Óleo s/tela – Francisco Luís Fontinha – Alijó.
sábado, 20 de maio de 2023
Do meu silêncio… de amar
Desce desse pedestal,
Abraça-te ao meu
silêncio,
Cerra os olhos…
E voa no meu olhar.
Desce desse pedestal,
Abraça-te ao meu mar,
Do meu mar onde escondo
as minhas palavras…
E os meus barcos de
brincar.
Desce desse pedestal,
Flor em papel colorido,
Cerra os olhos…
Dos teus olhos que
procuro todas as noites,
De todos os luares.
Desce desse pedestal,
E abraça-te ao meu
silêncio…
Do meu silêncio… de amar.
Alijó, 20/05/2023
Francisco Luís Fontinha
sexta-feira, 19 de maio de 2023
Andorinhas em flor
Voávamos e não sabíamos que voávamos,
Voávamos sobre uma cidade
em lágrimas,
Sobre uma cidade que se
escondia depois do pôr-do-sol…
Voávamos entre paredes,
Voávamos,
Voávamos entre janelas,
Voávamos nos olhos um do
outro…
E esperávamos que regressassem
as andorinhas em flor,
Voávamos de pensão em
pensão,
De escadaria em
escadaria,
Voávamos e não sabíamos
que voávamos…
Voávamos de barco em
barco e de mar em mar,
Voávamos nos lábios da
saudade,
Voávamos nas mãos do luar…
Voávamos sobre uma cidade
esquelética,
Uma cidade muito feia,
Uma cidade de engano,
E voávamos também nós…
Enganados,
Voávamos na primeira
lágrima da manhã,
Voávamos no último
sorriso da tarde,
E voávamos sem saber que
voávamos,
E voávamos sem saber que
as nossas asas…
Aos poucos,
Poucos…
Morriam depois de um
poema declamado,
Voávamos na ausência do
sono,
Voávamos nas palavras que
eu te escrevia,
Voávamos enquanto alguém
corria a cidade à nossa procura…
E nunca nos encontrava,
Voávamos, voávamos bem
lato,
Voávamos sobre a copa das
árvores,
Onde dormiam os pássaros
que nos ensinaram a voar,
Voávamos durante o dia,
Voávamos durante a noite…
Voávamos à procura das
estrelas que alguém lançou ao mar,
Voávamos,
Voávamos…
Voávamos enquanto o
desejo nos consumia…
E continuávamos a voar,
E voávamos,
Voávamos entre janelas,
Voávamos nos olhos um do
outro…
E esperávamos que regressassem
as andorinhas em flor.
Alijó, 19/05/2023
Francisco Luís Fontinha
Das tuas cores
Todas as cores, meu amor,
Todas as cores são as
tuas cores,
Todas as cores, das tuas
cores,
Das cores que semeias nos
meus olhos,
Sem cor,
Da cor,
Todas as cores, meu amor,
Todas as cores que
pincelas em mim…
São as tuas cores,
São as cores do meu
jardim.
Todas as cores, meu amor,
Todas as cores da paixão,
Quando das cores do
desejo…
Recebo a madrugada,
Quando das tuas cores,
Nas cores, meu amor,
Todas as cores, das tuas
cores…
Recebo esta pobre enxada
Que aos poucos se esconde
na minha mão…
E fico sem as tuas cores,
E fico sem a janela do
teu coração,
De todas as cores, as
tuas cores,
Prefiro a cor beijo,
Todas as cores, meu amor,
Em todas as cores,
Das tuas cores…
As cores…
As tuas cores,
As minhas cores,
De todas as cores, meu amor…
Das cores que semeias nos
meus olhos,
Sem cor,
Da cor,
Todas as cores, meu amor,
Todas as cores que
pincelas em mim…
Alijó, 19/05/2023
Francisco Luís Fontinha
Pedra da saudade
Imagino-te sentada na pedra da saudade,
Imagino-te sentada na
pedra da saudade com um livro na mão,
Imagino-te dento do meu
peito,
Enquanto espero o
regresso do mar,
Da janela, que abri para
receber o mar,
Vejo-te sentada, sentada na
pedra da saudade,
Imagino-te suspensa na
insónia,
Imagino-te suspensa na
insónia enquanto a noite me procura,
Enquanto a noite…
Enquanto a noite bate a
todas as portas do silêncio,
E eu,
Escondido dentro de um círculo
de luz,
Imagino-te à janela do
desejo,
Quando a paixão te abraça…
Quando a paixão acorda,
Imagino-te à janela da
paixão na ânsia de que uma estrela te abrace…
Como eu te abraço na
escuridão do Universo,
Imagino-te em pequenos
voos sobre a cidade… com o mar suspenso nos teus lábios,
E com o vento entrelaçado
no teu cabelo,
Imagino a chuva,
Imagino-te a dançar sob a
chuva…
Imagino-te sentada,
Sentada na pedra da
saudade…
Apenas… sentada… apenas
saudade.
Alijó, 19/05/2023
Francisco Luís Fontinha
quinta-feira, 18 de maio de 2023
Sono pássaro
Havia um pássaro,
Havia um pássaro que
poisava no meu ombro,
Havia um pássaro, havia
um pássaro sono,
Deste velho sono, sem
sono…
Deste velho poeta,
Do poema sono,
Havia um pássaro,
Um pássaro sono,
Do sono pássaro…
E do pássaro sono,
Nasceram as palavras do poema,
Em sono,
Deste sono,
Sem sono…
Havia um pássaro,
Um pássaro sono,
Enquanto sono,
Deste sono,
Deste pássaro em sono,
Havia um pássaro que
poisava nos meus ombros,
Do menino ombros,
Nos ombros do menino…
Havia um pássaro,
Um pássaro… meu amor…
Um pássaro sono,
Sem sono,
Havia um pássaro,
Um velho pássaro…
Deste menino sono,
Deste sono pássaro…
Havia um pássaro,
Um pássaro sono,
Deste sono pássaro…
No meu ombro,
Deste ombro pássaro,
Sobre mim,
Em ti…
Este pássaro sono,
Enquanto o sono,
Este sono…
Esconde-se no meu peito.
Alijó, 18/05/2023
Francisco Luís Fontinha
Janela do teu olhar
Ponho-me à janela,
À janela da vida,
Desta vida,
Quando viva,
Viva esta vida,
Desta vida à janela,
Desta janela,
Da vida,
Em vida…
Ponho-me à janela,
Desta vida,
Enquanto viva,
Desta vida de mar,
No mar da vida,
Enquanto vida,
No mar…
Quando poisa o silêncio nas
tuas mãos…
Ponho-me à janela,
Enquanto janela do teu
olhar…
Na janela viva,
Que viva esta vida,
Ponho-me à janela,
Da janela da vida…
Ponho-me à janela do teu
olhar,
Enquanto janela do teu
olhar,
Da janela…
Enquanto vida,
A vida,
Por vezes…
Sem vida.
Alijó, 18/05/2023
Francisco Luís Fontinha