domingo, 9 de setembro de 2018

As palavras do amor


Das janelas não se viam as transeuntes folhas caducas,

A rua imunda, suja, recheada de sombras invisíveis,

E um corpo putrefacto mergulha na minha mão…

Que faço eu com ele?

Alimento-o,

Enterro-o…

Ou escrevo nele a minha raiva.

As espadas da saudade, cravadas no peito húmido do esqueleto de vidro,

As pedras perfurantes alicerçadas nos lábios do abismo,

Sinto-me tudo isto, ao adormecer…

Sem perceber as palavras do amor.

 

 

Francisco Luís Fontinha

09-09-2018

domingo, 26 de agosto de 2018

As escadas da morte


O louco sou eu.

Aquele que te acolhe nas noites de Inferno, recheadas de vento e veneno…

O louco sou eu,

Agachado nos socalcos olhando o Douro encurvado,

Pego na enxada da loucura, rezo pelo teu corpo e desespero-me em frente ao espelho envergonhado,

O louco sou eu, o teu eterno louco das tardes de poesia…

E sentia,

Dentro do meu peito, os apitos dos teus lábios afastando-se das marés de Inverno,

O sol que mergulha no xisto amarrotado pelo vento,

E as cidades que se escondem no poema…

Hiberno,

E para a semana que vem, fujo do teu sorriso,

Subo as escadas da morte,

E com um pouco de sorte,

Desprovido de juízo…

Uma caravela deita-se na minha cama,

Dispo-a,

Adormeço-a na minha mão…

Até que a tempestade nos separe.

 

 

 

Alijó, 26/08/2018

Francisco Luís Fontinha