segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Espelho da insónia

Olho-me no espelho da insónia
E pergunto-me
E pergunto-me que farei amanhã
Quando acordarem sobre mim os sonhos de hoje
Pergunto-me porquê
(Lágrimas no sorriso dos pedacinhos de xisto
Adormecidos na noite
Quando todos os relógios fingem dormir
Sobre um ramo de flores
Junto ao rio)
Pergunto-me quem serei amanhã
E o espelho da insónia responde-me alegremente - Nada.

domingo, 19 de fevereiro de 2012


59,4 – 84,1 – Francisco Luís Fontinha

Triângulos da tarde

A prisão invisível da manhã
Em pedacinhos de luz
Suspensos no cortinado da solidão

Puxo de um cigarro
E sinto que na minha mão
Gemem as palavras abraçadas aos triângulos da tarde
E quando acordar a noite
Um círculo de medo esconde-se no espelho do mar
E o meu corpo em desassossego dorme
Finge sonhar
Num jardim de claraboias com vista para o tejo

A prisão invisível da manhã
Em pedacinhos de luz
Suspensos no cortinado da solidão
E ao longe uma ponte de sorrisos saltita nos orgasmos do rio
Um barco esconde-se dentro da madrugada pintada
Nas páginas de um livro
Puxo de um cigarro
E sinto que na minha mão

Brincam as palavras no silêncio da manhã.

sábado, 18 de fevereiro de 2012


59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

A solidão dos plátanos

Finge-se de morto – O Poema
Quando poiso a caneta invisível na sua mão
E olho-o e ele olha-me – O poema
Seminu na garganta do cansaço
À mercê dos olhos de uma árvore
Longe da janela
Onde desaparecem as escadas em direção ao céu
E erguem-se mandibulas nas cores das estrelas

Crescem poemas na solidão dos plátanos
E num jardim imaginário
Descansa a solidão
No desejo das palavras

Finge-se de morto – O Poema
Quando poiso a caneta invisível na sua mão
E olho-o e ele olha-me – O poema

Que sobejou das minhas noites de insónia.

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Jardim


59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

Longa história

(a Uma Longa História, Gunter Grass)

Há sempre uma longa história
De amor
Sofrimento
Ou dor
Uma longa história
Que desce em nós até adormecermos
Uma história de miséria
Que não se apaga da memória
Há sempre uma longa história
De amor
Sofrimento
Ou dor

Quando a vida deixa de girar
Quando as árvores tombam nas arcadas do vento
Há sempre uma longa história
Que nunca se cansa de gritar

Que nunca cessa o movimento.