sábado, 18 de abril de 2015

Círculos no teu olhar


O amor é uma lâmina de pedra

Cravada no coração

É o pedestal sem estátua

O amor é a lágrima da solidão

Descendo docemente o teu corpo

Enrola-se nos teus seios

Poisa pausadamente nas tuas coxas

E dorme no teu ventre

Crescem dentro de ti as palavras

E os Oceanos de Luz

Corre o rio da insónia

Que a noite leva

E come

Nas cidades sem pálpebras

O sangue

O teu

Voando em todas as Primaveras

Do calendário da paixão

Alicerça-se à tua boca

Como sargaços de aço

Em morte lenta

Junto ao barco do destino

A madrugada incendiada

Pelos teus lábios de inocência

Como os livros que nunca vou escrever

Uma noite

É o amor nocturno sem vagar para abrir as comportas dos líquidos sonoros do teu púbis

A janela sem cortinado

Lá fora

As miúdas de palha de patins em linha

Danças

Sobre a cama

Suspendes-te no tecto da saudade

Sem ter tempo para a saudade

Uma noite

O amor

Não tem saudade

É o volátil cansaço dos jardins em flor

Os tentáculos de marfim

Nos dentes de um crocodilo

Velho

Uma noite

Alicerça-se à tua boca

Como sargaços de aço

Em morte lenta

Os tristes poemas da amargura

O cais em engate

Como às cordas do silêncio

No pescoço da alvorada

No teu corpo

O corpo

Do cacimbo embriagado

Na tua mão

A enxada da poesia

E o medo toma conta de nós

Não percebo os segredos proibidos

Das clarabóias do infinito

Vejo no teu corpo

A lua recheada de poeira

Ao centro

Sobre a mesa

O teu corpo

Despido das pétalas em cartolina colorida

A sombra do teu cabelo deitada na almofada

O primeiro beijo antes da primeira palavra

(O amor é uma lâmina de pedra

Cravada no coração

É o pedestal sem estátua

O amor é a lágrima da solidão

Descendo docemente o teu corpo

Enrola-se nos teus seios

Poisa pausadamente nas tuas coxas

E dorme no teu ventre)

A primeira palavra

Antes do primeiro orgasmo

A sílaba no teu primeiro poema

Escrito no meu corpo

Ensanguentado de veludo

E de fotografias de mortos

Aleatoriamente dormindo na montanha da melancolia

A ardósia tarde partindo em direcção ao mar

Leva-te

Leva-te como são levadas todas as manhãs da minha secretária

O teu corpo

No meu corpo

Invisíveis marés de espuma

O sémen desenhando círculos no teu olhar

E dizem-nos que o impossível

É possível

É comestível

E no entanto

O amor é uma lâmina de pedra

Cravada no coração…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 18 de Abril de 2015

Deitar só…


Hoje

Conversei com a noite

Como estás?

Há tanto tempo que não te via…

Estou

Aqui

Estou bem

Obrigado

Percebo que o amor

É um poema de “merda”

Amar é sofrer

Preferia resolver

 

Equações complexas

Davam-me mais prazer

E não tinha medo de perder…

Aquilo que nunca tive

Regressar a ti

Aos teus braços de constelação apaixonada

A essência dos delírios em Cais do Sodré

Não é

Meu amor

O passado

Uma fotografia do futuro?

O amor é orgasmo

 

(li hoje num poema de uma amiga)

O amor é orgasmo

É silêncio

Na boca da esperança

Perdia-a

Perdi-me

Nas tuas avenidas

De luz

Com pontes

As matrizes

Deambulando nos teus seios

Os dardos do sofrimento

 

Todos

Eles

No meu peito de granito

Perdi as lágrimas

E o futuro

Vivo

Acreditando que não vivo

Escrevo

Mas sei que não escrevo

Tenho medo

Daquilo que os outros pensam

É maluquinho…

 

Poemas de amor…

Já ninguém os escreve

Há nas ruas da minha solidão

O fantasma da velhice

Acordar

E

Deitar

Só…

Os alfinetes da saudade

Imaginados

Nas nádegas dos orgasmos invisíveis…

Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

 

Os cortinados envenenados pela paixão

Meu amor

Nas nádegas o sorriso da censura

Nada espero de ti

Porque nunca esperei nada

De nada

Apenas dos orgasmos meu amor

Das palavras

Entre palavras

Dois corpos de palavras

O amor

Os solitários

 

Os beijos desenhados nas cancelas da madrugada

Não encontra o número do cubículo

Procura na algibeira as chaves do púbis enganado

Ele

Desempregado

Das palavras

Entre palavras

Gemidos

Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

E a vida termina…

Numa ruela

Sem… sem saída.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 18 de Abril de 2015

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Esqueletos de luz


O arco e flecha encurralados na floresta

O arco-íris do teu olhar

Sem cor

Nu

No escuro tormento da dor

A raiva do xisto contra as mãos do velho

O chapéu dançando conforme ia crescendo a embriaguez

O dia

Esfumava-se entre os dedos

Nunca conheceu a alegria

Nem sabia

Da morte

Nas palavras

Pálpebras do engano

Não comia

E de vez em quando

Sentia

Na garganta

Os alicates do sono

Tinha medo do rio

E do seu nome

Dizia que as árvores eram toalhas em renda

Deitadas nas acácias do sonho

Habitava nas rochas

Nunca lhe conheci casa

Mulher

Ou…

Ou família

També não interessa

Lamentava-se

Enquanto tropeçava nos candeeiros

Semeados no centro do passeio

E perguntava-se…

Quem foi o filho da” puta” que mandou colocar os candeeiros no meio do passeio…?

