terça-feira, 4 de agosto de 2015

Nunca mais vi o mar


Sabia que a Primavera terminaria brevemente,

As flores em papel que brincavam nas tuas mãos,

Cessaram…

Recordo os teus beijos junto a dois carris invisíveis,

Sabíamos que tínhamos um Cacilheiro em cada braço,

O cheiro do teu corpo voando no olhar dos marinheiros sem Pátria,

É triste o amor, meu amor…

É triste a tristeza, meu amor,

Como são tristes todas as palavras embrulhadas na solidão,

Meu amor…

 

Desenhei o teu rosto infinitamente nas lágrimas da noite,

Olhava-te,

E sentia o odor do teu cabelo nas réstias sombras da tinta embriagada pelo luar,

Morre a tela onde poisava o teu corpo de seara embarcadiça,

 

O Oceano entre quatro paredes,

Uma porta com fotografia para o rochedo da insónia,

 

… Meu amor, o que é a insónia!

 

Sabia que todas as luzes do eléctrico fugiram para um qualquer bar de Alcântara,

Os barcos na minha algibeira,

O silêncio junto à casa de banho…

E sentia-me um pedaço de vidro combatendo a morte,

Sabes, meu amor,

Desenhei a tua voz no meu peito cravado de palavras,

Nunca mias vi o mar…

 

Meu amor,

 

O sexo enlatado nos melódicos sons do vizinho do quarto esquerdo,

Range a cama,

Sinto a minha voz escondida no espelho da minha amante,

E meu amor,

Nunca mais vi o mar…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 4 de Agosto de 2015

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Fuga


Sinto o Tejo cravado no peito,

Acaricio os cigarros olhando a ponte,

Pego na tua mão,

Permaneço secreto como os barcos que brincam nos nossos lábios,

Desenho beijos na face oculta do teu olhar,

E vejo a alegria entranhada nos teus cabelos,

Sinto o Tejo cravado no peito,

A paixão esperando o regresso do vento,

As palavras deixaram de habitar as cartas envidraçadas,

Cerrei todos os livros,

E todas as madrugadas,

Hoje, és uma rua deserta,

 

Perdida na cidade…

Sem nome,

Sem nada…

Sofro,

Tenho no rosto as lágrimas argamassadas da fuga,

Quero fugir,

Sem rumo,

Procurando o Tejo cravado no peito,

 

Ou pegar na tua mão…

 

Sem jeito,

 

Sem Tejo cravado no coração.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 3 de Agosto de 2015

domingo, 2 de agosto de 2015

Fogueira dos beijos

Apago o apito da sinalização em direcção à paixão,
Percorro os trilhos construídos pelo cansaço,
Não tenho medo…
O salivar réptil das janelas do sonho,
O amor debruçado nas clarabóias da insónia,
Habito em ti, meu amor,
Pareço uma folha de papel brincando na fogueira dos beijos,
E nos teus lábios…
A seara envenenada por um rio clandestino,
A ponte,
A passagem para os teus seios,
Neste jardins de arbustos enganados,
Dormem,
Sentem o peso do teu corpo,
Voando como uma gaivota,
Tenho pregos no meu peito, meu amor,
Apago o apito das recordações,
Vivo nesta cidade procurando a tua sombra,
Nunca mais,
Vi barcos no Tejo,
Nunca mais, meu amor,
Vi os cadernos guardando as minhas palavras,
Estou só, meu amor,
Amando, meu amor, estarei sempre só…
Como as fotografias da minha infância,
Como eu te amo… meu amor,
As madrugada debruçadas nas carcaças da poesia,
Abutres comendo os meus olhos,
Sinto-te, meu amor, junto a mim…
A ponte,
A luz que acaricia a ponte,
Ela geme,
E grita,
O orgasmo metálico das treliças,
O masturbar dos pilares em cada olhar,
Firme,
Ela sabe que amanhã não haverá noite,
Palavras,
E desejo…
Mesmo assim, meu amor,
Lisboa é a minha amante secreta…
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 2 de Agosto de 2015