foto de: A&M ART and Photos
|
Tristemente invadido pelas análises clínicas dos
perfumados jardins das jangadas embebidas em cianeto e outras
Escadas?
Palavras, não o sei, não o consigo perceber,
talvez este verso alimentado pela inveja encontre dos triângulos dos
dias tristes as algas masturbadas dos rios envenenados pelo doce odor
da paixão, do cinismo...
As escadas...
Nunca tive Sábados, e à Sexta-feira tínhamos
Açorda de Marisco, pão, vinho e sobremesa,
A sério?
Tristemente invadido pelos machimbombos da insónia,
escondia-me de ti, debaixo da mesa no quintal das bananeiras,
mangueiras e outras … eiras
Carvalhais,
Sexta-feira,
Eles não sabiam que tínhamos almoçado,
traziam-nos coisas estranhas, comíamos tardíssimo porque
acreditávamos que havia fantasmas que roubavam a comida dos pobre, e
as tuas mãos abraçavam-se à minha cintura rechuxuda, hirta... fria
como a geada de hoje à noite, e dizias-me que todas as árvores são
como os pássaros quando são velhos...
Não voam, não voam mas também não andam, não
bebem... e também não pagam, e também,
As escadas?
Sexta-feira,
Tristemente...
Aquele beijo que ficou esquecido sobre a
mesa-de-cabeceira, aquele sorriso impregnado na vidraça estilhaçada
da janela com fotografia para o quelho, aquele abraço perdido dentro
dos cobertores da inocência, aquele beijo, aqueles teus lábios em
pétalas que o desejo sobejou das tardes perdidas, aqueles livros
poeirentos abandonados na estante do corredor, aquele teu alicerçado
seio sobre a minha solidão, claro... imortal na cama em tardes de
neblina, imortal no jardim dos clandestinos Domingos...
Sábados à tarde,
Sexta-feira à noite,
Aquele beijo, aquela melodia adormecida sobre os
abajures da melancolia, aquele dia com palavras de luar, aquela
madrugada com talheres em prata, e corpos, corpos de nata...
E ouvíamos o beijo esquecido das gaivotas em cio, e
ouvíamos os tristes carris da liberdade mergulharem nas montanhas de
papel como lagartas e outros bichos, coitados
Procurando,
Coitados...
Caminhando..., o beijo esquecido das gaivotas em
cio, procurando as cinzas do casebre abandonado depois de partirem
todas as árvores do destino que acompanhavam as alegres palavras
comedidas pelas mãos de giz... aquele divã onde te deitavas, e eu,
eu sobre ti entranhava-me nos teus gemidos invisíveis dos xistos
borboletas em voos de andorinha, coitados...
De nós...
Deles...
O beijo esquecido das gaivotas em cio, o barco
apodrecido no cais que alguém pintou nas paredes do velho bar de
marujo embriagado, dizes-me que não, e eu, eu sinto-me dentro de ti
como se eu fosse o teu feto indesejado, aquele que não queres, nunca
quiseste... a gaivota dilacerada nas velhas nuvens de oiro... imortal
no jardim dos clandestinos
Domingos...
Sábados à tarde,
Sexta-feira à noite,
E não bebem, e não pagam, não dormem mas...
também não sonham,
As escadas?
Tristemente tristes, tristemente... sós, sós,
talvez só às vezes tristemente sós...
O beijo dilacerava-se, o beijo derretia-se como
chocolate, a Açorda de Marisco, uma simples sopa de hortaliça, pão
e o vinho, tudo pela módica quantia de
Os beijos pareciam migalhas de pão abandonadas
sobre a mesa de ébano, cheirava a naftalina, a toalha pertencia aos
objectos escondidos como as pratas que deixaram de existir desde eu
criança, como as porcelanas e todo o marfim, tínhamos falido, e
vivíamos como Príncipes imperfeitos vestidos de carrancudos criados
sem ofensa para vossemecê meu grande amigo
As escadas?
E pela módica quantia de dois beijos e uma
sexta-feira...
Açorda de Marisco, uma simples sopa de hortaliça,
pão e o vinho, tudo a estrear, excepto o vinho, que esse, esse já
era em quarta ou quinta mão,
Sexta-feira, amanhã, a estrear, o beijo esquecido
das gaivotas em cio, o barco apodrecido no cais que alguém pintou
nas paredes do velho bar de marujo embriagado, dizes-me que não, e
eu, eu sinto-me dentro de ti como se eu fosse o teu feto indesejado,
aquele que não queres, nunca quiseste... a gaivota dilacerada nas
velhas nuvens de oiro, e eu, eu inventado Açordas de Marisco, sopa,
pão... e o vinho, e o vinho parecendo água depois das tempestades
de...
Sexta-feira, Sábado, e Sexta-feira temos
Açorda de Marisco... e vinho, e vinho,
tristemente... só. Só.
(onde está a sobremesa, raios?)
(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 5 de Dezembro de 2013