quarta-feira, 25 de junho de 2014

Desejo não desejando


Desejo o coração de arroz doce que habita em ti,
desejo-te sabendo que é impossível desejar-te,
amo-te sabendo que...
é impossível amar-te,
acaricio-te sem te acariciar,
poema vagabundo,
texto de ficção não revisto,
palavras,
palavras de vidro espetadas nas tuas pálpebras de azoto,
desejo o coração, aquele que está encerrado na caixinha de vinil,
transparente como as lágrimas do luar,
perdidamente triste esperando o sol junto ao leito do rio,

Desejo não desejando,

Desejo o teu coração como desejo os versos de uma canção,
melódica,
poética...
apaixonada pelo agreste amanhecer dos dias sem madrugada,

Desejo não desejando,
desejar que me desejes, desejar que amanhã um relógio de pulso se canse,
e grite...
morra o tédio,

Desejo não desejando,

O coração de arroz doce que habita em ti,
os pedacinhos de saudade que voam sobre o Tejo adormecido,
desejo todas as pedras da calçada,
aquela..., aquela onde andei perdido,
desesperado,
quando cambaleava ao som de uma prostituta sem nome,
deitava-se e..., desejava-te não o sabendo,
havia lâmpadas no teu olhar,
havia livros nos teus braços,
nos seios teus de encantar...
Desejo não desejando,
que um dia apareças... apareças sem me avisar.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 25 de Junho de 2014

terça-feira, 24 de junho de 2014

ADEUS, ADEUS... ADEUS!


Este caixote que me enforca,
estas lâminas invisíveis consumidas pelo fogo,
a entranharem-se neste corpo amorfo,
e sinto os espelhos que habitam no meu cabelo a comerem as vozes da noite,
este caixote é uma prisão com grades de granito,
e dentro de mim, solta-se o grito,
uma revolta a alicerçar-se no luar,
antes da insónia abrir a janela dos sonhos,

Este caixote disfarçado de beijo,
estes tentáculos enrolados no meu pescoço,
que... que não me deixam respirar,
comer...
ou fumar,

Este caixote construído de sombras,
esta garganta iluminada pelos sons das melódicas cigarras,
este estúpido caixote, este parvalhão sorriso a escorrer calçada abaixo...

E... e acaba por morrer no mar,
este caixote de amar,
que me enforca, que me seduz... e ao mesmo tempo... e ao mesmo tempo me enlouquece,
como uma criança sem pátria,
como uma árvore sem terra,
sol...
este caixote que me enforca,
e escreve no meu corpo...

ADEUS, ADEUS... ADEUS!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 24 de Junho de 2014

Montes cinzentos...!


Porque me inquietas, sorriso lapidado dos montes cinzentos...!
sinto o abstracto silêncio navegar na tua pérola mão,
despeço-me da fogueira em solidão..., com aplausos, com... com infinitos beijos,
absorvo-te com a esponja do meu coração,
mas... mas... não sei que dia é hoje,
mas... mas não sei em que ano nasceste,
… e morreste,
montes cinzentos,

Porque me inquietas...

Noites ínfimas com sabor a desejo,
páginas muitas, algumas, algumas... sem palavras,
inquietas-me,
e foges como as amendoeiras em flor,

Porque teimas em desenhar no meu corpo borboletas,
e pássaros de papel...!
inquietas-me, tanto, tanto... tanto que tu me inquietas,
depois de descer o cortinado nocturno da dor,
depois de acordarem todos os marinheiros com odor a sabão...
inquietas-me,
e... e foges,
foges para os montes cinzentos.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 24 de Junho de 2014

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Três incógnitas e um corpo


Tens um X no espelho dos teus lábios,
há um Y no centro do teu peito, deslocando-se em pequeníssimos milímetros,
ora para a direita, ora para a esquerda,
depois, mais abaixo, no teu umbigo... o desgraçado Z, desnorteado, sem saber o que fazer,
como eu, um corpo deambulando entre a raiz quadrada da solidão,
e uma mísera folha quadriculada, feia, e abandonada,
gravitando em volta dos teus seios,
procuro-me nos três ponto algures no espaço do teu desejo,
peço-te um beijo,
e tu, tu respondes-me com uma equação sem solução,
e obrigas-me a rotações ímpares, sem local para aportar,
como os barcos recheados de quadriláteros,

O meu corpo ancora no Z que adormece no teu umbigo,
transforma-se em três eixos, sinto-me tridimensional, raivoso, animal,
esqueço as palavras, esqueço as equações...

