domingo, 22 de março de 2015

As equações do sono


O gatilho da paixão
uma bala vestida de palavra
entranha-se no meu peito
grito
grito o poema assassinado pelo poeta
a espingarda da saudade
nos lábios tristes da madrugada
o gatilho da paixão
em pausa
suspenso na minha mão
disparo
não disparo...

mato
morro
não sei...
quando o papel arde
no pôr-do-sol da solidão
o amor
o amor das clandestinas manhãs
e o uivo da boca
no beijo cansado das nuvens de algodão
não paro
caminho em direcção às equações do sono
é amanhecer

vejo a cidade em lágrimas
chove
nos cabelos da maré
invento-me nos teus braços
como um louco esqueleto de pano...
o piano
dança junto à lareira do adeus
a despedida
a partida
uma mala vazia
quase vazia
porque lá... habitam os socalcos do sonho.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 22 de Março de 2015
O meu melhor amigo, morreu
Maldita guerra, terra... nada, para nada, recordo o sorriso dele, em criança brincávamos junto ao mar, desenhávamos barcos nas paredes do sono, sentados, pintávamos beijos no térreo chão com odor a desejo, Margarida
Farta das cartas, meu amor, amo-te, ando no mato e percebo que a tua sombra me acompanha, sinto os teus doces lábios no cano da minha G#. bê lá, meu amor,
Margarida, desenho no cano da minha espingarda... Amo-te...
O meu melhor amigo, a criança de sorriso encarnado que todas as tardes voava sobre os nossos cabelos de espuma...


(ficção)
Francisco Luís Fontinha - Alijó
Domingo, 22 de Março de 2015