sexta-feira, 30 de março de 2012

Atenção – FRAUDE II

Mais informações sobre a fraude de Bloqueio de computadores pela Polícia de Segurança Pública.
Esta fraude está a utilizar o nome da Prepaid Services Company LDA (http://www.paysafecard.com/pt/pt-paysafecard/) entidade legal e idónea.
Os piratas informáticos dizem-vos que o computador foi bloqueado pela PSP (conforme foto) e que é necessário comprar um cartão PAY SAFE CARD no valor de 100,00€, posteriormente é vos pedido que introduzam o PIN para desbloquear o computador, é falso, aquilo que o pirata informático pretende é o PIN para utilizar o vosso dinheiro em compras online.
Se compraram o cartão não introduzam o código PIN;
Se introduziram o código PIN tentem neste endereço:
(http://www.paysafecard.com/pt/seguranca/utilizacaoseguradopaysafecard/#irfaq_5_3c1ca) bloquear o cartão e seguir os procedimentos da empresa para recuperarem o vosso dinheiro.

Quando acorda a cidade

Pouco de mim
Em ti
Sem ti
Pouco de mim
Abraçado às palmeiras da Baía
Olho a cidade escondida no cacimbo
Vejo esqueletos de prédios transformados em pó
Em ti
Sem ti
Pouco de mim
Muito de ti
Quando acorda a cidade

quinta-feira, 29 de março de 2012

Miúda parva

As cabras
Os queijos
O coalho líquido
E o bode…
Todos à porta da cidade
A miúda parva de espiga de milho na mão
Desce a calçada
E poisa no mar
Acorda o vento na saia da miúda parva
(E as cabras
Os queijos
O coalho líquido
E o bode…
Todos à porta da cidade)
Desce a calçada
Solitariamente como se fosse uma orquídea
Ou um sorriso de noite
Solitariamente como se fosse um orgasmo literário
Que cresce dentro de um livro de poemas
As mãos cansadas
Os lábios enfeitados com mel
E da boca oiço a noite que acaba de acordar
E voa
E voa em direção ao mar
(A miúda parva olha-me e dos lábios enfeitados com mel
Oiço as palavras de incenso – Se te fosses foder Francisco!)

Porquê os barcos Francisco

E um barco se suicida dentro do poço do inferno,
Perdi o mar e as montanhas habitadas pelas gaivotas invisíveis, e um barco mergulha na areia do mar,
- Porquê os barcos Francisco,
Porque voam e têm sonhos e amam,
- E os pássaros Francisco,
Porque os pássaros poisam a cabeça de porcelana sobre o silêncio do oceano, porque os pássaros rasgam todas as sombras da noite quando a última janela do universo se encerra, e os barcos voam e têm sonhos, Pensava Eu,
- Todos os espelhos têm o olhar turvo e rochas sem nome nas pálpebras, todas as pessoas sem nome, todos os barcos cansados de navegar nas páginas da insónia, balanças sobre os tentáculos da solidão, sobes até ao céu e sentas-te na espuma florescente da manhã,
E um barco
- Que têm os barcos Francisco,
E um barco se suicida dentro do poço do inferno, e desce e desce e desce…, até que a morte os separe, até que novamente seja dia, até
- Nas minhas mãos uma abelha…
Até que todas as flores tombem Pensava eu, até que a última janela do universo se encerre e alguém apague o candeeiro abraçado a um cordel, tudo tem um fim, Pensava eu, porque os pássaros poisam a cabeça de porcelana sobre o silêncio do oceano, porque os pássaros rasgam todas as sombras da noite quando a noite não existe, quando a noite acorda e entra pela janela, e deita-se no quarto desenhado numa parede branca, quando um crucifixo chora e espera pacientemente que todos os barcos,
- Uma abelha na minha mão,
Que todos os barcos se suicidam dentro do poço do inferno, e que todas as luzes se extinguiram, e que todos os pássaros
- Que têm os pássaros Francisco,
E que todos os pássaros poisem a cabeça sobre o silêncio do oceano, Sou feliz assim Dizia-me ele, era feliz quando se sentava nas palavras em todos os finais de tarde, era feliz quando olhava o rio e imaginava uma cidade a flutuar em direção ao Seixal, era feliz
- Nas minhas mãos uma abelha esquecida no centro da noite, todas as janelas do universo encerradas, todas as portas do céu cambaleando no púbis do sonho, É isto a vida?
Era feliz Dizia-me ele, era feliz quando o mar era mar, era feliz quando o dia era dia e a noite, e a noite, e a noite era noite, e hoje, e hoje
- E hoje o mar não é mar, e hoje a noite não é noite, e hoje o dia deixou de ser dia,
E hoje suicidam-se os barcos dentro do poço do inferno, e hoje o silêncio do oceano à procura de pássaros que poisem a cabeça sobre…
- Porquê os barcos Francisco,
A abelha que está na minha mão.