(Impossível de resolver)

Lá fora chove,
e hoje o vento entristece as três incógnitas do teu esqueleto com odor a noite sem nome,
há um perfume em ti que me diz... (hoje não o conseguirás),
e não,
desisto desta equação,
desgraçado, eu, eu que não percebo o significado da matriz amar,
talvez transposta,
talvez... talvez mal-disposta,

(Impossível de resolver)

Escrevo números no teu olhar,
silencio-me quando de ti uma parábola acabada de nascer voa como uma gaivota sobre o mar,
os resultados começam a aparecer nas tuas mãos...
o X é igual a paixão...
o Y é igual a cansaço, porque desenhar-te... cansa, Ai como cansa!
e o Z é igual a amor sem saída, rua encerrada, edifício sem transeuntes...

(Impossível de resolver)?

Não,

A equação do teu corpo... tem solução...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 23 de Junho de 2014

domingo, 22 de junho de 2014

horrível... que és


deixas-me nervoso
odeio-te
canso-me das tuas palavras
e do teu sorriso

(horrível... que és)

não percebes que tenho asas
que sei voar...
que tenho sonhos
sonhos de amar...
cansas-me
e odeio-te...
e o teu sorriso
parece uma charrua a entranhar-se na terra agreste
miúdo burra
miúda... miúda sangria
cansas-me
e odeio-te... e odeio-te poesia

(horrível... que és)

insossa
ignóbil
estúpida

burraaaaaaaaaaaaaaaa....
deixas-me nervoso
odeio-te
canso-me das tuas palavras
e do teu sorriso
canso-me da tua rua
dos teus gritos enquanto voo sobre o planalto cinzento
fumo um cigarro
fumo...
recomeço
nada exijo
porque te odeio poesia

(horrível... que és).


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 22 de Junho de 2014

A cidade dos rochedos sem saída


Há uma cidade no teu corpo,
uma cidade proibida, uma cidade com lábios de despedida,
há uma rua pequenina, uma rua com sorriso de menina...
há no teu corpo janelas com vidraças de cansaço,
edifícios abstractos, e portas de entrada sem saída,
há uma cidade no teu corpo,
a cidade de aço,
uma cidade com um beijo morto,

Alicerçam-se as algas nos teus magoados cabelos suspensos no vento...

E a cidade do teu corpo..., é uma cidade de sofrimento,
entre linhas, entre palavras, com sabor a neblina,
há uma cidade preguiçosa no teu corpo,
a cidade eterna, a cidade sem alimento,

Nesta cidade, a cidade que habita no teu corpo, há um mendigo sem sina,
uma estrada longínqua, um rio insípido mergulhado na tua mão,
quero esta cidade, a minha cidade,
quero o teu encerrado coração,

Alicerçam-se as algas nos teus magoados cabelos suspensos no vento...

Há uma cidade no teu corpo que invento,
proibida, proibida como os cacilheiros adormecidos,
a cidade que fervilha,
a cidade que me deseja, e me transporta para os infinitos rochedos,
há uma cidade com bocas, com línguas... com... com medos,
uma cidade de torpedos,
vadia, proibida... uma cidade com esqueletos esquecidos...
(Alicerçam-se as algas nos teus magoados cabelos suspensos no vento...)
que dormem nos teus braços de papel amarrotado.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 22 de Junho de 2014

sábado, 21 de junho de 2014

Qual é a cor do seu silêncio!


Diga-me Senhora, qual é a cor do seu perfume!
Que odor é este, que sabor tem na sua boca,
a lume, ciume,
diga-me Senhora,
de que sanzala é oriunda,
e louca,
que loucura habita no seu olhar,
será ternura?
Será... será o verbo amar...
Ai minha Senhora,
que cansaço desenhar nos seus lábios a mandíbula adormecida,
tão linda, tão... tão querida,

Diga-me Senhora, qual é a cor do seu silêncio!

Que palavras são estas que vagueiam no seu corpo desnudo,
que seios são esses, de algodão, que se transformam em poesia,
quando da noite vem o homem mudo,
e se veste de alegria,

Diga-me Senhora, qual é a cor do seu silêncio!

Ai Senhora, como são lindos os seus beijos,
como são belas as suas coxas de madrugada,
minha Senhora, diga-me... diga-me como é viver no seu peito...
porque eu, eu não tenho jeito...
porque eu, eu sou uma jangada,
perdido nos Oceanos desejos,

Diga-me Senhora, qual é a cor do seu silêncio!

Que tempestade é esta, que força me puxa para os seus braços...
diga-me, diga-me por favor...
diga-me como são os seus anseios, e se existe em si uma janela por abrir,
diga-me Senhora, diga-me quem é o usufrutuário do seu amor,
e de que cor,
e o odor,
dos seus abraços,
… em... em flor.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 21 de Junho de 2014