Às escadas solitárias
da casa assombrada
um vidro de imensidão fúnebre
abraça o cadáver da noite
pergunto-me se o amor existe
ou
ou não passa de um sonho encalhado no
oceano da insónia
perfeitamente mergulhada nas planícies
entre as paredes da infância
às escadas
a solidão
às escadas da morte o perfume das
rosas de papel
que a miúda do rés-do-chão esquerdo
construiu com sorrisos de medo
e lágrimas de incenso
é de noite
e todas as estrelas dormem dentro da
casa assombrada
às escadas solitárias
chegam os uivos e gemidos de um mar
imaginado
que o miúdo com sorrisos de medo
irmão da miúda com sorrisos de medo
espera pela chegada das árvores do
Outono
é de noite
e todas as estrelas dormem dentro da
casa assombrada
e eu sinto-me milimetricamente
enjaulado nas três paredes de veludo
com um crucifixo suspenso
circunflexo
à roulote da vida
o circo com trapezistas e palhaços e
crianças com sono
é de noite
e todas as estrelas dormem dentro da
casa assombrada
pergunto-me se o amor existe
e percebo que todos os cigarros da
saudade
morreram
e hoje uma ténue luz substitui a
clarabóias do sonho
se o amor existe
(quero-o).
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