terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Sabes, meu amor, não o sabes porque o amor é estúpido, porque o amor é belo, adormecido na jangada do passado, as pirâmides do desejo entranhadas na solidão…


(ao meu pai)

 

Hoje acordei acreditando que existias

Meu verso complexo

Das tardes tardias,

Hoje acordei acreditando que vivias…

Mas os parágrafos das sinfonias

Adormecendo nos meus lábios,

Hoje sabias que eu regressava,

E, no entanto, ignoraste-o,

Esqueceste-te das minhas palavras,

Das minhas flores recheadas de palavras,

Das minhas palavras recheadas de flores,

Hoje acordei pensando que era dia do Pré…

Nem Pré nem amendoeiras em flor,

Hoje, hoje é o dia do sofrimento,

A amargura transformada de claridade,

O dia morto,

Dentro do caixão do relógio…

Na clandestinidade,

Hoje acordei, meu amor, amor nenhum,

Sou um Plátano centenário esquecido num qualquer cemitério…

Sou cinza

E pó,

Sou pó

E cinza,

Brincando na sanzala do sorriso…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça, 29 de Dezembro de 2015

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Simplifiquei o cansaço, libertei-me das tuas garras e hoje consigo voar…


Simplifiquei o cansaço,

Libertei-me das tuas garras e hoje consigo voar…

Sou livre de amar,

Sou livre de ser amado,

Ou nada das duas, é-me indiferente,

Simplifiquei o desejo,

E hoje é muito mais fácil desejar…

Ser desejado,

Ou nenhuma das duas,

É-me igual,

Indiferente,

Mortal,

O salto para os teus longínquos e proibidos braços,

Estou só, alguns livros e nada mais,

Simplifiquei tudo…

Só não consigo simplificar o amor,

Tão difícil amar…

Amar aquele que nos ama,

Tão difícil amar…

Aquela que nos ama…

Simplifiquei o cansaço,

As noites mal dormidas

Por motivos de preguiça,

O abraço,

Mortal

O salto para o teu olhar,

Fico cego,

Absorvido pelas insígnias do destino

E afins,

Simplifiquei o cansaço,

Libertei-me das tuas garras e hoje consigo voar…

 

Só.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

segunda-feira, 28 de Novembro de 2015

domingo, 27 de dezembro de 2015

Só queria ter uma cabana no cimo do monte, uma mulher que falasse Russo e uma montanha embalsamada no meu corpo, a aventura, o silêncio na procura do abismo, o Natal, prendas, e que se “fodam” as prendas,


E o Natal!

Sabíamos que amanhã não haveria saudade, sabíamos que amanhã não gaivotas poisadas no Tejo, estou muito doente

E o Natal?

Tenho a “Tara mais pesada que o Peso Bruto”, isso é grave, Doutor? Que sim, que nunca mais vou ver o Rio nem as montanhas nem as prendas, nem…

O Natal?

Quero lá saber dele, nunca goitei dele, prendas, e que se “fodam” as prendas, e todos os dias vinte e cinco de cada mês… estou muito doente, tenho a “Tara mais pesada que o Peso Bruto”, gravíssimo meu Caro, gravíssimo meu Caro, pronto, estou “fodido” a caminho dos cinquenta tudo aparece, é o Natal, é a Tara, é a porra da idade, e nem o Caracol me consegue valer, sobe, sobe… e puf… parede abaixo, capotou mesmo em cima da mulher que sabia falar Russo, tristeza, a Tara… e eu só queria ter uma cabana no cimo do monte, uma mulher que falasse Russo e uma montanha embalsamada no meu corpo, a aventura, o silêncio na procura do abismo, o Natal, prendas, e que se “fodam” as prendas, prendas…

 

(ficção)

Francisco Luís Fontinha – Alijó

domingo, 27 de Dezembro de 2015

sábado, 26 de dezembro de 2015

O ditado cansado das pedras de brincar, o silêncio mergulhado no luar, e todas as coisas dormindo, famintas as minhas palavras, complexos os meus abraços, que são poucos, meu amor, que são poucos,


Irrito-me com a tua passividade,

A conformidade, o abismo vermelho das abelhas em flor, o sonambulismo dos meus sonhos,

Além, cartas de amor preguiçosas, voando sobre as gaivotas,

Irrito-me comigo, com a janela do meu quarto, e com os teus beijos,

Meu amor,

Com os teus beijos,

Quando regressa a penumbra e acorda a sinfonia do Adeus,

Tão fácil, meu amor, tão fácil… o amor,

E fugir de “Deus”, tão fácil meu amor…

Irrito-me com as minhas conversas suspensas nos candeeiros do cansaço,

Irrito-me, meu amor, irrito-me com o triciclo da minha infância, um triste triciclo, que me amava, tenho a certeza,

