terça-feira, 8 de julho de 2014

A clarabóia das lágrimas


Esta tenaz vagarosa mergulhada nas minhas palavras,
da lareira do silêncio, oiço as moléculas transparentes do amor,
sufocam-me, alimentam-se do meu cansaço,
o cansaço de escrever,
o cansaço das palavras,

A lanterna do teu olhar, cega-me, transforma os meus olhos em pedaços de papel,
e nele... escrevo as palavras que ninguém... que ninguém lê...

Não sou capaz de desistir,
partir para outros Oceanos, mais calmos, tranquilos... como os teus braços,
há sempre um espelho que transporta o meu rosto para o futuro...
envelheço, e sento-me num abandonado banco de jardim com uma concertina na mão,
e dela sinto em mim as recordações das tempestades voluptuosas...

Não há um fim, apenas o passar de uma parede negra... para uma outra, a curta distância...
uma parede castanha, alvenaria com cicatrizes comestíveis,
flores,
tenho as flores que sobejaram do jardim ardido na lareira do silêncio...
e deixei de ter o pavimento térreo que me acompanhava nas horas indolores do meu pulso,

A lanterna do teu olhar, cega-me, transforma os meus olhos em pedaços de papel,
e nele... escrevo as palavras que ninguém... que ninguém lê...

E ninguém quer...

Esta tenaz vestida de forca,
embrulhada numa túnica branca,
há uma porta dos fundo que me serve de escapatória...
um ponto de fuga, um simples ponto triste, um ponto tridimensional esquecido na solidão,
e ninguém quer...

Que... que a clarabóia das lágrimas ressuscite da montanha!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 8 de Julho de 2014

segunda-feira, 7 de julho de 2014

O enclave da insónia


O teu beijo amorfo,
clandestino do enclave da insónia,
cai a noite sem perceberes que a noite é uma mulher invisível,
uma amante cobiçada por todos,
suspensa nos tentáculos das estrelas sem nome,
o teu beijo silencia-se e morre...
o teu beijo deixa de ser beijo,
e transforma-se em desejo,
inverso, transverso esforço que alicerça o teu corpo à ponte metálica...
balança e não cai,
e levita depois de acordar a madrugada,
como se de um pôr-do-sol em decomposição se tratasse...

O teu beijo amorfo... evapora-se,
morde os lábios de cetim, e... e vai à janela da solidão procurar pedacinhos de papel colorido,
imagina-me uma sombra com pequenos ramos que partem na ferocidade do vento,
vergo-me, troço-me até palmilhar a terra húmida depois da chuva do fim de tarde,
e fico estendido como uma pedra entre o sacrifício e a vontade de correr...
beija-me, penso-o enquanto aos poucos esforço-me para me levantar,

Agarro o teu beijo amorfo,
acaricio-o na palma da minha mão de caduca folha,
sinto-me desgovernado quando imagino o mar a entrar no meu corpo,
penso que vou morrer,
penso que serei o primeiro a partir... por motivos de um beijo amorfo...
sei que a morte é natural... normal,
mas... tudo por um beijo?
o cansaço invade-me,
a força motriz que alimenta os eléctrodos do meu coração... começa a esvaziar-se,
os eléctrodos apaixonam-se por mim,
e fico sem jeito,
fico... impávido enquanto o teu beijo amorfo desce a Calçada da Ajuda...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 7 de Julho de 2014

A tua voz não pode gritar!- por Francisco Luís Fontinha – Divulga Escritor

Poema de Francisco Luís Fontinha – Alijó

domingo, 6 de julho de 2014

Galáxia


Não escrevo
morro
despeço-me das palavras... com... com as palavras impossíveis
esmoreço
desapareço
evaporo-me no centro da galáxia mais distante do amor
me canso
e esqueço
não escrevo
e... e morro
vestido com o amor impossível
porque impossíveis são as palavras com que me despeço.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 6 de Julho de 2014

Noite de geometria


Perdi o teu nome numa noite de geometria,
reinventei palavras para te desenhar na tela do silêncio,
escrevi no teu corpo quando a solidão zarpava janela adentro,
eu, eu sentava-me no cadeirão cinzento... e procurava-te nos livros que lia,
o teu nome..., o teu nome não aparecia,
e eu, eu mentia,
dizia que te chamavas de “amor”...
e...

e... e nunca conheci mulher alguma com esse nome,
e nunca conheci flor alguma que tivesse nas pétalas a cor do teu olhar,
abria a janela,
e gritava...
“amor”... “amor”...
e...
e... e ninguém se apelidava assim,
gritava, gritava... até que o luar me trouxe a insónia,

Cerrava a janela,
sentava-me no cadeirão cinzento,
abria um livro,
fechava-o... e o teu nome continuava desconhecido,
amargo,
tão amargo que dos meus lábios brotavam pedacinhos de cinza,
algumas pérolas de papel... e um ínfimo desejo despertava...
… e tu entravas, e tu entravas e eu não me recordava do teu nome...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 6 de Julho de 2014