Às vezes, penso,
Penso muito, meu amor, às
vezes penso de onde vêm estas imagens que semeio nas telas e em pequenas
folhas,
Às vezes, penso,
Penso muito, meu amor,
De onde vêm todas estas
palavras que escrevo,
De onde vêm todas estas imagens
e todas as palavras,
Às vezes, meu amor, às
vezes sinto o medo…
O medo de que estas
imagens se abracem a mim
E algum idiota me diga
que estou louco…
Mas não será essa loucura
com que nos apelidam…, a melhor forma de sonhar o mundo?
Às vezes, meu amor, às
vezes penso e sonho…
Penso que estou a sonhar,
Muitas vezes sonho que
estou a pensar,
Às vezes penso,
Penso e dizem-me que não
devia pensar, tanto…
Mas penso,
Mas sonho,
Sonho que penso que
nenhuma criança terá fome,
Penso que sonho que
nenhuma mulher será espancada…
E penso, penso muito, meu
amor…
Penso e imagino a
alvorada,
Sonho e penso, quando se
despede de mim o luar…
Penso, meu amor, penso
muito,
Que não devia pensar
tanto,
Penso por que razão todas
estas imagens e palavras fizeram parte das minhas brincadeiras em criança,
Penso, meu amor,
Penso muito, penso que se
despede o dia… e uma infinita madrugada está para regressar,
E abraço a noite, como te
abraço… lentamente…
E penso, e sonho…
E muito lentamente
olho-te e percebo que tens uns olhos lindos…
Gosto de olhar os olhos e
deles receber as estrelas da manhã…
E penso, muito, que não
devia pensar,
Mas penso,
E sonho,
Sonho que penso,
Penso no que sonho…
E alguns dirão; está
louco,
Às vezes, penso,
Penso muito, meu amor, às
vezes penso de onde vêm estas imagens que semeio nas telas e em pequenas
folhas,
Às vezes, penso,
Penso muito meu amor…
Penso que às vezes a
escuridão é uma óptima companhia,
Depois, meu amor, penso…
O que dirá o gladíolo
para a tulipa!
Ou será que estão ambos
quase abraçados…
E nada dizem,
Ou será que dizem?
E eu, penso, penso muito,
meu amor…
Penso que há dias de
chuva loucamente felizes,
E que há dias de sol que
são uma autêntica merda,
E uma criança fica
encantada com um brinquedo…,
Mesmo que não tenha
qualquer valor comercial…
Porque ainda há crianças
que não sabem o significado de brinquedo,
Tive-os, muitos.
Destruía-os…
(dizem que saí ao tio
António, mal recebia um brinquedo destruía-o imediatamente…
E quando lhe perguntavam,
era para ver como era por dentro)
Eu fazia o mesmo,
Tive-os,
Muitos…
Mas muitos não os
tiveram,
E alguns que os tiveram…
Viviam em casas
assombradas;
Felizmente a minha casa
nunca foi assombrada,
E penso.
E sonho,
Sonho muito, meu amor,
Sonho e penso, que fazer
com todas estas imagens…
E sonho que penso,
Quando depois de pensar o
que sonhei…
Nada;
Fecho a janela e hoje não
me apetece mais olhar o mar.
Cansei-me, hoje, meu amor…
cansei-me do mar.
E penso,
E dou comigo a pensar,
Que sonho,
Mas não,
Só poderei estar a
sonhar.
Alijó, 14/05/2023
Francisco Luís Fontinha