Tu que acreditas ser o Centro do Universo, lamento, o infinito não tem centro…
Francisco
Abraça-me enquanto esta equação
Se resolve na contraluz
do desejo
Abraça-me no limite
inferior da paixão
Quando da integral do
silêncio… recebo um beijo
Abraça-me enquanto Deus
não me vem buscar
Abraça-me antes que esta
equação deixe de ter sentido
Que esta equação se
transforme em mar
E depois num qualquer
sorriso sofrido
Abraça-me na lentidão da
noite escura
Das flores envenenadas
E das palavras e da
solidão que dura
Eternidades de permanente
desassossego
Abraça-me em todas as
madrugadas
E sem medo
29/09/2023
Semeio as minhas palavras
No curvilíneo teu corpo
Madrugada em desalinho
Neste pequeno leito em
linho
Meu doce grama de saudade
Semeio as minhas palavras
Dentro de ti
Em ti
Madrugada
Sentido rio que se
esconde em tua mão deserta
Liberta do meu pulso
Da caneta que te escreve
E inventa nos teus seios…
O beijo.
Semeio em ti doce
madrugada
As alegres
E as tristes
Minhas amargas palavras
Meus poemas em teus
lábios
Quando me beijas e eu
sinto a frescura da manhã
Em fuga
E se esconde na fogueira
do silêncio…
Invento em ti a enxada
Que desbrava a terra
ensanguentada
Das guerras
Da fome
Do infeliz desejo que
queria ser…
O sonho
No sonho de escrever nos
teus lábios
Todas as equações que o
corpo absorve
E come
E lambe…
Toda a tua pele de
saudade.
Semeio as minhas palavras
no teu púbis
E à janela do nosso
quarto
Ele que nos olha
Que nos sente
E mente…
Ele…
O agricultor de palavras
Da enxada
Do livro prateado
Sobre a
mesinha-de-cabeceira…
E no entanto
Semeio-te com as minhas
palavras
Na tua pele
Nos teus lábios
Na tua boca.
E eu
E eu sou o louco
O que pensa muito
O que não devia pensar
Pensando que te desejo
dentro deste livro secreto
Que deixo sobre o aparador
Ao deitar
Meia drageia de saudade
E no entanto
Escrevo em ti de ti o que
que preciso de escrever
Do amar
Do que me amas e não
devias amar
Porque sou apenas um
agricultor
Um agricultor de palavras.
28/09/2023
Desenho no teu ombro um beijo
Pego a tua mão de
silêncio amedrontado
Acaricio-a e escrevo nela
O quanto te amo
E desejo dentro deste
pequeno círculo de insónia
Perco-me e olho o tecto
onde está pintado o mar
Oiço a tua respiração ofegante
Dos cigarros fumados
Aos cigarros que nos vão
matar…
Pego na tua mão
E beijo o teu sonolento ombro
Como se fosse uma espada
de medo
Em guerra com todas as
árvores da floresta
Beijos os teus lábios
Tu olhas-me e beijas a minha
mão
Mão que grita e escorraça
a escuridão do nosso leito…
Mão que pega no lençol do
desejo
E o esconde no teu ventre
Desenho no teu ombro um
beijo
Pego a tua mão de
silêncio amedrontado
Acaricio-a e escrevo nela
O quanto te amo
Dentro desta planície de
palavras
Que te as ofereço
Embrulhadas nos meus
beijos;
Amo-te.
28/09/2023
Odeio-te no crepúsculo solar do dia
Odeio a tua voz
Os teus olhos
Odeio a tua boca
E as tuas mãos…
Odeio-te como sombra
Na palavra em sombra…
Odeio-te enquanto o dia
Não me traz a árvore do
silêncio
Onde se esconde todo o ódio
que te tenho…
28/09/2023
Afasta-te de mim
Afasta-te da minha voz
E das minhas mãos
Afasta-te das minhas
palavras
Das minhas noites…
E das minhas equações
Afasta-te do meu olhar
Afasta-te dos meus poemas
Os que escrevi
E os que irei escrever
Afasta-te do meu mar
E dos meus sonhos
Afasta-te da lua a
crescer
E do luar
Poisado nos meus braços
Afasta-te dos meus beijos
E dos meus cansaços
E afasta-te dos meus
livros
Que escondo nos meus abraços
28/09/2023
Despimo-nos em frente ao espelho da saudade
Erguemos as mãos às
flores daquele jardim
Que transpira de alegria
Despimo-nos em frente ao
mar
E não tenhamos medo da
neblina
Que nos visita pela manhã
Despimo-nos em frente ao
espelho da saudade
Tarde árdua em pequenas
marés de engodo
Que morre pela boca
Que grita e se revolta
Despimo-nos então…
Contra a noite que não
volta
28/09/2023