sábado, 17 de agosto de 2013

Os travestidos bares do amor

foto de: A&M ART and Photos

Faltam-me as drageias comestíveis da paixão
reescritas no corpo incenso que a tempestade leva
longe chegam as nuvens tristes
silenciosas
tâmaras teus olhos prisioneiros de mim
tuas mãos de porcelana
amam
fazem sexo com as minhas mãos de areia
inventas-te como inventaste a chuva
como inventaste as janelas viradas para o mar
transgénicos barcos navegando em teus seios de prata
com velas de púbis desgovernados dentro do fumo incandescente do amanhecer,

Amávamos-nos como duas árvores de papel
aprisionadas a um cordel...

Faltam-me as drageias comestíveis da paixão
como uma cidade que arde dentro de ti
incendeias-te vomitando as palavras proibidas
gemidas da tua boca
em loucas avenidas
correndo subindo correndo e subindo...
como guindastes de ossos procurando o prazer nos sexos dos marinheiros
mórbidos entre o cais
e os travestidos bares do amor
cai o cortinado do teu peito
e encerra-se para sempre o desejo em ti
das tristes janelas viradas para o mar.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Agosto de 2013

Os calções brancos

foto de: A&M ART and Photos

As hormonas fervilham, cobre-se a lua com um fino manto de sémen, há delírios dentro dos calções brancos, tínhamos deixado na atmosfera um leve e intenso cheiro a sonho e a desilusão, ela diz que o dinheiro tudo compra, eu
Não o tenho,
Ela diz que eu
Tu nada podes comprar,
Vende-se, prostitui-se intelectualmente como se tratasse de um livro ainda por escrever, as hormonas
Fervilham,
Transparente como a chuva depois de se masturbar sobre os zinco telhados das sanzalas, a sombra desce da cidade, cobre os ombros da mulher emagrecida, triste, como o tecido depois de molhado, depois
Fervilham,
Diz ela,
Porque para mim, um simples aldeão esquecido no musseque da escuridão, não fervilham hormonas, nunca existiram os calções brancos, nunca... como o sabor da manga depois de dissipado o Cacimbo das margens íngremes do rio, mabecos, girafas, zonzos, todos os bichos da selva, lá fora fumava-se erva e outras raízes, que só
Diz ela
Fervilham as hormonas,
Ai se não fervilham, que só em África existem, que só em África fervilham, e diz ela, que a cidade dorme, extingue-se no silêncio vestido de cansaço, acabam-se as realidades virtuais, e começam verdadeiramente os
(nem uma foto de calções brancos encontro, coloco a mulher onde quando em criança rabisquei todo o seu corpo, tinha... cerca de cinco anos, pobre, sem dinheiro, e ela, ela deixou-o fazer, por caridade, por nada)
Textos infestados por pequenos insectos, os calções, os calções brancos dançam no interior do ânus ao som de Pink Floyd, o escritor lê poemas de AL Berto e alguns textos de Luiz Pacheco, cobre-se a lua com um fino manto de sémen, há delírios dentro dos calções brancos, tínhamos deixado na atmosfera um leve e intenso cheiro a sonho e a desilusão, ela diz que o dinheiro tudo compra, eu
Não o tenho,
Ela diz que eu sou um sonhador perpétuo, difícil de construir, fui feito a partir do barro e dizem elas, lá do velho musseque, que,
Tu nada podes comprar,
Oiço-o dizer (“tão triste mário sobre o tejo um apito” - de AL Berto) e dos calções brancos, nada, nem barcos, âncoras, fins de tarde no Rossio, nada, nem o pobre cimento que segura as asas do vento, e tu
Diz ela
Nada podes comprar,
Não o tenho,
Ela diz que eu sou um sonhador perpétuo, difícil de construir, fui feito a partir do barro e dizem elas, lá do velho musseque, que, o barro é como o cristal, lindo e belo, só que... muito mais barato, ele diz-me que eu com cinco anos escrevi todo o corpo das películas em desejo que chegavam até mim, bebíamos, e comestíveis cinzentas neblinas junto ao porto camuflavam todos os barcos em regresso, e ficávamos
A ouvir o mar,
E ficávamos...
Simplesmente a ouvi-lo,
(“tão triste mário sobre o tejo um apito” - de AL Berto)
Fervilham as hormonas dentro dos finos calções brancos, (nem uma foto de calções brancos encontro, coloco a mulher onde quando em criança rabisquei todo o seu corpo, tinha... cerca de cinco anos, pobre, sem dinheiro, e ela, ela deixou-o fazer, por caridade, por nada), e uma nuvem de gelo entra porta adentro da miséria cubata invisível...
Uma placa sobre a porta de entrada,
“Há caracóis”, e vivíamos felizes como serpentes no interior do ânus abraçados à fina réstia em tecido dos calções brancos,
Definitivamente,
Hoje, Hoje há caracóis...
(“tão triste mário sobre o tejo um apito” - de AL Berto).

(não revisto – texto de ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Agosto de 2013

noite cinzenta

foto de: A&M ART and Photos

as pedras castanhas filhas da noite cinzenta
fundem-se-lhe nas mãos clandestinas que a dor adormece
faz de conta que vive
sem viver
sem resmungar com os transeuntes vestidos de negro
que se fazem passear
entre os gladíolos do jardim da insónia
e a triste numeração da calçada sem memória,

caçávamos borboletas dentro do escuro quarto com janelas gradeadas
e o aço que antes gemia
hoje morto
derretido como os dedos do poeta amaldiçoado,

as pedras castanhas filhas da noite cinzenta
em vidros de pergaminho...

cinzentas as árvores de linho
que adormecem nos teus cortinados
a fome emerge
submerge
como pregos semeados na seara tua cama
as pedras castanhas... como ravinas de azoto...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Agosto de 2013