O único amor da minha vida,

Um pedaço de madeira, três rodas e um coração do tamanho do Universo, que saudades, dele, meu amor, que saudades,

Irrito-me com o teu corpo desenhado na geada, parece-me mais gordo, parece-me mais desejado, mas, mas meu amor, é tudo uma ilusão de óptica, ilusão, ilusão,

O abstracto sorriso do palhaço rico, a gargalhada do palhaço pobre, e sinto-me um circo, ambulante, de terra em terra, a vender amor e coisinhas em cartolina,

Que saudades, meu amor

Que saudades dos Domingos à janela, olhar-te, meu amor, olhar-te…

Sem saber que pertences aos fantasmas da noite.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 27 de Dezembro de 2015

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Tínhamos prometido separarmo-nos naquela noite, inventamos partes da Teoria de Einstein para recordarmos o que era impossível de recordar, a separação, o fim, e o adeus


Ontem recebi carta dela, está tudo bem, os arrozais ainda dormem, os coqueiros soluçam entre os finos cortinados de tristeza e a claridade do fim de tarde,

Adeus, ontem recebi, a carta vinha amarrotada, cansada, e embalsamada como as rosas no interior de um livro, o parvalhão de um livro,

Se algum dia eu abraçava uma rosa embalsamada…

De um livro, muitos anos, Einstein para recordarmos o que era impossível de recordar, a separação, o fim, e o adeus das gaivotas a cada encerrar de uma janela que só a dor consegue fazer sobreviver,

Tínhamos,

Inventamos o amor “transtemporal” os catetos, a hipotenusa, a verruga, o cinzeiro a abarrotar de conversas sem nexo, nunca tive um sonho, morri sempre na praia, nunca, se algum dia eu abraçava uma rosa embalsamada…, nem eu, ouvia-a

Tínhamos, não sonhos, não sorrisos, não beijos, nem um simples calendário suspenso na cozinha, nunca sabíamos a quanto andávamos, se era terça-feira, sexta-feira… tanto faz, ouvia-a, irritava-me com a sua ausência, mas sempre que podia

Partia, levava todas as roupas e todos os livros, até as velhas cartas transportava na bagageira, e nunca me disse adeus,

Amanhã,

Me disse adeus, até amanhã, amo-te, nada, nada

Como hoje

Nada.

 

(ficção)

Francisco Luís Fontinha – Alijó

sexta-feira, 25 de Dezembro de 2015

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Caracol parede acima, caracol parede abaixo, “cagarin-cagarou”, amanhã é outro dia, amanhã será um novo dia de…


Ela é a mulher mais bela do Universo, incendeia montanhas, submerge aldeias, e “cagarin-cagarou” que amanhã é outro dia, uma nação em desordem, a aldeia a vomitar silabas como quem vomita poemas de álcool, e o meu corco docemente embalsamado pela tristeza, a “rita” embriagada esperando o seu amante, e tarde após tarde, esta irritante fotografia desfocada, caracol parede acima, caracol parede abaixo, foi-se

A Gravidade da gravidade, o inchaço da pornografia nos lábios do pornografo, abstracto corpo voando para leste, depois desceram as madrugadas

Amanhã, mor?

Depois desceram as madrugadas, ele, “cagarin-cagarou”,” e que com paciência até se vai ao cu de uma formiga”, duvido, não acredito no Caracol parede acima, caracol parede abaixo, tretas dele, como se o caracol fosse um pássaro de lábios pintados, vermelho anoitecer na face da lua,

“cagarin-cagarou”,

 Da lua um sorriso de sono…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

quinta-feira, 24 de Dezembro de 2015

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

E ninguém, e ninguém disponível para assassinar a tristeza que habita esta casa…


O desejado silêncio

Deitado no obscuro beijo

No centro do círculo da solidão,

A cidade ainda dorme,

Provavelmente acordará sem perceber que o amor está acorrentado aos rochedos da montanha do “adeus”,

Não importa,

Deixá-lo estar até que a noite caia

E se erga a escuridão ao pescoço da morte,

Batem à porta,

Certamente não é o carteiro…

Porque durante a noite não recebo cartas tuas,

Será o desejado silêncio

Deitado no obscuro beijo

No centro do círculo da solidão?

O cubo junto ao mar,

O raio da circunferência quase a desfalecer…

E a maldita cidade

Dorme,

Abstrai-se do meu corpo

Como todas as figuras geométricas clandestinas do meu caderno quadriculado,

A janela encerrada desde a tua partida,

Os livros em finíssimas fatias de melancolia esperando o teu regresso,

E os papéis escritos…

No cesto triangular onde guardo os poemas perdidos,

E ninguém, e ninguém disponível para assassinar a tristeza

Que habita esta casa…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

quarta-feira, 23 de Dezembro de 2015