Alguém mais embriagado do que ele

Alguém mais parvalhão do que eu

Porque eu e ele

Somos um

A minha imagem projectada na parede

Éramos dois

Combóis de silêncio

Descendo a Ajuda

(O arco e flecha encurralados na floresta

O arco-íris do teu olhar

Sem cor

Nu)

E eu

Dois esqueletos na parede…

Não há cigarros hoje

E amanhã…

Dois

Um

Dois

Descíamos

E subíamos

As escadas do desejo

A espingarda disparava canetas de tinta permanente

O caderno preto

Gemendo no crivo da madrugada

Não sabia que as pedras choravam

Quando eu acordava

Desalmado

Embalsamado

E enforcado no peitoril enlouquecido

Ela gritava-me do limiar da pobreza

Não

Não…

Hoje não

Terminava o dia

E o tédio

Regressava

Sem bagagem…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 17 de Abril de 2015

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Cartas não escritas…


O pecado que o amor confere à paixão

Impregnado numa imagem sem som

Dactilografada

Nos teus dedos

À tua boca

A minha boca

O barro incendiado pela alegria das campânulas de luz

Nu

O corpo

Seduz

O corpo seduz a alegria do poeta

Fugir não adianta

 

Não há sítio onde me possa esconder

Nu

O corpo

Seduz

Os homens

Tombando numa parada militar imaginada

Pelo silêncio da tua pele

O sangue fervilha na ribeira ardósia das cansadas sestas

Dentro de casa

O nome gravado na parede da sala

A falsidade manhã

Em despedida

 

Até mais… meu amor

O Tejo embriagado nas tuas sílabas de medo

Belém na minha algibeira

Tormentosa

E vazia

(as gajas não querem gajos tesos)

Eu sei

Meu amor

Que tínhamos encerrado as janelas do prazer

O café esperava-nos

E nunca percebi o teu cheiro

Cheiravas a incenso

 

Alguns livros

E àquele sorriso de inocência

Depois

A tempestade

A chuva disfarçada de má sorte

(as gajas não querem gajos tesos)

Eu sei

Meu amor

No eterno cemitério da fantasia

Sinto-o quando recordo a tua morte

E visito a tua lápide

Meu amor

 

Sem palavras

Fotografia

Esquecida entre uma cruz em madeira

Cabras

O pasto cinzento dos teus gemidos

Ele

Alicerçava-se aos carris do inferno

Beijavam-se

E extinguia-se o dia no sótão da literatura

Sabes

Meu amor?

Cansei-me das tuas cartas não escritas…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 16 de Abril de 2015

Coisas & Coisas


Radiografia de orgasmos

Acompanhando os ossos do sofrimento

Descem à tua mão os lábios

Que o beijo pintado

Nas veias do vento

Escreve na caneta de tinta permanente

As palavras

As palavras que não consigo dizer

Porque a minha boca

É uma prisão

Em sabão

Sem nunca ter regressado

 

Às coxas

Tuas pinceladas coxas

Meu amor

Ou não meu amor

Tanto faz

Na minha idade

Ser amado

Amar

Ou… um palhaço pintado

No olhar da serpente de ferro

Nas sombras de Lisboa

Meu amor

 

Ou não meu amor

Amo

- A mim?

Amo Lisboa e o seu rio

Os marinheiros embriagados pelo fado nocturno do silêncio

A morte da guitarra

Meu amor

Ou não meu amor

Eu

Perdido

Numa estrada curvilínea

Assassina nas horas vagas

 

Faz uns bicos

Gama umas carteiras vazias

E foge

Leva os filhos e os não filhos

Leva as sebentas

Recomeça o curso

Uma treta

Comparando um curso

Com… com a tua letra

Das cartas rejeitadas

Meu amor

Ou não meu amor

 

A música cansada das tardes de Domingo

A fotografia da Igreja junto à lareira

Ouvia o sino enquanto lia no quarto

Três da madrugada

Tu à janela desenhando cigarros na fome melancólica da paixão dos pássaros e dos peixes desta ilha funda e deserta, coitados dos homens apaixonados, compram livros, vestem as personagens de noite

E

Engate

O automóvel alicerça-se ao asfalto do prazer

Lá dentro

Gemem poemas

E engate

Às três da tarde

 

Consultório

A clínica esperando o engatado

Uma coisa simples

Bom homem, culto, esbelto… e… uma coisa simples

A liberdade de amar

A liberdade de ser amado

Ou

O engate

Odiado

Como as candeias da prisão de Caxias…

E coisas

Coisas de coisas.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 16 de Abril de 2015