Desenhar-te,
Cansa.
Sonhar-te,
Cansa.
Desenhar-te nos meus
braços,
Cansa.
Desejar-te,
Cansa.
Amar-te…
Cansa muito.
No entanto,
Desenho-te,
Sonho-te,
Desenho-te nos meus
braços…
Desejo-te
E amo-te muito
Tanto o quanto te odeio….
07/10/2023
Desenhar-te,
Cansa.
Sonhar-te,
Cansa.
Desenhar-te nos meus
braços,
Cansa.
Desejar-te,
Cansa.
Amar-te…
Cansa muito.
No entanto,
Desenho-te,
Sonho-te,
Desenho-te nos meus
braços…
Desejo-te
E amo-te muito
Tanto o quanto te odeio….
07/10/2023
Maré que me inventas
Todos os dias
A todas as horas do dia
Dos outros dias
Maré dos teus lábios de
mel
Que inventa na minha mão
o silêncio
E se despede de mim
Quando cai a noite
Maré que me inventas
Todos os dias
A todas as horas
Dos dias sem horas
Das horas sem dias
Quando se aproxima o
cansaço
E se ergue dos teus
braços
O abraço
Nas marés que me inventas
No mar dos teus olhos
Tão lindos
São os teus olhos
Quando se ergue na maré
que me inventas
O sono
E o desejo
De dormir…
… nos teus braços.
03/10/2023
O que vês não existe
O que sentes e existe e
que não vês
E que te acompanha
Que te abraça
Existindo apenas os
braços
Não existindo o abraço
Que vês e sentes
Que não interessa sentir
Vês esta estátua
Sentes esta estátua
Abraças esta estátua…
Mas será que ela existe?
Existirá uma estátua ou apenas
um pedaço de pedra ou aço
E existe
Nos teus braços
A quinta sinfonia de Beethoven
Ouves a manhã
Mas não existe manhã
Mas não existe tarde
Em existência
Apenas ela
A noite existe
Não ouves a lua
A lua existe
Porque vês a luz
E se a lua for apenas um
cortinado colorido…
Nesta galáxia
Que me come em pedaços
Que existe e faz com que
eu deixe de existir
Neste labirinto
O dióxido de ferro que
lanço
Sobre o corpo
Ante de adormecer
E ele sente a noite
E a noite sente-o a ele
O abraça
O escorraça
Dá-lhe banho
E deita-o suavemente na alcofa
Não o acorde
Que ele existe
E está embriagado desde a
semana passada
Existe que não existe em
ti a fotografia que vês
Que sentes e apalpas com
a mão
A minha não aprisionada ao
papel fotográfico
Ele chora
Ele sofre
Existe
Existia na noite anterior
Ergue-se
Ergue-se e percebe que
existe
Que vê tudo aquilo que
existe
E existe tudo o que vê…
Antes que a noite nos
veja.
01/10/2023
Tragam o carrasco
Estou pronto para ser castigado
Sempre estive pronto
Tragam o carrasco
Com os seus alicates
Com as suas garras
Tragam o maldito carrasco
Do dia que nasce
Ao dia que morre
Pronto
Sempre estive pronto para
as suas garras
Tragam o carrasco
E o saco com os pecados
Tragam vinho
Tragam pão
Uísque
E charros
Tragam o carrasco e castiguem-me
Me atormentem
E me matem
Se Deus quiser
Quando cair a noite
Tragam o carrasco
E os seus métodos de
tortura
Na fome que dura
Que dura na mão do
carrasco
Tragam o carrasco
Tragam a chuva
Que eu mereço
O castigo
Do carrasco
01/10/2023
Pedra cinzenta
Isenta
Que lamenta
Ser cinzenta
Onde me sento e leio uma
pequena ementa
Senta
Nesta pedra
Meu amor de água-benta
01/10/2023
Sirvo-me e pergunto-me de que me sirvo
Se não há nada para me ser servido
Penso
E nada há para pensar
A não ser
Servir-me
Do que não me serve
Sirvo-me do quarto com serventia
Com acesso à casa de banho
Um par de sapatos
Que já não me servem
E servir-me daquilo que deixou de me servir
Sentado
Não me serve
Nem me serve o devido ser-me servido
No entanto
Penso
Que já nada me serve
Nem este pobre lenço
Que só servia para esconder baba e ranho
Não
Não me serve ficar sentado
Servindo-me disto e daquilo
Coisas que às vezes
Servem
Que outras vezes
Deixam de servir
E sirvo-me quando me pergunto
De que me serve tudo
Não me servindo nada
Não me servindo o pouco
Penso
Que não me serve pensar
Porque me cansa
Porque me faz chorar
Pensar
Que me sirvo
Não me servindo
Tão pouco sei se me posso servir
Desse pedaço de bolo
Que não me serve para nada
Apenas para saciar a minha fome
Que tem nome;
Serve-me por favor algo que ainda não tenha sido
servido.
O sofrido servido do triste sofrido
O eu, o eu fodido.
01/10/2023
Instantes que nos separam
Dos instantes constantes
Da vida em pequenos instantes
Do nada ao tudo
Até ao pequeno instante
Lua que acorda num instante
Morre no outro meio instante
E a alma que chora
No outro instante
Instantes que nos separam
Dos instantes constantes
Que a vida no dá
Que a vida nos tira
Num pequeno instante
Instantes que nos separam
Dos instantes constantes
Da vida em pequenos instantes
Nesta vida de instantes
01/10/2023