quinta-feira, 14 de junho de 2012

há em ti uma janela com vista para o mar


Há uma ténue tristeza
um fio de silêncio
no teu olhar

(há em ti uma janela com vista para o mar
que eu não consigo alcançar)

há um sorriso de misericórdia
para com as minhas mãos
quando
no teu olhar
os cigarros invisíveis
quando no teu olhar
o espelho da noite
é a ténue tristeza

(sofrendo eu)

há um sorriso
um fio
o teu olhar
e a minha melancolia

sofrendo eu
a ténue tristeza
sem alegria.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Todas as luzes das cidades sobre o mar

Todas as luzes
das cidades sobre o mar
todas as luas
das noites sem luar
(todos os amores)
sem cores
sobre o mar

todas as luzes
no silêncio sonhar
luzes sem cores
em todos os amores
nas cidades
sobre o mar

todas as luzes
das cidades sobre o mar
todas as luzes
no teu olhar.

The Soaked Lamb - A Flor e o Espinho

terça-feira, 12 de junho de 2012

as facas de papel

caíram sobre o meu corpo de papel
as facas da mentira
morreram todos os cigarros
os sonhos
a esperança

caíram
os cigarros da mentira
sobre as facas de papel

os dias de inferno
a noites de insónia

morreram

e todas as flores do meu jardim.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Ali Hasan Kuban - Sukkar, Sukkar, Sukkar

submersa no pólen inventado da tarde

A eterna abelha do desejo
submersa no pólen inventado da tarde
das mãos de uma criança
uma flor de saudade
um poema amado

poema desajeitado
horrores da madrugada
a eterna abelha FROUXA
drogada
sobre a mesa do pequeno-almoço

e o desejo?
Se do clitóris enciclopédico da primavera
um simples olhar de mar
faz voar a gaivota do amor

e o desejo?

FROUXA
FROUXA sobre o rio do prazer.

domingo, 10 de junho de 2012

a contar os barcos mergulhados em sexos murchos

Oiço do espelho que me come
o cansaço das tardes de primavera

(um velho com um chapéu de palha
sentado sobre a pedra do esquecimento)

os melros anunciam-me que ao longe
um espelho invisível
esperam-me
quatro cadeiras
um velho com um chapéu de palha
a contar os barcos mergulhados em sexos murchos
e palavras
palavras com lágrimas
barcos com sexos murchos
nos umbrais da agonia
esqueletos de rissóis
eu
tu
barcos
a primavera
os melros
a esplanada
quatro cadeiras
três livros
um sumo de laranja
os barcos mergulhados em sexos murchos
e palavras
ai as palavras
antes de tocarem no dia
morre a cidade
morre o rio
quatro cadeiras
um rio
um velho
o chapéu de palha sentado na perda do esquecimento
barcos
os barcos
nos sexos murchos da cidade.

Fábrica de Sonhos - discofunk

sábado, 9 de junho de 2012

e dor dentro de quatro paredes



todas as cidades têm coração
todos os homens têm cidades
ruas
pastelarias
dentro do peito

todas as cidades
com árvores
e dor dentro de quatro paredes
no peito
todos os homens
e todas as cidades
todos os livros
e todas as madrugadas

têm coração
dentro de quatro paredes
e candeeiros de sombra
e dor
e lábios de nada

em cada cidade
em cada homem
em cada livro
há um fantasma
de saudade.