quarta-feira, 30 de maio de 2012

“ai que me vou morrer”


“ai que me vou morrer”
nas tuas coxas amarelas
ai ai ai
belas
relvas
ai
morrer
elas as ruas delas

no mar

“ai que me vou morrer”
nas tuas coxas
no ar
ao cu

do cu

ai ai “ai que me vou morrer”
do mar
sem vento
e no entanto
no entanto
ao cu ao cubo
ai ai ai
elas as ruas delas

terça-feira, 29 de maio de 2012

do outro lado da rua


do outro lado da rua
nua
ela crucificada nos ponteiros do relógio
nua

a tarde dentro da porta da noite
do outro lado
a rua

ela
ela nua do outro lado da rua
doze badaladas
meio dia
a felicidade dentro do alpendre
sem janelas

há urtigas em filetes
e framboesa
e do jantar
maionese com ilustrações
desenhos em areia
velas lírios à sobremesa

do outro lado da rua
ela
eu nela nua
a tarde sem literatura

Orgia na livraria

simetricamente encerrado
nas torradas e no chá com pimenta
às portas da urna de vidro
onde habita a saudade

a marquise doente
tosse febre rouquidão
(malditos cigarros)
lamenta-se o coveiro
levanta-se a urna de vidro
e pede um poema de menta
e um cinzeiro
(AI) ouve-se do interior da padaria

a menina de mini saia
a gritar
fujam fujam fujam...
há orgias
dentro da livraria

quem diria
(AI)

a livraria cansada
com mãos de página de revista
ou rolo de papel higiénico

fujam fujam fujam

quem diria
(AI AI AI)

quem diria
que um dia
dentro da livraria
eu ia
eu ia encontrar um livro em orgia.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

A loucura

Não sabia que a loucura
é um frasco de vidro com olhos verdes
que ama
loucamente
a paixão
não
não sabia
que em ti cresce poesia

melancolicamente
em alegria
geometricamente
suspenso no teu pescoço com asas azuis
e suspiros de prata

a loucura
um frasco de vidro com olhos verdes
(melancolicamente
em alegria
geometricamente
suspenso no teu pescoço com asas azuis
e suspiros de prata)
a fotografia do teu rosto cinzento

o frasco de vidro
desce ao silêncio do sono
uma fotografia com olhos verdes
a loucura transpira
emagrece
sorri e ri e liberta-se das tuas garras
(loucamente)
a paixão

sem amarras
a loucamente loucura
na tua mão
com olhos verdes

sem cancelas
portas
ou janelas

a paixão cresce
a paixão cresce e transpira
ou janelas
portas
sem cancelas

não admira
não sabia que a loucura
é um frasco de vidro com olhos verdes
que ama
loucamente
a paixão

ama
a paixão loucamente
nos lábios de uma gaivota
ama
ela
com ternura
eu não sabia
que a poesia
é um frasco de vidro com olhos verdes...
a loucura
sem ela
quando finge dormir dentro do mar

domingo, 27 de maio de 2012

e eu me encanto

(para ti)

Me encanta a tua voz poética
nas tuas palavras de sofrimento
me encantam as tuas mãos melódicas
quando regressa o vento
e eu me encanto
com os teus lábios de inverno
junto à lareira
me encanta o teu cabelo
(Loiro? Eu não sou Loira... eu sou Castanha!)
como se isso me importasse
porque me encanta a tua voz poética
e eu me encanto
com as noites de primavera
à lareira
a imaginar o teu cabelo
(Loiro Castanho, Castanho Loiro, Loiro Castanho, Castanho Loiro)

Me encanta a tua voz poética
nas tuas palavras de sofrimento
me encantam as tuas mãos melódicas
quando regressa o vento

tudo em ti me encanta
tudo de ti alimenta

o encanto de amar.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Norte

Preciso do norte
e na minha mão direita finge brincar o sul
preciso da montanha
e na minha mão esquerda o mar
a atormentar-me noite e dia
preciso do norte
e tenho o sul
deserto
entre cadeiras de vime
e chapéus de palha
sexos aos montes
nas janelas da algibeira

preciso do norte
e na minha mão direita
o abismo
e da minha mão esquerda
o sul que não me deixa adormecer
sem comprimidos
ou noites seguras
entre pássaros loucos

preciso do norte
e de uma abelha
com lábios de pólen
e mamas de mel.

