Em círculos
Que deixo de existir
Das pobres janelas em teu
doce olhar
Pequenos quadrados
Lábios que desejam o mar
Entre a planície e a
triste paisagem da paixão
E se o amanhã não acordar
Tal como as minhas
palavras
Se morrerem de enfarte
Na tua sanzala de amar
O corpo que voa
Enquanto em círculos
Deixo
Deixo de existir e apago na
minha mão
O desgraçado fogo da
insónia
Porque o beijo em
círculos
Senta-se junto ao rio
Um rasto de sémen nas
pedras parideiras
No uísque poema da
loucura
E sejamos justos
Sejamos honestos
Este dia em círculos
Os homens embrulhados no
sono
Há uma cama em desejo
Das sereias em cetim
A minha boca morde o
poema
Abandono a enxada que ama
a vinha doirada
Da tua alma camuflada
Dos incêndios às lágrimas
São sombras
São flores
São a espingarda em
abençoado cansaço
Longe de ti
Dos teus olhos minerados
E sinto a tua mão
Que arde no meu rosto
O medo
A fome que poisas no meu
peito
Em cigarros assassinos
Em cadeiras ao vime
sonhar
E um pobre defunto deseja
o mar
E o mar que ama
Chora
E dorme estátua de cera
Em círculos
E deito fora as minhas
mãos
E abandono este altar de
talha cansada
Onde habito e rezo
Depois chamo pela
madrugada
E recebo os teus lábios
Em círculos
Em desejo menina cantar
As canções do supremo
olhar
São palavras meu Deus
São as palavras do mar.
Alijó, 22/11/2022
Francisco