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sábado, 14 de outubro de 2023

Vida


Talvez a vida tenha começado no espaço

Frio e escuro

Dizem eles

Os cientistas

Talvez a vida tenha vindo do espaço…

Mas eles dizem tanta coisa…

Que eu não sobrevivia aos primeiros meses de vida

E cá estou eu

Sentado numa cadeira

Em frente ao mar…

À espera

À espera de que o mar me leve

E a escrever parvoíces.

 

Talvez a vida seja apenas uma imagem

Reflectida no espelho da insónia

Talvez a vida tenha começado fora

Fora da Terra

E eu

Aqui

A queixar-me da vida.

 

Talvez a vida tenha começado na tua mão

Também ela

Reflectida no espelho da insónia

Também ela

Perdida em frente ao mar

À espera

À espera da minha vida

Da minha mão.

 

Talvez a vida tenha começado na minha rua

Em frente à minha casa

No número quinze

Terceiro esquerdo

Talvez a vida

Talvez a vida tenha começado no teu silêncio

Quando me olhas…

E nem bom dia me dizes

Talvez a vida…

Eles dizem tanta coisa…

 

Talvez a vida tenha vindo dos teus olhos

Também eles reflectidos no espelho da insónia

Que existem para me acordar

Que existem para eu contemplar…

Quando acorda a manhã

Quando se deita a noite nos teus braços

E dos teus lábios

Emerge-se a vida

A vida que começou no espaço

Frio e escuro…

 

 

14/10/2023

domingo, 8 de outubro de 2023

Castelo

 

Sentamo-nos.

Suicidamo-nos com o fumo deste cigarro

Quando dispara sobre a manhã

A bala de prata.

Suicidamo-nos com as lágrimas do mar

E sentamo-nos nesta pedra cinzenta,

Velha,

Ferrugenta,

Sentamo-nos e suicidamo-nos pelo entardecer,

Junto ao rio,

Quando o teu corpo não se cansa de arder

E chorar,

O veneno que nos vai matar,

 

No verbo de escrever.

Sentamo-nos no chão com o odor do teu corpo,

Suicidamo-nos com as flores da Primavera…

Voamos para o castelo do silêncio,

Quando os teus lábios se transformam em pigmentos de luz…

Em pedacinhos de amanhecer,

E suicidamo-nos quando acordar o dia,

Quando o sol nascer,

E nos oferecer,

Ao pequeno-almoço…

Poesia.

 

Sentamo-nos.

Suicidamo-nos com o fumo deste cigarro,

Nutriente do meu corpo viver,

Sentamo-nos sobre esta pedra, esta pequenina pedra de veludo…

E suicidamo-nos com as primeiras lágrimas da manhã,

Nós

Sentados…

À espera de que o mar nos leve.

 

 

08/10/2023

domingo, 1 de outubro de 2023

O carrasco

 

Tragam o carrasco

Estou pronto para ser castigado

Sempre estive pronto

Tragam o carrasco

Com os seus alicates

Com as suas garras

Tragam o maldito carrasco

Do dia que nasce

Ao dia que morre

Pronto

Sempre estive pronto para as suas garras

 

Tragam o carrasco

E o saco com os pecados

Tragam vinho

Tragam pão

Uísque

E charros

Tragam o carrasco e castiguem-me

Me atormentem

E me matem

Se Deus quiser

 

Quando cair a noite

Tragam o carrasco

E os seus métodos de tortura

Na fome que dura

Que dura na mão do carrasco

Tragam o carrasco

Tragam a chuva

Que eu mereço

O castigo

Do carrasco

 

 

01/10/2023

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Galeria-boutique El Capitan


 A galeria-boutique El Capitan fica na Foz do Arelho.

Conheci a artista plástica Zahra Aghamiri, descendência Iraniana, pai Iraniano, mãe Americana e marido Inglês.

 Gostei imenso dos seus trabalhos, conversamos sobre as suas origens, processos criativos e ainda deu para tirar uma foto e fazer-lhe um convite para visitar o nosso lindo Douro.

Que tenha muito sucesso.

sábado, 19 de agosto de 2023

Planície

Amo-te

Cabeça dura

Planície alentejana

Figura

Estátua granítica

Como o teu coração

Em tristes grãos de pedra

Montanha em despedida,

 

Amo-te

Cabeça dura

Noite perdida,

 

Amo-te

Invisível silêncio

Quando se ergue a manhã em teus olhos de mar…

E uma amêndoa poisa docemente nos teus lábios,

 

E dos teus lábios… acorda o luar,

Amo-te

Cabeça dura

Planície alentejana

Montanha

Noite perdida

Na noite dos embriões de papel

Em teus lábios de mel

Do mel da boca fugida…

 

 

Alijó, 19/08/2023

Francisco Luís Fontinha

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Lábios de mel



Nos teus olhos de mar

Nascem as púrpuras manhãs de incenso,

Dos olhos de mar

Acordam as madrugadas

E adormecem

Nos teus olhos de mar

As manhãs cansadas,

 

Aos teus olhos de mar

Regressam as gaivotas em papel

E as primeiras palavras do amanhecer,

Nos teus olhos de mar

Esconde-se a paixão,

O beijo…

E o desejo de beijar os teus lábios de mel.