(texto de ficção)

Cansei-me

Cansei-me,
Cansei-me de assistir pacientemente à entra e saída de pessoas, como se eu fosse um objeto descartável, usar e deitar fora, cansei-me dos livros e de desenhar numa tela, e meu deus… Eu nem sei desenhar,
Cansei-me de ver os pássaros plantados nas árvores do meu jardim a olharem-me e a chamarem-me em voz silenciosa
- Tu Tu és um monstro,
Cansei-me do mar, das flores, de todos os espelhos que dormem na cidade, Eu, Eu Cansei-me de escrever, porque eu, porque eu nem sei escrever,
Cansei-me da noite e do meu esqueleto quase pó que transporto, de óculos escuros… a enrolar cigarros entre as espinhas da manhã e o lombo assado do jantar,
CANSEI-ME DESTA MERDA TODA.

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 28 de março de 2012

Doce Novembro - Only Time

A roulotte inclinada

Hoje, hoje o dia igual ao de ontem, hoje, hoje o dia igual ao de amanhã, e a maldita roulotte sempre inclinada no reumatismo e nas cãibras incolores, tropeça nas ondas do mar a escrivaninha suspensa no cartão de cetim, e escrevo-te acreditando que me ouves, abro a janela e grito para os barcos fantasmas que navegam no teu oceano,
- Deixei de ouvir-te Quando as gaivotas se abraçaram ao infinito da tarde, Esperava-te, Escrevia nas pálpebras o teu nome e Desenhava na minha mão o teu rosto, Deixei de ouvir-te
Olho pacientemente a escrivaninha da noite onde poisa a tua foto juntamente com o “Livro de Crónicas” de António Lobo Antunes,
- Quando as acácias partiram em direção ao mar, abro a janela e grito o teu nome incessantemente e em vão,
Deixei de ouvir-te, deixei de ler, oiço a tua voz impressa em papel mata-borrão, escrevo muito e até as árvores deixaram de ouvir-me, Deixei de ouvir-te quando as gaivotas se abraçaram ao infinito da tarde, esperava-te, escrevia nas pálpebras o teu nome e desenhava na minha mão o teu rosto
- São tristes todos os dias,
Olho-te e o “Livro de Crónicas” olha-me como se eu fosse um esqueleto com óculos escuros descendo a calçada da Ajuda e
- São tristes todos os dias, e todas as noites crescem como ervas daninhas à procura dos petroleiros embriagados, o Tejo cambaleia na sombra da tua voz,
E desço até ao fundo do poço onde um dos pedacinhos de papel mata-borrão brinca com uma abelha, tento resgatar a tua voz, não consigo, deixei
- Deixarei de ouvir-te nos algerozes quando encontrar os restantes pedacinhos de papel mata-borrão,
Hoje, hoje o dia igual ao de ontem, hoje, hoje o dia igual ao de amanhã, e a maldita roulotte sempre inclinada no reumatismo e nas cãibras incolores, ela procura a escrivaninha entre os papéis
- Deixei de ouvir-te,
Deixei de ter retrato, deixei de ler “O Livro de Crónicas”, deixei de acreditar que um dia vou encontrar todos os pedacinhos de papel mata-borrão, descem todas as estrelas até chegarem ao estômago da noite,
- Deixei de ver-te do sótão amordaçado,
São tristes todos os dias, e todas as noites crescem como ervas daninhas à procura dos petroleiros embriagados, metade de mim está sentada junto ao Padrão dos Descobrimentos a fumar haxixe e a beber cerveja, a outra metade algures num quintal debaixo das mangueiras onde o triciclo curvilíneo corre nas arcadas da espuma do mar, e todas as outras metades que sobejaram em todos os rios e em todas as cidades,
- “ O Livro de Crónicas” suspenso na minha mão, e sobre a escrivaninha o teu retrato de cabelos ao vento,
São tristes todos os dias, são tristes todos os barcos, são tristes os livros e as palavras…, e as noites crescem como ervas daninhas,
- Deixei de ouvir-te Quando as gaivotas se abraçaram
E o mar muito pequenino entrou na minha algibeira e comeu-me como se eu fosse um esqueleto com óculos escuros descendo a calçada da Ajuda.

