quinta-feira, 14 de abril de 2016

Noite geométrica


A desordem das coisas

Quando as roldanas da saudade invadem a noite,

Levam-me o sono,

Levam-me a alegria dos sonhos

Enquanto lá fora a ténue madrugada grita sozinha.

Não.

Avisto os rochedos cravados nos socalcos da insónia,

Visto-me de branco,

Alimento-me das palavras semeadas pela enxada da solidão, amanhã,

Um pedaço de terra tapar-me-á como se fosse um lençol de linho,

Branco e fino,

Com desenhos abstractos que só eu consigo ler,

Não.

A hipotenusa acorrentada à tangente do sofrimento, o seno do desejo, algures encurralado dentro do triângulo rectângulo, e um vício de seda entranha-se no teu corpo,

A geometria da ausência sente-se nos teus lábios,

A recta do amor escondida na mão dos cristais de prata,

Não, não, a fotografia minha despede-se do silêncio,

Oiço os apitos,

Oiço os navios que partem para o desconhecido,

Não. Não.

A desordem das coisas

No limite da escuridão,

O alpendre submerso pelas abelhas que procuram a minha fotografia, não, não preciso de mel, não, não preciso do mar e dos rios sem nome,

Porque amanhã, um pedaço de terra tapar-me-á como se eu fosse uma pedra sonolenta, triste, recheada de olhares sem amanhecer,

Não.

Não.

 

 

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 14 de Abril de 2016

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