Semeio as minhas palavras
No curvilíneo teu corpo
Madrugada em desalinho
Neste pequeno leito em
linho
Meu doce grama de saudade
Semeio as minhas palavras
Dentro de ti
Em ti
Madrugada
Sentido rio que se
esconde em tua mão deserta
Liberta do meu pulso
Da caneta que te escreve
E inventa nos teus seios…
O beijo.
Semeio em ti doce
madrugada
As alegres
E as tristes
Minhas amargas palavras
Meus poemas em teus
lábios
Quando me beijas e eu
sinto a frescura da manhã
Em fuga
E se esconde na fogueira
do silêncio…
Invento em ti a enxada
Que desbrava a terra
ensanguentada
Das guerras
Da fome
Do infeliz desejo que
queria ser…
O sonho
No sonho de escrever nos
teus lábios
Todas as equações que o
corpo absorve
E come
E lambe…
Toda a tua pele de
saudade.
Semeio as minhas palavras
no teu púbis
E à janela do nosso
quarto
Ele que nos olha
Que nos sente
E mente…
Ele…
O agricultor de palavras
Da enxada
Do livro prateado
Sobre a
mesinha-de-cabeceira…
E no entanto
Semeio-te com as minhas
palavras
Na tua pele
Nos teus lábios
Na tua boca.
E eu
E eu sou o louco
O que pensa muito
O que não devia pensar
Pensando que te desejo
dentro deste livro secreto
Que deixo sobre o aparador
Ao deitar
Meia drageia de saudade
E no entanto
Escrevo em ti de ti o que
que preciso de escrever
Do amar
Do que me amas e não
devias amar
Porque sou apenas um
agricultor
Um agricultor de palavras.
28/09/2023