(texto de ficção)

Atenção – FRAUDE


Existe uma fraude na net conforme foto em anexo. Em primeiro lugar dizem que o seu computador foi bloqueado pela Polícia de Segurança Pública e que tem de pagar nos CTT ou outras formas de pagamento a quantia de 100,00€ (cem euros), depois de efetuar o pagamento, no respetivo recibo está um PIN que dizem servir para desbloquear o computador.
É falso.
A imagem que fica sempre no computador é igual à foto.
Isto aconteceu a um amigo meu.
No mesmo recibo existe um número de telefone, liguei a pedido dele e do outro lado está uma senhora Brasileira que diz ser uma fraude e que estão a utilizar o nome da empresa onde trabalha e se quiser reaver o dinheiro tem de enviar cópia do recibo e BI.

Atenção:
A PSP não pode bloquear computadores, porque só através de uma ordem judicial é que a própria polícia pode entrar no vosso computador;
Se já efetuaram o pagamento não enviem cópia dos vossos documentos pessoais para ninguém sem falar primeiro com a Polícia Judiciária;

Francisco Luís Fontinha

Ramo de orquídeas

Espero que a noite me leve
E do meu corpo construa um ramo de orquídeas
Espero
Espero pacientemente pelo silêncio das palavras
E que tudo em mim cesse
E que tudo em mim morra

Antes de acordar o dia.

terça-feira, 27 de março de 2012

O cordel de vidro

Vivo desesperadamente sobre um cordel de vidro, oiço o acordar das noites e para me distrair, e para me distrair faço desenhos na sombra da amoreira que habita no quintal do senhor Agripino, coitado
- Todas as janelas se cerram As ultimas palavras da tia Adosinda antes de embarcar para o jardim das camélias adormecidas,
Coitado, sempre agachado sobre os anzóis da tarde, e do outro lado da rua a voz esganiçada da empregada do estabelecimento comercial onde pedaços de plástico cobrem solitariamente a madeira encardida das mesas, é noite, de cigarro no beiço o senhor Agripino afoga a infância em vinho tinto, e a empregada histérica
- Moelas Bolinhos de Bacalhau Orelheira e Chouriço assado,
E a empregada histérica abraçada ao fogão de lenha, e a empregada histérica matutando como conseguir chegar a casa depois de um dia a aturar embriagados e putas, e paneleiros, e o filho doente e o marido a coçar os testículos no granito da rua,
- Recebo um telegrama Informamos vossa excelência que acaba de ser condecorado pelo rei da Babilónia pelos serviços prestados enquanto arrumador de automóveis,
Penso
. Estou fodido,
Penso Lá vou ter de vestir o fato e colocar a gravata com pintinhas encarnadas e calçar os sapos pontiagudos, e eu, e eu sempre odiei todas essas coisas, e até já pedi à minha querida mãezinha Não Não quero fato, Não Não quero gravata, Não Não quero sacerdote, por favor…
Missa? Não Não.
(quero que o meu funeral seja como o do Beethoven)
Coitado do senhor Agripino Quando chegou ao cemitério apenas o acompanhava o cão
- Imagino-me a chegar ao cemitério na companhia dos meus dois fiéis amigos, o REX e o NOQUI, Mas não posso levar fato, Mas não posso levar gravata, Mas não posso levar sapatos pontiagudos…
E o cão do senhor Beethoven o único com paciência para acompanhar o dono ao seu último destino
- Sim tia Adosinda Não se preocupe que no jardim das camélias não falta de nada, Veja lá que até já têm bolinhas de sabão e acácias em flor,
Então está bem Meu filho,
E o seu último destino foi precisamente a ponte invisível que brinca sobre o rio da fantasia, e quando dou por ela, e quando dou por ela oiço a voz esganiçada da empregada a suicidar-se sobre as rochas doentes da noite,
- Ai,
Foi-se entre os limos da preguiça, Agripino chorava, eu, eu dentro de uma caixa de madeira embrulhado num lençol azul bordado pela minha mãezinha muito antes de eu ter nascido, muito antes de o meu pai colocar brilhantina no cabelo e passear-se de lambreta pelas ruas de Luanda,
- Que saudades da velha lambreta Quando o meu cabelo parecia o mar que comia a noite, o mesmo mar que comeu todos os barcos, o mesmo mar que me comeu…
Vivo desesperadamente sobre um cordel de vidro, oiço o acordar das noites e para me distrair, e para me distrair invento histórias, e para me distrair
- Era tão boa menina a piquena do estabelecimento comercial,
E para me distrair oiço o AL Berto, e é tão doce a sua voz, e oiço e oiço…, e porra
- “Se disser mar em voz alta o mar entra pela janela”,
E porra que não me canso de olhar para a janela e não vejo o mar a entrar, e deixei de ver os barcos a serem comidos pelo mar, e deixei de ser comido pelo mar,
- Morri?,
Oiço a voz dela espreguiçar-se sobre as rochas encharcadas de dedos estilhaçados de incenso e mel,
- Morri,
Quando as abelhas deixaram de me picar.

(texto de ficção)