foto de: A&M ART and Photos
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acreditava que habitavas as perfumadas
flores de papel
tínhamos dentro de nós uma aldeia em
combustão
sentíamos os impulsos das revistas
sobejantes dos quiosques de cartão
líamos coisas desinteressantes
coisas... coisas supérfluas que depois
de mortas
acreditavam
como eu acreditava
que habitam nas flores perfumadas de
papel
os velhos espantalhos de vidro
com chapéu de palha
uma árvore rangia
e sentíamos-lhe o rosnar dos pulmões
nas ardósias tardes dos cigarros em delírio...
livros com desenhos abstractos
e palavras inacessíveis à nossa voz
as mãos tuas traziam às minhas mãos
de xisto esmigalhado as tristes sílabas da madrugada
acreditava
acredito?
não mais... que existem dias de tédio
horas de sofrimento
relógios de pulso cancerosos porque
alguém os decretou como tal...
as horas passam
os dias afundam-se no cais transversal
das salinas em pastel...
livros
com... abstractos desenhos e pedaços
de pólvora seca para deitarmos na lareira das lágrimas encarnadas
o jornal acaba de morrer
no caixão poucas ou nenhumas
fotografias a preto-e-branco para alicerçarem o esqueleto à madeira
de mogno
eu acreditava
acreditava nas tuas minhas mãos de
porcelana envenenada e no entanto o relógio...
o cabrão do relógio... também ele
morre
também ele... foge de nós como todos
os homens de pedra do jardim dos angustiados camafeus
a lareira recorda-nos as fogosas noites
de neblina
embrulhados na vodka da Ajuda
descíamos a Calçada... e nada
gritávamos... e nada
e a ponte dilacerada... adormecia
e sonhava que... acreditava nas
perfumadas flores de papel
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 6 de Dezembro de 2013
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