sábado, 7 de dezembro de 2013

incinerada traição

Foto de: A&M ART and Photos

a voz incinerada da traição mergulha nas esplanadas dos bosques solitários
habito no teu peito pela mendicidade dos teus lábios de prata
habito na tua boca porque me exiges as palavras da madrugada
sou um bandido vestido de negro
vomitando estrelas
inventando luares
mulheres
e agrestes segredos
a voz aloja-se nos meus braços e acorrentam-me aos rochedos da paixão
o amor
o amor parece um livro de cinzas mergulhado na lareira do desejo
amanhã... amanhã... amanhã acordará o teu alegre beijo

tenho uma folha de pergaminho recheada de silêncios palavras
e nenhuns azulejos brancos das paredes tristes dos edifícios de soja
com sabor a limão
e rodelas de azeitona... a voz incinerada alimenta-se dos teus alegres sorrisos
desenhados
esculpidos... as estátuas do Inverno caminhando junto ao rio
tenho uma folha de sangue
uma veia que se esgota a cada milímetro de saudade
a voz aparece depois de encerradas todas as janelas do predicado verbo
a lareira acesa... come-nos como percevejos animais de estimação
no colchão do amanhecer...
a voz incinerada da traição mergulha nas esplanadas dos bosques solitários


(não revisto)
Sábado, 7 de Dezembro de 2013
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

flores de papel

foto de: A&M ART and Photos

acreditava que habitavas as perfumadas flores de papel
tínhamos dentro de nós uma aldeia em combustão
sentíamos os impulsos das revistas sobejantes dos quiosques de cartão
líamos coisas desinteressantes
coisas... coisas supérfluas que depois de mortas
acreditavam
como eu acreditava
que habitam nas flores perfumadas de papel
os velhos espantalhos de vidro
com chapéu de palha
uma árvore rangia
e sentíamos-lhe o rosnar dos pulmões nas ardósias tardes dos cigarros em delírio...
livros com desenhos abstractos
e palavras inacessíveis à nossa voz
as mãos tuas traziam às minhas mãos de xisto esmigalhado as tristes sílabas da madrugada
acreditava
acredito?
não mais... que existem dias de tédio
horas de sofrimento
relógios de pulso cancerosos porque alguém os decretou como tal...
as horas passam
os dias afundam-se no cais transversal das salinas em pastel...
livros
com... abstractos desenhos e pedaços de pólvora seca para deitarmos na lareira das lágrimas encarnadas
o jornal acaba de morrer
no caixão poucas ou nenhumas fotografias a preto-e-branco para alicerçarem o esqueleto à madeira de mogno
eu acreditava
acreditava nas tuas minhas mãos de porcelana envenenada e no entanto o relógio...
o cabrão do relógio... também ele morre
também ele... foge de nós como todos os homens de pedra do jardim dos angustiados camafeus
a lareira recorda-nos as fogosas noites de neblina
embrulhados na vodka da Ajuda
descíamos a Calçada... e nada
gritávamos... e nada
e a ponte dilacerada... adormecia
e sonhava que... acreditava nas perfumadas flores de papel


