terça-feira, 22 de novembro de 2022

As palavras do mar

 Em círculos

Que deixo de existir

Das pobres janelas em teu doce olhar

Pequenos quadrados

Lábios que desejam o mar

Entre a planície e a triste paisagem da paixão

 

E se o amanhã não acordar

Tal como as minhas palavras

Se morrerem de enfarte

Na tua sanzala de amar

O corpo que voa

Enquanto em círculos

Deixo

Deixo de existir e apago na minha mão

O desgraçado fogo da insónia

Porque o beijo em círculos

 

Senta-se junto ao rio

Um rasto de sémen nas pedras parideiras

No uísque poema da loucura

E sejamos justos

Sejamos honestos

Este dia em círculos

Os homens embrulhados no sono

Há uma cama em desejo

Das sereias em cetim

A minha boca morde o poema

 

Abandono a enxada que ama a vinha doirada

Da tua alma camuflada

Dos incêndios às lágrimas

São sombras

São flores

 

São a espingarda em abençoado cansaço

Longe de ti

Dos teus olhos minerados

E sinto a tua mão

Que arde no meu rosto

O medo

A fome que poisas no meu peito

Em cigarros assassinos

Em cadeiras ao vime sonhar

E um pobre defunto deseja o mar

 

E o mar que ama

Chora

E dorme estátua de cera

Em círculos

 

 

E deito fora as minhas mãos

E abandono este altar de talha cansada

Onde habito e rezo

Depois chamo pela madrugada

E recebo os teus lábios

Em círculos

Em desejo menina cantar

As canções do supremo olhar

São palavras meu Deus

São as palavras do mar.

 

 

 

 

Alijó, 22/11/2022

Francisco

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