O doce frio
emagrece o corpo embrulhado em desejo
fingindo-se de morto
e evapora-se nas frestas do olhar
esverdeado
que o rio abraçado à janela
pinta nos lábios do poema,
é isto o amor
dois corpos
mergulhados no oceano de livros
é isto amar
caminhar sobre as nuvens
e sonhar,
amar a tua pele de cravo que Abril
semeou
nas mãos de uma criança
quando dormia a cidade
amar o amor em doce frio
que o desejo consome dentro das
estrelas azuis
e papeis ornamentais nas paredes do
sofrimento,
acorda o cansaço
o doce frio
o abraço
que dos lábios crescem as noites
infinitamente desencontradas
abraço-te
e desenho no teu doce frio corpo os
uivos das madrugadas,
às vezes
as lágrimas de ti desaguam no meu rio
inventado
não dou importância aos barcos sem
motor
nem às flores sem cor
às vezes
às vezes disfarço-me de esqueleto com
duzentos e seis ossos,
e fingindo-me de vivo
beijo-te loucamente sempre que posso
porque poucas vezes
às vezes fingindo-me de poema
deito a minha cabeça nos teus olhos
e adormeço entre sílabas e palavras e
silêncios madrugadas...
(poema não revisto)
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 07-11-2012
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