inventas o medo nas cartas das
palavras silêncios
sem perceberes que na tua boca vivem as
sílabas do desejo
como a janela com vista sobre a cidade
quando cai a noite submersa na tua pele
pergaminho)
Inventas o ciúme das palavras
que o meu corpo poema escreve nas
sanzalas desgovernadas
que os machimbombos preguiçosos
comem as sombras das mangueiras
inventas o mar
e as areias brancas do Mussulo
e nunca esqueceste da cadeira onde me
sento
inventaste a ilha e a cidade e a
infância perdida em mim...
(poema não revisto)
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