Há nele um louco amor que anoitece abraçado às
montanhas onde vivem crateras e cereais de luz com sabor a chocolate,
e pior do que isto, pensava ele
- Só a Coreia do Norte,
O que é para mim um louco amor? Não sei, não sei
- Só a Coreia do Norte,
Não
Pensava,
- Sei que, talvez, alicerçava nele as castanhas
ruas da melancolia, desejava voar como voavam as carcaças de madeira
à porta das tabernas nuas de espuma, sem janelas, e na proa dorme um
marinheiro louco
O amor desejado quando o desejo é impossível de
subir às lâmpadas corcunda da lua, asas de gaivota penduradas no
mastro onde a vela da morte, balança, esquia, nua, as palavras do
marinheiro amado louco sem mãos, e pensava ele
- Que o amor não se explica, vive-se, constrói-se
como as pontes de aço sobre os rios amaldiçoados, enjoados,
doentes, desde criança à procura de um cavalo branco, e desde
criança
Só a Coreia do Norte,
- Não
Pensava,
- E desde criança os fantasmas vestidos com panos
pretos deambulando de taberna em taberna, os marinheiros da aldeia
dormiam, e as velas brancas com desenhos abstractos pediam vento para
zarparem, não vinhas, parecias triste, e no entanto, e no entanto
sabias que em cada casa havia uma tigela de fome e um pedaço de pão
bolorento, e o arroz descia inutilmente a cada boca esfomeada como as
serpentes dos jardins encantados quando um vulto embrulhados em panos
deixa cair os sons melódicos de uma triste flauta, voavas sobre as
árvores distantes das ruas castanhas que cobriam os seios da aldeia,
estavas triste e pior do que isto
Só a Coreia do Norte, não, talvez, um dia disse
que ia embora e que nunca mais regressava, não partiu e nunca
regressou, dizem, quem sabe, que ele caiu num buraco negro e deve
andar perdido como as abelhas quando cai a noite, mas ele nunca tinha
olhado a noite
Pensava
- Não
Talvez só a Coreia do Norte, e o arroz descia
inutilmente a cada boca esfomeada como as serpentes dos jardins
encantados quando um vulto embrulhados em panos deixa cair os sons
melódicos de uma triste flauta, voavas sobre as árvores distantes
das ruas castanhas que cobriam os seios da aldeia, estavas triste e
pior do que isto
Talvez...
( )
(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó