domingo, 5 de fevereiro de 2023

Viagem

 Poiso os meus braços

Nos teus braços,

 

Viajo nos teus lábios,

Pequena flor da madrugada,

Enquanto as árvores do meu jardim

Brincam nos teus olhos de mar,

 

Beijo o teu corpo,

Acendo a lareira do teu desejo,

 

Viajo nos teus lábios,

Incêndio das nocturnas noites de luar,

Presépio impresso em papeis de areia…

Poiso os meus braços,

Nos teus doces braços,

E a manhã é um cortinado colorido

Sem tristeza,

Sem nuvens…

Sem alarido.

 

 

 

 

Alijó, 05/02/2023

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Mão do sono

 Às vezes, são as palavras que não acordam,

Dormem profundamente no silêncio de uma flor,

Outras vezes, são as manhãs dos alegres sorrisos

Que descem do céu e poisam junto ao rio,

Às vezes, olho os pássaros que habitam no teu cabelo,

Árvore sofrida do Inverno…

 

E nas outras vezes,

Aquelas vezes em que esqueço, das vezes que recordo…

A mão do sono,

E percebo que de todas as vezes, tantas vezes,

O meu corpo balança nos teus lábios,

 

Dos teus lábios,

Que às vezes, de quase todas as vezes,

Roubo os beijos,

Todos os beijos que de tantas vezes…

Em todas as vezes,

Desenham em mim…

Escrevem em mim…

O pôr-do-sol,

 

Nas vezes que me sentei,

Nesta pedra de silêncio…

Desta pedra onde chorei;

Às vezes, são as palavras que não acordam,

Dormem profundamente no silêncio de uma flor,

Quando das tuas mãos, meu amor,

Das tuas mãos em delírio…

Regressam a mim as estrelas.

 

 

 

 

Alijó, 03/02/2023

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Sonho amar

 Se eu pudesse,

Desenhava o sol no teu olhar

Quando a manhã fria e submersa na minha mão

Corre calçada abaixo em direcção ao mar,

Se eu pudesse,

Poisava o luar nos teus seios prateados

Que durante a noite procuram os meus lábios…

Meus lábios… amordaçados,

 

Se eu pudesse,

Escrevia no teu corpo invisível das nocturnas noites em desejo,

Quando da janela do teu olhar

Regressam a mim as Primaveras em flor,

E num silêncio beijo

Erguia do chão as lágrimas de chorar,

E todas as palavras semeadas no teu púbis amanhecer,

 

Se eu pudesse,

Cantar, escrever, sonhar… ou voar na tua boca,

O sol que te vou dar,

O luar que em ti vou poisar,

Se eu pudesse adormecer,

Apenas…

Enquanto as sílabas estonteantes

Brincam nesta pequena folha em papel amarrotado…

 

Ai se eu pudesse…

Colher todas as flores deste jardim

E libertar todos os pássaros aprisionados,

Abraçar-te,

E por fim,

Pincelar o teu corpo com os poemas da madrugada,

 

Se eu pudesse, enfim…

Tudo o que desejo,

Tudo…

Sem mais nada,

 

Do sonho, acordava…

E tudo o que eu queria,

Que eu sonhava…

Já o faço,

Faço-o a cada dia.

 

 

 

Alijó, 02/02/2023

Francisco

Mar em minhas mãos

 Um corpo perdido no mar,

Um silêncio que poisa nos teus lábios,

E em cada ondulação em delírio,

Os teus braços me aprisionam ao sonho de voar…

 

E esse mar que beija os teus pés,

Que me traz a saudade

De todos os barcos invisíveis que desenhei,

De todos os barcos que olhei…

Do barco que sempre fui,

 

Esse corpo,

O teu corpo,

Despido pelas minhas mãos pinceladas em desejo,

Que escrevem,

Que pintam…

Que beijam as tuas madrugadas,

 

Esse corpo,

Esse corpo despido, nu… meu,

Esse corpo mergulhado no mar,

O meu mar,

O mar que transporto nas minhas mãos.

 

 

 

 

 

Alijó, 02/02/2023

Francisco

As mãos de Deus

 Nas mãos de Deus

Dorme o teu sorriso de esperança,

Das mãos de Deus,

Na despovoada madrugada,

Uma feliz criança

Semeia o seu olhar,

E encanta,

Os teus lindos lábios de doce mar,

 

Nas mãos de Deus

E da alma sagrada,

Há flores que brincam,

Flores que adormecem…

Das mãos de Deus

Há um grito na alvorada,

Silêncios parcos,

Silêncios de nada,

 

Nas mãos de Deus

Esconde-se a noite estrelar,

Nas mãos de Deus

Escondem-se as palavras;

Todas as palavras de amar.

 

 

 

 

Alijó, 31/01/2023

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Ardosia

 De Deus, nada sei.

Apenas que nas suas mãos,

Poisa um sorriso de luz,

Enquanto as madrugadas,

Depois das noites em luar,

Dormem pedacinhos de lábios de mel…

 

Há barcos imensos,

Dentro do Oceano do sono,

E Deus, sentado na sua poltrona,

Com um servocomando,

Brinca às escondidas com todas as flores,

Flores apaixonadas,

Flores que amam os barcos imensos,

E que são rimas do poema,

Flores esquecidas…

 

Se Deus quiser,

Tapa o sol com o cortinado da paixão…

 

Mas Deus não se mete nessas coisas,

Deus está preocupado com o silêncio do teu olhar

E com a solidão dos teus lábios,

 

De Deus, nada sei.

Apenas que nas suas mãos,

Poisa um sorriso de luz,

Enquanto as madrugadas

Fumam as palavras que escrevo na triste ardósia do teu cabelo.

 

 

 

 

 

Alijó, 01/02/2023

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Perdão

 Abraço-me a este rio ensonado,

Olho as montanhas do teu olhar,

Sento-me neste socalco abandonado…

À espera de que a lua me venha resgatar,

 

E se a lua me levar,

Deito fora a tristeza

E todo o silêncio do mar,

Abraço-me a este rio de enorme beleza,

 

E cruzo os braços no meu silenciar,

Acendo este cigarro invisível e inventado…

Que o meu corpo vai matar,

 

E se eu morrer nos lábios deste cigarro assassino,

Deste maldito cigarro envenenado,

Peço a Deus o perdão… que perdoe este pobre menino.

 

 

 

 

Alijó, 31/01/2023

Francisco Luís Fontinha