domingo, 14 de maio de 2023

Às vezes, meu amor, às vezes penso e sonho…

 Às vezes, penso,

Penso muito, meu amor, às vezes penso de onde vêm estas imagens que semeio nas telas e em pequenas folhas,

Às vezes, penso,

Penso muito, meu amor,

De onde vêm todas estas palavras que escrevo,

De onde vêm todas estas imagens e todas as palavras,

 

Às vezes, meu amor, às vezes sinto o medo…

O medo de que estas imagens se abracem a mim

E algum idiota me diga que estou louco…

Mas não será essa loucura com que nos apelidam…, a melhor forma de sonhar o mundo?

Às vezes, meu amor, às vezes penso e sonho…

 

Penso que estou a sonhar,

Muitas vezes sonho que estou a pensar,

Às vezes penso,

Penso e dizem-me que não devia pensar, tanto…

Mas penso,

Mas sonho,

Sonho que penso que nenhuma criança terá fome,

Penso que sonho que nenhuma mulher será espancada…

E penso, penso muito, meu amor…

 

Penso e imagino a alvorada,

Sonho e penso, quando se despede de mim o luar…

Penso, meu amor, penso muito,

Que não devia pensar tanto,

Penso por que razão todas estas imagens e palavras fizeram parte das minhas brincadeiras em criança,

Penso, meu amor,

Penso muito, penso que se despede o dia… e uma infinita madrugada está para regressar,

E abraço a noite, como te abraço… lentamente…

 

E penso, e sonho…

E muito lentamente olho-te e percebo que tens uns olhos lindos…

Gosto de olhar os olhos e deles receber as estrelas da manhã…

 

E penso, muito, que não devia pensar,

Mas penso,

E sonho,

Sonho que penso,

Penso no que sonho…

E alguns dirão; está louco,

 

Às vezes, penso,

Penso muito, meu amor, às vezes penso de onde vêm estas imagens que semeio nas telas e em pequenas folhas,

Às vezes, penso,

Penso muito meu amor…

Penso que às vezes a escuridão é uma óptima companhia,

Depois, meu amor, penso…

O que dirá o gladíolo para a tulipa!

Ou será que estão ambos quase abraçados…

E nada dizem,

Ou será que dizem?

 

E eu, penso, penso muito, meu amor…

Penso que há dias de chuva loucamente felizes,

E que há dias de sol que são uma autêntica merda,

E uma criança fica encantada com um brinquedo…,

Mesmo que não tenha qualquer valor comercial…

Porque ainda há crianças que não sabem o significado de brinquedo,

 

Tive-os, muitos.

Destruía-os…

(dizem que saí ao tio António, mal recebia um brinquedo destruía-o imediatamente…

E quando lhe perguntavam, era para ver como era por dentro)

Eu fazia o mesmo,

Tive-os,

Muitos…

Mas muitos não os tiveram,

E alguns que os tiveram…

Viviam em casas assombradas;

Felizmente a minha casa nunca foi assombrada,

 

E penso.

E sonho,

Sonho muito, meu amor,

Sonho e penso, que fazer com todas estas imagens…

E sonho que penso,

Quando depois de pensar o que sonhei…

Nada;

Fecho a janela e hoje não me apetece mais olhar o mar.

Cansei-me, hoje, meu amor… cansei-me do mar.

 

E penso,

E dou comigo a pensar,

Que sonho,

Mas não,

Só poderei estar a sonhar.

 

 

 

 

Alijó, 14/05/2023

Francisco Luís Fontinha

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