A meio da noite, meu
amor, a meio da noite acorda a luz no teu corpo, a meio da noite, meu amor, a
meio da noite, deita-se a luz no teu corpo, abraça-se a luz às minhas mãos, que
poisam no teu corpo as primeiras sílabas da manhã,
A meio da noite, meu
amor, a meio da noite acordam os pigmentos de cor, com que pincelo o teu ombro,
a meio da noite, ele sonolento, tão sonolento como as predizes da madrugada,
A meio da noite,
Meu amor,
A meio da noite acorda a
luz no teu corpo, ergue-se o livro esquecido no chão, poesia de uma afegã, a
meio da noite, os teus olhos, meu amor, a meio da noite vestem-se de estrelas, e
passeiam-se nos meus lábios, quando o meu beijo desce suavemente sobre o teu
ventre, a meio da noite, o incêndio, a fogueira da noite, que a meio da noite
enrola no teu cabelo, e voa sobre um ninho de cucos, perdidos na noite,
Meu amor,
A meio da noite, fogem de
mim as diáfanas águas da ribeira dos sentidos, que a meio da noite, trazem as
pedrinhas com que construo a minha noite, quando a meio da noite,
Sobre ti, lábios de luz,
sobre ti, silêncios de ti,
A meio da noite,
Acorda,
Ergue-se o livro da
poetisa afegã…
Que perdeu a noite,
Que nunca teve noite,
como eu, quando procuro no teu corpo o poema mais belo do céu nocturno em “Flor
de Fumo”,
E querida Nadia Anjuman,
a meio da noite, porque te assassinaram, quando possivelmente as tuas noites
eram como são as minhas noites, sonhar com poesia, respirar poesia, snifar
poesia…
A meio da noite, uma flor
se aproxima de ti, se deita no teu colo, e recorda-me a infância com muitos
meios da noite, eu olhava as estrelas, pedia um desejo,
E voava,
Sobre ti a meio da noite,
Porque te assassinaram?
Flor de Fumo…
14/10/2023