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sábado, 19 de agosto de 2023

Planície

Amo-te

Cabeça dura

Planície alentejana

Figura

Estátua granítica

Como o teu coração

Em tristes grãos de pedra

Montanha em despedida,

 

Amo-te

Cabeça dura

Noite perdida,

 

Amo-te

Invisível silêncio

Quando se ergue a manhã em teus olhos de mar…

E uma amêndoa poisa docemente nos teus lábios,

 

E dos teus lábios… acorda o luar,

Amo-te

Cabeça dura

Planície alentejana

Montanha

Noite perdida

Na noite dos embriões de papel

Em teus lábios de mel

Do mel da boca fugida…

 

 

Alijó, 19/08/2023

Francisco Luís Fontinha

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Lábios de mel



Nos teus olhos de mar

Nascem as púrpuras manhãs de incenso,

Dos olhos de mar

Acordam as madrugadas

E adormecem

Nos teus olhos de mar

As manhãs cansadas,

 

Aos teus olhos de mar

Regressam as gaivotas em papel

E as primeiras palavras do amanhecer,

Nos teus olhos de mar

Esconde-se a paixão,

O beijo…

E o desejo de beijar os teus lábios de mel.

 

 

 

17/08/2023

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 15 de agosto de 2023

Janelas

 


Olhos de amar

 

Perco-me neste labirinto

Procurando a sombra da tua mão

Na tua mão que sinto

Que sinto a tua mão

 

Perco-me dentro deste livro de poesia

Procuro neste livro os teus olhos de mar

Procuro neste livro o sorriso do dia

E as lágrimas do luar

 

Procuro neste labirinto de insónia adormecer

As primeiras palavras da madrugada

E sem querer

 

E sem o desejar

Procuro neste labirinto o teu rosto de cansada…

Quando este labirinto é os teus olhos de mar.

 

 

 

Alijó, 15/08/2023

Francisco Luís Fontinha

domingo, 13 de agosto de 2023

Lágrima assombrada

 

Esqueço os teus olhos de mar

Em mar teus lábios de mel

Esqueço os teus olhos em luar

Do luar que assombra este papel

 

Esqueço a tua boca e o teu cabelo de vento

Esqueço o domingo inventando

Espadas no meu pensamento

Do lamento esquecer os teus olhos que fui sonhando

 

Esqueço que este poema não te pertence

Que este poema morreu junto ao rio

Esqueço a força que me vence

 

Quando a noite se esconde na madrugada

Esqueço que este navio

É uma lágrima assombrada.

 

 

13/08/2023

Francisco

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

Máscara

 

Escondo-me da cidade

Desta cidade invisível

Que me assassina ao acordar

Escondo-me da cidade

Nesta cidade

Quando aparece a manhã no espelho da insónia.

 

Levanto-me

E escondo-me nesta cidade

Nesta cidade de enganos

Nos enganos de cidade.

 

Escondo-me da cidade

Dentro da máscara da cidade

Escondo-me do rio

Desta cidade

Neste gueto

De cidade

Escondo-me da cidade

Na cidade

Enquanto esta cidade…

Arde no meu peito.

 

 

 

13/08/2023

Francisco

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

Miserável

 

Aos olhos da lua,

Sou.

Sou qualquer coisa comestível

Que apenas a noite,

E só a noite,

Consegue mastigar.

Sou

Aos olhos da lua

Uma pequena lágrima de sono,

E abatato-me neste silêncio

E suicido-me nos teus lábios.

 

Aos olhos da lua

Sou.

Sou lágrima em flor,

Sou poeta,

Sou pastor.

Aos olhos da lua

Sou um miserável,

Poeta miserável,

Poeta…

O morto poeta

Quando as mãos da poesia,

Lentamente,

Masturbam a noite.

 

Aos olhos da lua,

Sou.

Sou.

Sou o quê, aos olhos da lua?

Se a lua não tem olhos

E eu,

E eu não sou nada.

 

Aos olhos da lua,

Sou.

Sou canção que se abraça ao rio,

Sou o poema que brota do mar,

Sou a fome,

O fastio,

Aos olhos da lua,

Sou.

Sou trombone na filarmónica,

Sou equação nas mãos dele,

Aos olhos da lua,

Sou.

