A
desordem das coisas
Quando
as roldanas da saudade invadem a noite,
Levam-me
o sono,
Levam-me
a alegria dos sonhos
Enquanto
lá fora a ténue madrugada grita sozinha.
Não.
Avisto
os rochedos cravados nos socalcos da insónia,
Visto-me
de branco,
Alimento-me
das palavras semeadas pela enxada da solidão, amanhã,
Um
pedaço de terra tapar-me-á como se fosse um lençol de linho,
Branco
e fino,
Com
desenhos abstractos que só eu consigo ler,
Não.
A
hipotenusa acorrentada à tangente do sofrimento, o seno do desejo, algures
encurralado dentro do triângulo rectângulo, e um vício de seda entranha-se no
teu corpo,
A
geometria da ausência sente-se nos teus lábios,
A
recta do amor escondida na mão dos cristais de prata,
Não,
não, a fotografia minha despede-se do silêncio,
Oiço
os apitos,
Oiço
os navios que partem para o desconhecido,
Não.
Não.
A
desordem das coisas
No
limite da escuridão,
O
alpendre submerso pelas abelhas que procuram a minha fotografia, não, não
preciso de mel, não, não preciso do mar e dos rios sem nome,
Porque
amanhã, um pedaço de terra tapar-me-á como se eu fosse uma pedra sonolenta,
triste, recheada de olhares sem amanhecer,
Não.
Não.
Francisco
Luís Fontinha
quinta-feira,
14 de Abril de 2016