quinta-feira, 21 de maio de 2015

Quadriculado destino


Tumultuosos riscos de luz

Sobre a pedra adormecida do luar

Não há vento

Nem há mar,

 

Que alimente

Esta gente

Sem tecto

Sem… sem maré para abraçar,

 

E este triste barco

Fundeado no teu corpo de espuma,

Não há vento

Nem há mar,

E da bruma,

Apenas uma sombra entre palavras e cidades obscuras,

Deambulo nas desertas ruas

Que os teus lábios escondem,

 

Esta gente

Sem tecto

Sem… sem maré para abraçar,

 

E no entanto,

 

Ninguém o consegue parar…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 21 de Maio de 2015

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Acorrentado


Imagino-te embrulhado no sono,

Brincas nos sonhos da dor

Como se fosses uma gaivota em voo rasante,

Consciente

Que nunca mais regressarás,

Às minhas palavras,

Às ruas de Luanda,

E aos Musseques de sorriso zincado,

Imagino-te deitado

Acreditando que ainda és capaz de voar,

Mas…

Meu querido,

 

As tuas asas estão tão frágeis como um telhado de vidro,

E os teus braços tão pesados como um rochedo em decomposição,

Putrefacto,

Húmido como o cacimbo da tua imagem,

Perdida numa qualquer paragem,

Sentes o ruído do machimbombo,

Tens medo dele

Como eu tinha medo do mar,

E hoje

E hoje estou acorrentado à paixão,

Do mar,

E da tua mão…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 20 de Maio de 2015

terça-feira, 19 de maio de 2015

Os teus braços


Os teus braços aqui ao lado,

Parecem serpentes esfomeadas

Esperando as palavras da noite,

Ambos sabemos que as palavras não regressarão nunca,

Como nós,

Impossível regressarmos de onde partimos,

Complicada

Esta vida de marinheiro sem embarcação,

Complicada

Esta vida de transeunte sem cidade,

Ou livro, ou cais…

Para aportarmos,

 

Falta-nos tudo

E tudo temos,

 

As crateras e os peixes,

O silêncio e a madrugada,

Embriagados destinos

Com sabor a nada,

 

E os teus braços

Mesmo aqui ao lado,

Serenos,

Deitados…

Ouvindo os apitos dos comboios encurvados no Douro,

O rio

Sofre,

O rio

Sente

Os teus braços…

Nos meus braços

Afogados.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 19 de Maio de 2015