Com este pedaço de carvão
desenho nesta folha em papel que a vida me deixou, o poema que habita dentro de
mim, não
Não são as equações dos
momentos nem tão pouco as equações das tensões, aos poucos, de pequenos riscos,
como gotinhas de água em direcção ao mar, crescem e nascem coisas, coisas
minhas, coisas que me pertencem…, coisas que andam comigo.
Com este pedaço de
cartão, enquanto a música dos Rolling Stones se masturba contra esta pilha de
livros sobre mecânica estrutural e vigas e janelas viras para o mar,
Abro-a,
Abro a janela e…
E nada,
O mar não está lá.
E comprei-a como se dela
visse o mar…
Mas não vejo,
Vigaristas.
Com este pedaço de carvão,
desenho o mar, desenho o mar onde se escondem as estrelas, do mar onde vejo o
meu cadáver a ler os poemas de AL Berto, do mar, daquele mar onde escondi o
pedacinho de carvão, que sobejou do teu corpo,
Neste pedaço de papel,
sem perceber que lá fora morrem crianças, morrem os pais das crianças, morrem
as palavras e morrem as estrelas,
Do nada,
Até à glória,
E diziam que morreria
cedo, tal e coisas, tal e nada,
Um pequeno sorriso,
Acorda,
Nesta pequena folha em
papel,
E deste sorriso,
O silêncio em forma de
geada,
Encolhido na minha mão…
Com este pedaço de carvão
escrevo a madrugada, o poema invisível dos teus olhos de chuva domingueira, e
mesmo sabendo que esta merda vai colapsar,
Acredito,
Muito,
Que um dia,
Qualquer dia,
O vento me abraçará como
abraçou a Primavera, neste pedaço de carvão, desta folha triste e só, da noite
às lágrimas,
E em poucos segundos,
Chão, a menina viga
aleijou-se?
Não, sou parvalhão…
Claro que não.
E escrevo, e desenho, e
penso…
Francisco
03/06/2023