Subiam a montanha em direcção ao sítio onde viviam as nuvens de
prata, rastejavam dentro do silêncio com a ajuda de uma mão
envelhecida, moribunda, recheada com algerozes e janelas com
cortinados de papel, subiam, docemente, subiam a montanha conhecida
como a velha montanha dos sonhos impossíveis de realizar,
percebia-se no ar pesado a respiração dos cadáveres adormecidos
pelos versos do poeta marreco, louco, porco, que habitava numa cabana
junto a uma ribeira com braços de luz e pernas de vidro, à lareira,
sentindo as imagens furiosas das pessoas enlatadas que deambulavam
nas esquinas do orvalho, estava frio, muito, e os cães vadios
procuravam em pequenos cardumes de prata as coisas boas da vida,
tínhamos medo, não dormíamos porque das árvores, às vezes,
desciam esqueletos com canetas de tinta permanente espetadas nos
olhos, e na boca
Pequenos segredos de saliva com finos olhares que as ardósia escreviam nas planícies da insónia, não, não sabíamos que a montanha era invisível, não, não sabíamos que a ribeira e os esqueletos com canetas de tinta permanente espetadas
Nos olhos,
Pequenos segredos de saliva com finos olhares que as ardósia escreviam nas planícies da insónia, não, não sabíamos que a montanha era invisível, não, não sabíamos que a ribeira e os esqueletos com canetas de tinta permanente espetadas
Nos olhos,
Eram fantasmas desenhados pelo poeta marreco, louco,
Nos olhos,
Subiam a montanha em direcção ao sítio, uma
pequena fogueira de vaidade emergia sobre as rochas prateadas onde
dormiam os cães vadios
Nos olhos
O louco poeta marreco...
( )
(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó