Podia apelidar-te de nada
Simplesmente de nada.
Olho este pedaço de papel…
E vejo os traços que
semeiam em mim
Estes traços que são meus
e que só a mim pertencem…
Enquanto a noite em sofrimento
Se esconde num qualquer olhar
de espuma do teu corpo.
Olho este pedaço de papel
Que era branco
Que não tinha nome
Agora deixou de ser
branco porque tem os meus traços…
Mas continua a não ter
nome.
Também eu
Também eu gostaria de não
ter nome
Mas os meus pais
Teimosos
Apelidaram-me de (nada ou
de tolo)
Tal como este pedaço de
papel…
Durante a noite
Durante a noite visto-me
de marinheiro
Saio de casa
Entro no teu Oceano…
E por lá ando
Em busca de crocodilos
amansados.
Na adolescência apaixonei-me
por uma trapezista
Sei lá…
Eu ficava horas a olhá-la
em pequenos círculos de desejo… sobre o mar
E depois
Depois escrevia-lhe
poemas
E se eu tivesse fugido
com ela
Como ela queria…
Hoje talvez fosse alguma
coisa
Tudo trapezista
Menos ser nada.
Podia apelidar-te de nada
Simplesmente de nada.
Olho este pedaço de papel…
E vejo tanta coisa
Meu amor
Vejos estrelas
Vejo rostos que me
solicitam…
AJUDA…
E eu
E eu não os posso ajudar
(tal como não os pude
ajudar).
Vejo animais
Muitos animais
E vejo uma coisa curiosa…
meu amor…
Vejo a equação do sono
Poisada nas tuas mãos…
Das tuas que rezam…
Nas tuas mãos onde choram…
As acácias da minha
infância.
Luís
14/06/2023