Kitty Daisy & Lewis 'Going Up The Country'

quinta-feira, 24 de maio de 2012

jardim de prata

conheço um jardim de prata
onde brinca uma menina de sabão
conheço um jardim de prata
com árvores de lata
e sem coração

conheço uma menina de prata
em círculos num jardim de sabão
com flores de poesia
e sem alegria
ao meio-dia

conheço um jardim de prata
onde dormem cigarros de mel
e sem alegria
ao meio-dia
as flores de poesia
fogem num barco de papel

o homem de sol

pareço um esqueleto com óculos de sol
um homem de madeira
que dança dentro de um relógio de pulso
aos soluços
quando começa a noite

pareço um esqueleto com óculos de sol
à procura de uma tenda de circo
e uma trapezista
em madeira
e que dança dentro de um relógio de pulso

e um rapaz simpático
que se veste de palhaço
quando não transporta o esqueleto
com óculos de sol

pareço
um homem de sol
com óculos de madeira
num esqueleto de pulso...
quando começa a noite

quarta-feira, 23 de maio de 2012

MAU - Cum Sexy Cum

Sobreviver

Que chatice. Sempre as malditas pesquisas no Google sobre o meu nome: pinturas de Luís Fontinha; bibliografia de Luís Fontinha...; poesia de Luís Fontinha; textos de Luís Fontinha...
Confesso que começo a ficar farto deste gajo, eu, porque não sou pintor, porque não sou escritor, porque não sou poeta, porque não sou nada.
Faço uns desenhos esquisitos para sobreviver ao tédio, escrevo umas merdas sem sentido e pouco menos, e um texto meu foi escolhido por José Luís Peixoto. Quanto à bibliografia é curta e sucinta: nasci em Luanda/Angola, cometeram o erro de trazerem-me para Portugal, fui drogado há muitos anos e estou desempregado e não tenho dinheiro.
E quem não gostar que se f*da...
“Que mais eu podia desejar” como escreveu AL Berto... “não estou alegre nem apaixonado”.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Fingidos amigos


Detesto sorrisos
dentes fingidos
noites perdidas
dias sem sabor
morangos sem açúcar
leite com café

detesto sorrisos
dentes fingidos
bocas amargas
detesto sorrisos
fingidos amigos
sentados à esplanada

detesto sorrisos
dentes fingidos
cabras com guizos
chibos

detesto sorrisos
dentes fingidos
livros de merda
palavras como eu
corpos de merda
à procura do céu

detesto sorrisos
dentes fingidos

fotografias com cor
poemas de amor
detesto sorrisos
dentes fingidos
madrugadas à janela
noites de merda

(detesto sorrisos
dentes fingidos)

fingidos amigos.

Em viagem para o abismo...

Ribeira desgovernada


Há sempre uma carteira
recheada
na algibeira de alguém,

há sempre uma ribeira
desgovernada
em terras de ninguém.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Jardim platónico

este jardim
com bancos invisíveis
e flores em aço inoxidável

este jardim
com árvores de plástico
e pássaros de papel

este jardim
que tanto amei
despede-se de mim
como um sonho que sonhei...

Desilusão

A desilusão
acordar
e dar-me conta que não acordei,

a desilusão
sonhar que sonhei
sem sonhar
não sei...

a desilusão
tocar no peito
dar-me conta que não tenho coração
nem jeito,

a desilusão
em vão,

a desilusão
bater à porta de entrada
e na estrada
(a desilusão)
de não ter nada
madrugada
nem coração.

Cachimbo de Água em destaque

domingo, 20 de maio de 2012