domingo, 23 de julho de 2023

Retracto

Olho o teu retracto

E olha…

Quem diria

Estás com muito bom aspecto

E até pare que os anos não passaram por ti.

 

Olho o teu retracto.

Escondo no teu retracto, o meu retracto

Um qualquer

Pode ser no Mussulo

Pode ser aqui

Ou ali.

 

Olho o teu retracto

E olha…

Quem diria

Parece que os anos se esquecem de ti

E se lembram de mim.

 

Olho o teu retracto

E confesso-te

Que começo a odiar o teu retracto

E todos os meus retractos.

 

Olho o teu retracto

E não vejo nada

Nem um sorriso disfarçado

Tão pouco

Os segredos da madrugada.

 

Olho o teu retracto

E vejo o meu rosto abraçado a um baloiço

E enquanto me transmites a força necessária para eu voar…

Eu olho o teu retracto

E no teu retracto

Escuto os silêncios do mar.

 

 

 

23/07/2023

Luís

Caravela

 A tarde morre nos teus olhos

Depois de uma sombra de luz

Roubar o pôr-do-sol

A tarde desaparece

Veste-se de noite

E leva para o mar

Os teus lábios de Caravela Quinhentista.

 

O homem está louco

Está maluco

Que a tarde nunca morre

Tão pouco se esconde

Nos teus olhos.

 

Que sim.

Que não.

Que talvez seja um empate técnico

Ou outra coisa qualquer

De preferência

Nos teus olhos.

 

A tarde morre nos teus olhos

Depois de uma sombra de luz

Roubar o pôr-do-sol

A tarde desaparece

Veste-se de noite

E leva para o mar

Os teus lábios de Caravela Quinhentista.

 

E nunca mais haverá tarde

Nos teus olhos!

 

 

 

23/07/2023

Francisco

Marte



Suicido-me com o primeiro sorriso da manhã

Agarro-me ao vento

Abraço-me ao vento

E peço

E peço ao vento

 

Suicidar-me com o primeiro silêncio da manhã

Nas palavras que escrevo

E que lanço

Sobre o papel

 

Suicido-me com o primeiro abraço da manhã

Quando Deus desliga as estrelas

E lança sobre a Terra a alegria

De quem pensa

Que não pensa

Que a poesia

É vida

E que da vida

Suicido-me com o primeiro desejo da manhã

 

Suicido-me com o primeiro olhar da manhã

E que Marte me escuta

E me vai levar

Para as suas planícies

 

Suicido-me com o primeiro grito da manhã

Que na madrugada cresceu

E na minha mão

Depois de me suicidar com o vento…

Morreu

 

Suicido-me com o primeiro lençol de tristeza

Que no mar habita

Sem saber quando é dia

Sem saber quando é noite

Porque se suicidou ele com um beijo

E apenas sabe

E nunca se esquece

Que o poeta se suicidou…

Com a palavra; Amo-te.

 

 

 

 

23/07/2023

Francisco

Personagens

Nunca soubeste o que era chorar

E choraste de dor

Na dor.

Desenhaste gritos no meu olhar

Enterraste nos meus lábios

O cansaço de estar vivo

Nunca soubeste o que era chorar

E choraste de dor

E tiveste medo

Quando nunca tinhas tido medo.

 

Nunca soubeste o que era chorar

E choraste de dor

Na dor.

 

Nunca soubeste o que era chorar

E choraste de medo

Quando o teu medo

Era apenas um silêncio

E o meu silêncio

O teu medo

De também eu ter dor.

 

Nunca soubeste o que era chorar

E choraste de dor

Na dor.

Nunca soubeste o que era ter medo

E choraste com dor

O meu medo

Juntamente com o teu medo.

Nunca soubeste o que era chorar

Tão pouco a que horas acordavam dentro de mim…

Todas as personagens da minha vida…

E choraste

E tiveste dor…

Na partida.

 

 

 

23/07/2023

Luís

Árvore

 Esta árvore que chora

Esta árvore em sofrimento

Pobre desta árvore

Que aqui não mora

E daqui grita pelo vento.

 

Esta árvore em solidão

Suspensa numa sombra de nada

Pobre desta árvore

Que não tem coração

Nem tem madrugada.

 

Esta árvore embriagada

Esta árvore em pequenos silêncios do amanhecer

Pobre desta árvore

Desta árvore envenenada

Nesta árvore sem vontade de viver.

 

 

 

23/07/2023

Francisco


 

Abraço

 Podemos ter tudo

Quando não temos nada

Para alguns

O tudo é tudo

Para mim…

O tudo…

É um simples abraço.

 

Podemos ter cansaço

Tristeza vestida de cansaço

Podemos tudo

Quando não temos nada

Para alguns

O tudo é tudo

Para mim…

O tudo…

É o nada.

 

 

23/07/2023