Uma casa cansada
despede-se da saudade.
Todas as portas e,
Todas as janelas,
Dormem docemente na
umbria da tarde.
O beijo louco das
árvores,
Quando o louco amor,
Desce a calçada,
Quando a boca, da casa,
beija a tarde em despedida.
E essa mesma casa,
Cansada,
Dorme docemente na tua
mão.
Sabes, amor? Todas as
flores do teu jardim e,
Todas as árvores do teu
jardim,
Alimentam-me quando o
sono desaparece na alvorada,
Uma pomba, voa entre
pedaços de papel,
Até à claridade do dia,
Uma casa,
O amor da casa pelo pobre
jardineiro,
Uma carta escrita entre parênteses
e,
Fica sempre aquém um
simples ponto final.
O rio foge das suas
margens,
Os peixes agradecem todos
os rochedos que encontram,
Todos os dias,
Ao meio-dia.
O café encerrado,
A esplanada entre pontas
de cigarro e,
Lâmpadas de néon…
Tristes, como a aldeia
dos chocolates.
Sabes, amor?
O beijo é uma fotografia,
Como a casa,
Cansada da saudade.
Francisco Luís Fontinha,
Alijó 31/12/2020