Aos olhos da lua sou gaveta de armário,

Papel higiénico…

Aos olhos da lua,

Sou…

 

 

13/08/2023

Francisco

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

sábado, 12 de agosto de 2023

Madrugada em teu olhar

Madrugada sem destino

Madrugada das almas aprisionadas

Madrugada do pobre menino

Menino das cidades amordaçadas

 

Mestre canónico do silêncio ardor

Que nesta mão se revolta

Que assassina uma flor

E tudo aquilo que está à sua volta

 

Madrugada sem destino

Em teu doce olhar

Madrugada deste pobre menino

 

Do menino sem lar

Madruga em teu olhar

O mar.

 

 

12/08/2023

Francisco

 

Noite de mim

 

Sobre o meu peito

Dança a espada que me vai matar

Lâmina da paixão em desassossego

Como os chocolates que sobejaram da noite passada,

E sobre o meu peito

Esta triste espada

Pesada,

Sobre o meu peito

As cancelas da alvorada se abrem

Sem que do outro lado do rio

Os transeuntes percebam se estou morto

Ou vivo,

 

Sobre o meu peito

A aceleração deste foguete que habita em mim

E em direcção à lua

Parte à descoberta da madrugada,

 

Ergue-se a manhã no meu peito

Da manhã desta espada

Desta espada silenciada

Pelos olhos do mar

Que voam de árvore em árvore,

Sobre o meu peito

A jangada em despedida

Deixa a terra e caminha…

Deixa a terra

E também ela

Como eu

Morre às mãos desta espada,

 

Sobre o meu peito

Dança a espada que me vai matar

Lâmina da paixão em desassossego

Como os chocolates que sobejaram da noite passada,

 

Chocolates da manhã submersa no teu cabelo

Que olha esta espada

E nada faz

E nada faz

Para que esta espada

Que dança sobre o meu peito…

Me mate

E grite;

Está morto.

 

 

12/08/2023

Francisco

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 


Cair da noite

 

Ao cair da noite

Pego na tua mão

Beijo-a como Deus me beijou.

Ao cair da noite

Pego no teu cabelo

E acaricio como Deus me acariciou

Junto ao rio

 

Quando eu procurava aquele navio

Que me transportaria para o desconhecido.

Ao cair da noite

Afugento o mar dos teus olhos

E dou às abelhas que brincam nos teus lábios

O doce mel da madrugada.

 

Ao cair noite

Beijo-te como Deus me beijou,

Como Deus escreveu no meu corpo

Os silêncios da noite,

Como Deus desenhou no meu corpo

O cair da noite.

 

Ao cair da noite

Pego na tua mão

E beijo-a como Deus me beijou

Enquanto cai a noite

No teu cabelo de Cinderela adormecida.

Ao cair da noite

Quando desisto da despedida

Vou em busca da noite

E vou à procura da tua mão

E de uma nova partida.

 

 

 

12/08/2023

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Cavaleiro

 

À primeira lágrima da manhã

Sai de mim a tristeza

Entra no meu corpo o silêncio da alegria

Caravela quinhentista

Cavaleiro das sete espadas subindo a montanha,

À primeira lágrima da manhã

Cresce no meu jardim o poema

Que dança sobre o mar,

E corre e corre

E ninguém o apanha,

À primeira lágrima da manhã

Sai de mim a tristeza

Entra no meu corpo o silêncio da alegria

Que a primeira lágrima da manhã

Desenhou no rio que corre na minha mão.

 

 

 

11/08/2023

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Do ausentado poema o poeta da ausência


 

Podia vestir-me de miséria

Ausentar-me deste silêncio

Que ninguém percebia a minha ausência…

Que ninguém percebia que andava ausentado,

 

Podia vestir-me de miséria

Podia pincelar os lábios de azul-mar

Podia beijar a lua

E beijar o sol

E abraçar o mar,

 

Podia vestir-me de miséria

Ausentar-me deste silêncio

Podia escrever nas paredes da minha solidão…

Que ninguém leria o que tinha escrito,

 

Que ninguém percebia

Que a minha poesia

Não existe

Que sofre e resiste

À minha ausência

Que ninguém percebia que andava ausentado.

 

 

10/08/2023