Há olhares suspensos no canganho da
saudade
há saudade dissolvida na esfera da
manhã
quando o rio esmagado pela tristeza do
sol
dorme docemente entre as nuvens de
algodão
olho os teus seios sem sentido
em busca da água fresca da montanha
evaporo-me
e escondo-me
quando as cortinas dos teus cabelos
e evaporo-me
e escondo-me
nos teus lábios desenhados na sombra
da noite
quando as cortinas dos teus cabelos
enlouquecem os machimbombos
que brincam nas ruas de uma fotografia
e Luanda desaparece
e de Luanda chega até mim o cheiro da
neblina que afaga um papagaio de papel
prendo o cordel ao portão de entrada
e sinto
evaporo-me
e escondo-me
e sinto o quintal a subir até ao céu
de estrelas vermelhas
e sei que na lua...
os teus seios
e sinto
nas rodas dentadas do tempo
as árvores de papel prensado
e sei que na lua habita um menino com
um triciclo de mel.
(poema não revisto)