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 6 de Dezembro de 2013

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

não dormem mas... também não sonham

foto de: A&M ART and Photos

Tristemente invadido pelas análises clínicas dos perfumados jardins das jangadas embebidas em cianeto e outras
Escadas?
Palavras, não o sei, não o consigo perceber, talvez este verso alimentado pela inveja encontre dos triângulos dos dias tristes as algas masturbadas dos rios envenenados pelo doce odor da paixão, do cinismo...
As escadas...
Nunca tive Sábados, e à Sexta-feira tínhamos Açorda de Marisco, pão, vinho e sobremesa,
A sério?
Tristemente invadido pelos machimbombos da insónia, escondia-me de ti, debaixo da mesa no quintal das bananeiras, mangueiras e outras … eiras
Carvalhais,
Sexta-feira,
Eles não sabiam que tínhamos almoçado, traziam-nos coisas estranhas, comíamos tardíssimo porque acreditávamos que havia fantasmas que roubavam a comida dos pobre, e as tuas mãos abraçavam-se à minha cintura rechuxuda, hirta... fria como a geada de hoje à noite, e dizias-me que todas as árvores são como os pássaros quando são velhos...
Não voam, não voam mas também não andam, não bebem... e também não pagam, e também,
As escadas?
Sexta-feira,
Tristemente...
Aquele beijo que ficou esquecido sobre a mesa-de-cabeceira, aquele sorriso impregnado na vidraça estilhaçada da janela com fotografia para o quelho, aquele abraço perdido dentro dos cobertores da inocência, aquele beijo, aqueles teus lábios em pétalas que o desejo sobejou das tardes perdidas, aqueles livros poeirentos abandonados na estante do corredor, aquele teu alicerçado seio sobre a minha solidão, claro... imortal na cama em tardes de neblina, imortal no jardim dos clandestinos Domingos...
Sábados à tarde,
Sexta-feira à noite,
Aquele beijo, aquela melodia adormecida sobre os abajures da melancolia, aquele dia com palavras de luar, aquela madrugada com talheres em prata, e corpos, corpos de nata...
E ouvíamos o beijo esquecido das gaivotas em cio, e ouvíamos os tristes carris da liberdade mergulharem nas montanhas de papel como lagartas e outros bichos, coitados
Procurando,
Coitados...
Caminhando..., o beijo esquecido das gaivotas em cio, procurando as cinzas do casebre abandonado depois de partirem todas as árvores do destino que acompanhavam as alegres palavras comedidas pelas mãos de giz... aquele divã onde te deitavas, e eu, eu sobre ti entranhava-me nos teus gemidos invisíveis dos xistos borboletas em voos de andorinha, coitados...
De nós...
Deles...
O beijo esquecido das gaivotas em cio, o barco apodrecido no cais que alguém pintou nas paredes do velho bar de marujo embriagado, dizes-me que não, e eu, eu sinto-me dentro de ti como se eu fosse o teu feto indesejado, aquele que não queres, nunca quiseste... a gaivota dilacerada nas velhas nuvens de oiro... imortal no jardim dos clandestinos
Domingos...
Sábados à tarde,
Sexta-feira à noite,
E não bebem, e não pagam, não dormem mas... também não sonham,
As escadas?
Tristemente tristes, tristemente... sós, sós, talvez só às vezes tristemente sós...
O beijo dilacerava-se, o beijo derretia-se como chocolate, a Açorda de Marisco, uma simples sopa de hortaliça, pão e o vinho, tudo pela módica quantia de
Os beijos pareciam migalhas de pão abandonadas sobre a mesa de ébano, cheirava a naftalina, a toalha pertencia aos objectos escondidos como as pratas que deixaram de existir desde eu criança, como as porcelanas e todo o marfim, tínhamos falido, e vivíamos como Príncipes imperfeitos vestidos de carrancudos criados sem ofensa para vossemecê meu grande amigo
As escadas?
E pela módica quantia de dois beijos e uma sexta-feira...
Açorda de Marisco, uma simples sopa de hortaliça, pão e o vinho, tudo a estrear, excepto o vinho, que esse, esse já era em quarta ou quinta mão,
Sexta-feira, amanhã, a estrear, o beijo esquecido das gaivotas em cio, o barco apodrecido no cais que alguém pintou nas paredes do velho bar de marujo embriagado, dizes-me que não, e eu, eu sinto-me dentro de ti como se eu fosse o teu feto indesejado, aquele que não queres, nunca quiseste... a gaivota dilacerada nas velhas nuvens de oiro, e eu, eu inventado Açordas de Marisco, sopa, pão... e o vinho, e o vinho parecendo água depois das tempestades de...
Sexta-feira, Sábado, e Sexta-feira temos
Açorda de Marisco... e vinho, e vinho, tristemente... só. Só.
(onde está a sobremesa, raios?)


(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 5 de Dezembro de 2013