 

 

 

17/08/2023

Francisco Luís Fontinha

domingo, 13 de agosto de 2023

Lágrima assombrada

 

Esqueço os teus olhos de mar

Em mar teus lábios de mel

Esqueço os teus olhos em luar

Do luar que assombra este papel

 

Esqueço a tua boca e o teu cabelo de vento

Esqueço o domingo inventando

Espadas no meu pensamento

Do lamento esquecer os teus olhos que fui sonhando

 

Esqueço que este poema não te pertence

Que este poema morreu junto ao rio

Esqueço a força que me vence

 

Quando a noite se esconde na madrugada

Esqueço que este navio

É uma lágrima assombrada.

 

 

13/08/2023

Francisco

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

Máscara

 

Escondo-me da cidade

Desta cidade invisível

Que me assassina ao acordar

Escondo-me da cidade

Nesta cidade

Quando aparece a manhã no espelho da insónia.

 

Levanto-me

E escondo-me nesta cidade

Nesta cidade de enganos

Nos enganos de cidade.

 

Escondo-me da cidade

Dentro da máscara da cidade

Escondo-me do rio

Desta cidade

Neste gueto

De cidade

Escondo-me da cidade

Na cidade

Enquanto esta cidade…

Arde no meu peito.

 

 

 

13/08/2023

Francisco

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

Miserável

 

Aos olhos da lua,

Sou.

Sou qualquer coisa comestível

Que apenas a noite,

E só a noite,

Consegue mastigar.

Sou

Aos olhos da lua

Uma pequena lágrima de sono,

E abatato-me neste silêncio

E suicido-me nos teus lábios.

 

Aos olhos da lua

Sou.

Sou lágrima em flor,

Sou poeta,

Sou pastor.

Aos olhos da lua

Sou um miserável,

Poeta miserável,

Poeta…

O morto poeta

Quando as mãos da poesia,

Lentamente,

Masturbam a noite.

 

Aos olhos da lua,

Sou.

Sou.

Sou o quê, aos olhos da lua?

Se a lua não tem olhos

E eu,

E eu não sou nada.

 

Aos olhos da lua,

Sou.

Sou canção que se abraça ao rio,

Sou o poema que brota do mar,

Sou a fome,

O fastio,

Aos olhos da lua,

Sou.

Sou trombone na filarmónica,

Sou equação nas mãos dele,

Aos olhos da lua,

Sou.

Aos olhos da lua sou gaveta de armário,

Papel higiénico…

Aos olhos da lua,

Sou…

 

 

13/08/2023

Francisco

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

sábado, 12 de agosto de 2023

Noite de mim

 

Sobre o meu peito

Dança a espada que me vai matar

Lâmina da paixão em desassossego

Como os chocolates que sobejaram da noite passada,

E sobre o meu peito

Esta triste espada

Pesada,

Sobre o meu peito

As cancelas da alvorada se abrem

Sem que do outro lado do rio

Os transeuntes percebam se estou morto

Ou vivo,

 

Sobre o meu peito

A aceleração deste foguete que habita em mim

E em direcção à lua

Parte à descoberta da madrugada,

 

Ergue-se a manhã no meu peito

Da manhã desta espada

Desta espada silenciada

Pelos olhos do mar

Que voam de árvore em árvore,

Sobre o meu peito

A jangada em despedida

Deixa a terra e caminha…

Deixa a terra

E também ela

Como eu

Morre às mãos desta espada,

 

Sobre o meu peito

Dança a espada que me vai matar

Lâmina da paixão em desassossego

Como os chocolates que sobejaram da noite passada,

 

Chocolates da manhã submersa no teu cabelo

Que olha esta espada

E nada faz

E nada faz

Para que esta espada

Que dança sobre o meu peito…

Me mate

E grite;

Está morto.

 

 

12/08/2023

Francisco

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Cavaleiro

 

À primeira lágrima da manhã

Sai de mim a tristeza

Entra no meu corpo o silêncio da alegria

Caravela quinhentista

Cavaleiro das sete espadas subindo a montanha,

À primeira lágrima da manhã

Cresce no meu jardim o poema

Que dança sobre o mar,

E corre e corre

E ninguém o apanha,

À primeira lágrima da manhã

Sai de mim a tristeza

Entra no meu corpo o silêncio da alegria

Que a primeira lágrima da manhã

Desenhou no rio que corre na minha mão.

 

 

 

11/08/2023

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Do ausentado poema o poeta da ausência


 

Podia vestir-me de miséria

Ausentar-me deste silêncio

Que ninguém percebia a minha ausência…

Que ninguém percebia que andava ausentado,

 

Podia vestir-me de miséria

Podia pincelar os lábios de azul-mar

Podia beijar a lua

E beijar o sol

E abraçar o mar,

 

Podia vestir-me de miséria

Ausentar-me deste silêncio

Podia escrever nas paredes da minha solidão…

Que ninguém leria o que tinha escrito,

 

Que ninguém percebia

Que a minha poesia

Não existe

Que sofre e resiste

À minha ausência

Que ninguém percebia que andava ausentado.

 

 

10/08/2023

Manhã

 

Ergue-se sobre mim

A espada que o silêncio desenhou neste triste acordar

Erguem-se dos braços destas árvores

Que brincam no meu jardim

Os segredos do mar,

 

Ergue-se sobre mim

A manhã vestida de negro

Metáfora que o vento sabe esconder

Com tristeza e apego

As longínquas palavras de escrever,

 

Erguem-se e morrem sobre mim

As flores

Cadáveres em papel

Crianças de brincar

Erguem-se sobre mim… as lágrimas do luar.

 

 

10/08/2023