domingo, 2 de setembro de 2012

livres como os pássaros pintados no mural do esquecimento

atravessávamos o espelho do amor
e com a tua mão entrelaçada na minha
viajávamos como crianças loucas
em direcção aos pontos de luz

brincávamos com os teus cabelos suspensos no topo das estrelas
e um silêncio lânguido crescia no coração de uma flor
vivíamos dentro de uma seara sem fronteiras
e éramos livres como os pássaros pintados no mural do esquecimento

os rios emagreciam
choravam

e longas filas de mel
adormeciam nas janelas da noite
os rios emagreciam
como emagrecem os meus sonhos

(e tenho a certeza que nunca irei abraçar-te).

sábado, 1 de setembro de 2012

As estrelas sem nome

Escolho a primeira pedra do amanhecer
e abdico do desejo a que tenho direito
deixaram de me interessar os desejos e os sonhos
escolho a primeira pedra do amanhecer
e espero que os pássaros na acácia madrugada
desçam para junto do mar
e que da terra vermelha
cresçam as migalhas de suor que alimentam as estrelas sem nome

sem terra
sem destino
sem amigos
apenas entre as pedras da calçada
ruas desertas nas esplanadas imaginadas por um solitário louco
e mendigos com uma sebenta na algibeira
e cigarros de enrolar com que escrevem palavras
na sebenta sem terra sem destino sem amigos....

(as estrelas sem nome)

escolho a primeira pedra do amanhecer
e acredito que um dia
regressarei aos teus braços embrulhados no mar
no mar sem terra sem destino e sem amigos
um mar só meu
um mar com barcos de brincar
e papagaios de papel no céu nocturno da solidão
antes do cacimbo adormecer nos teus ossos de silêncio infância.

(poema não revisto)

sexta-feira, 31 de agosto de 2012


Lua Azul

Tão triste
ver o silêncio da Lua Azul
e saber que o teu sorriso
deixou de acordar
Tão triste
ver o silêncio da Lua Azul
e saber que o teu olhar
cessou no jardim da saudade

tão triste
hoje
a noite

com a cidade construída de medo
e janelas de sofrimento
as lágrimas de luz
sobem aos móveis da melancolia

o vento
tão triste
hoje a noite de Lua Azul...

(poema não revisto)

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

This is a message from Misrek Masih, of Islamabad, Pakistan.



Last week an enraged crowd threatened to burn my daughter alive, and in 48 hours a judge will decide whether she goes free or stays in jail. Rimsha is a minor with mental disabil
ities and often isn't in control of her actions. Yet local police here in Pakistan have charged her with desecrating the Koran, and we are afraid for her life.

Right now she is being held in a maximum-security jail, and in hours, she will face the court under Pakistan's anti-blasphemy laws, which carry the death sentence. We are a poor Christian family, witnessing mob fury over my daughter's case, and many other families have faced similar intimidation forcing them to either flee or live in fear. But the international attention on Rimsha’s case has emboldened Pakistani Muslim leaders to speak out against this injustice and forced President Zardari's attention.

Please help me keep up the global outcry on my daughter's case. I urge you to sign my petition to President Zardari to save Rimsha and demand protection for us and other vulnerable minority families. Avaaz will share this campaign with the local and international media, watched carefully by all the politicians here.

o pescador de sonhos


oiço o suicídio do pescador de sonhos
no mar da tranquilidade
oiço as lágrimas do monte de sucata onde habita no meu corpo
e restos de chapa canelada, limalha de aço e pedaços de silêncio...

tomam conta do meu coração

(só, só, nunca estive tão só
e o vento não se cansa de soprar
em cada suicídio do pescador de sonhos)

a cidade atravessa o vale infinitamente belo
recheado com amêndoas
ovos de chocolate
e pássaros que inventam sonhos nas folhas emagrecidas das árvores do cemitério
as lápides
voam entre os restos de tristeza que sobejam das aboboras com olhos de mel
e as fotografias
oiço

(tomam conta do meu coração)

Oiço o suicídio do pescador de sonhos
no mar da tranquilidade

e percebo que estou completamente só junto ao rochedo dos sonhos
tomam conta do meu coração
as pedras
e as ervas

oiço

oiço a voz de uma sombra
oiço
vestida de mulher

(poema não revisto)

Serei feliz assim?

Friamente habitar no teu corpo
ardente
quando tropeço no mar
absorto
morto
sem vontade de acordar

friamente os sorrisos da alvorada
como cinco gaivotas envenenadas pelos silêncios da noite
amadas sobre o divã invisível poisado no pavimento sem esquinas de luz
nos corredores da morte

friamente o Tejo me engole quando mergulho dentro dos lençóis da solidão
um barco é impossível
nas coxas de um cacilheiro em direcção ao Seixal
e entra em mim o cheiro suficiente para me fazer sonhar
há a possibilidade de eu acordar no solo lunar da margem Sul
sentado numa pedra a imaginar palavras nas ardósias do infinito

serei feliz assim?

Metade de mim xisto
e a outra metade
pequenos grãos de pólen
nos desejos das abelhas

serei amado?

Quando todas as portas se encerram friamente
no sono das estrelas preguiçosas
alegremente

assim?

Serei?

Quando tropeço no mar
e de uma rosa de papel
um beijo acorda
abraçado a fios de nylon...

(poema não revisto)