sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Se o amor existe (quero-o)


Às escadas solitárias
da casa assombrada
um vidro de imensidão fúnebre
abraça o cadáver da noite
pergunto-me se o amor existe
ou
ou não passa de um sonho encalhado no oceano da insónia
perfeitamente mergulhada nas planícies entre as paredes da infância

às escadas
a solidão
às escadas da morte o perfume das rosas de papel
que a miúda do rés-do-chão esquerdo construiu com sorrisos de medo
e lágrimas de incenso

é de noite
e todas as estrelas dormem dentro da casa assombrada

às escadas solitárias
chegam os uivos e gemidos de um mar imaginado
que o miúdo com sorrisos de medo
irmão da miúda com sorrisos de medo
espera pela chegada das árvores do Outono

é de noite
e todas as estrelas dormem dentro da casa assombrada

e eu sinto-me milimetricamente enjaulado nas três paredes de veludo
com um crucifixo suspenso
circunflexo
à roulote da vida
o circo com trapezistas e palhaços e crianças com sono

é de noite
e todas as estrelas dormem dentro da casa assombrada
pergunto-me se o amor existe
e percebo que todos os cigarros da saudade
morreram
e hoje uma ténue luz substitui a clarabóias do sonho

se o amor existe
(quero-o).

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