terça-feira, 29 de abril de 2014

nem amar... apareces


apareces
desapareces
submerges como se fosses um beijo cansado
esquecido nos lábios de uma flor...
a manhã em construção
uma mão na face clandestina do olhar
não és Lua
noite
nem amar...
Apareces
desapareces
nos sonhos silêncio do mar.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 29 de Abril de 2014

segunda-feira, 28 de abril de 2014

acordar


trazes no peito o peso da madrugada
as sílabas cansadas do amanhecer
trazes na mão a velha enxada...
e ao pescoço
o silêncio da alvorada
trazes no peito a mágoa do alicerce invisível
e os fios de luz
em pergaminhos agrestes com odor a limão
trazes a solidão
e as cartas esquecidas na gaveta da lareira...
e hoje
hoje nada acorda de ti que se entranhe em mim...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 28 de Abril de 2014

domingo, 27 de abril de 2014

prisioneiros do Céu


há um xisto vestido de tristeza
uma nuvem sangrenta poisada em ti
árvore sonolenta
magoada
jardim descalço
jardim... jardim filho da madrugada

há um rio perdido na calçada
esperando a tua mão
há um rio dentro de ti
correndo
correndo... correndo nas tuas veias de solidão
e gritando e gritando...

há um xisto no muro onde me sento
e te espero
dou-me conta que hoje não há o rio dentro de ti
que tens lágrimas
que... que danças no jardim
magoada no jardim descalço...

adormeço
sonho com fios de nylon aprisionando o Céu
que tens estrelas no olhar
e flores
flores na tua doce boca de jasmim
há um xisto... de tristeza... há um xisto dentro de mim.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 27 de Abril de 2014

cais do adormecer

no seu término o dia mistura-se com as sombras do prazer
o teu corpo mergulha sobre o meu peito flácido
quase a adormecer
lá fora há poemas por escrever
palavras vagabundas correndo junto ao Tejo
folheio as pequenas páginas dos teus seios
descubro o significado de “Amor”...
e sinto a paixão a entranhar-se nos meus ombros

há silêncios a descer a tua pele de doirado sémen
que acabam por morrer
semeiam-se nos límpidos lençóis de seda
como jangadas esquecidas em Cais do Sodré...
afinal... o sonho são as pequenas páginas dos teus seios
à janela do “Adeus”
simplesmente inventando soníferos de cartão
e livros a arder

há em ti um púbis construído de andorinhas
e flores de papel
e no seu término...
o dia... o dia cansado de viver
como se o teu corpo embrulhado nos meus braços de aço laminado
adormecesse vivesse amasse e morresse
e descubro o significado de “Amor”...
e de ser “amado”.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 27 de Abril de 2014